Milhares saíram à rua no Reino Unido para “travar o golpe” de Johnson contra o Parlamento

“Boris, tem vergonha”, gritou-se este sábado em mais de três dezenas de cidades britânicas, em protestos contra a forma como o primeiro-ministro está a tentar forçar a saída do país da União Europeia limitando a participação dos deputados no processo.

Protesto
Fotogaleria
Protesto contra a suspensão do Parlamento em frente a Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro britânico Vickie Flores/EPA
Fotogaleria
Protesto frente a Downing Street Vickie Flores/EPA
,Protesto
Fotogaleria
Henry Nicholls/REUTERS

Dezenas de milhares saíram este sábado à rua para defender a democracia e “travar o golpe” do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ao suspender o Parlamento. Fizeram-no em mais de três dezenas de cidades, Londres, Manchester, Leeds, York, Cambridge, Glasgow ou Belfast. Preencheram praças e até bloquearam uma estrada na Praça de Trafalgar e a Ponte Waterloo, em Londres, com três pessoas a serem detidas. 

A multiplicação das manifestações por todo o país não impediu que nas ruas de Londres estivessem, segundo a campanha anti-“Brexit” Another Europe Is Possible, mais de 100 mil pessoas. Por exemplo, em Bristol e Cambridge marcharam, respectivamente, cinco mil e 1200 pessoas, diz o Guardian, enquanto em Belfast foram umas poucas dezenas, relata o Belfast Telegraph. Os números variam bastante, conforme a capacidade de mobilização e implantação das várias organizações, entre as quais o Momentum, aliado do líder trabalhista, Jeremy Corbyn. “Boris Johnson, tem vergonha”, gritou-se nas ruas londrinas. 

“Boris Johnson é perigoso. A democracia não devia funcionar assim. Há ditadores em todo o mundo. Como é que as pessoas acham que conseguiram o poder? É assim que acontece: devagar e gradualmente”, alertou Jasmina Makljenovic, que saiu à rua em Cambridge, ao Guardian.

Em causa está a suspensão da Câmara dos Comuns entre 10 de Setembro e 14 de Outubro (23 dias úteis), pouco antes da data-limite para a saída da União Europeia, 31 de Outubro, e que Boris Johnson promete que acontecerá com ou sem acordo. A medida do primeiro-ministro – e decretada pela rainha Isabel II, como determina o protocolo – foi vista como tentativa de limitar o poder do Parlamento, ao dar aos deputados menos de duas semanas para impedirem uma saída sem acordo ao aprovarem legislação. Entretanto, há três processos em curso nos tribunais da Escócia, Irlanda do Norte e Inglaterra e uma petição, com mais de 1,5 milhões de assinaturas, para travar a suspensão.

Para Corbyn, a semana que vem é quando se vai decidir o tudo ou nada. “É a última hipótese e vamos fazer absolutamente tudo o que pudermos para evitar um ‘Brexit’ sem acordo e que o primeiro-ministro nos leve para as mãos de Donald Trump e um acordo de comércio com os Estados Unidos”, disse Corbyn aos manifestantes em Springburn, Glasgow. “Há muito trabalho de preparação a ser feito para a próxima terça-feira”, quando os deputados regressam de férias, garantiu.

Há longos meses que os partidos parlamentares não se entendem sobre qual o rumo a seguir no “Brexit” – não aceitaram o acordo assinado por Theresa May com a UE, mas também não concordam sobre um caminho alternativo. Mas a suspensão do órgão legislativo criou uma rara aliança na política britânica, quando se dividem sobre tudo o resto. Trabalhistas, verdes, democratas liberais, nacionalistas escoceses, movimentos sociais e campanhas a favor da permanência na UE, todos se uniram nas ruas de todo o país numa mensagem comum.

“Fecham o Parlamento, nós fechamos as ruas”, disse Caroline Russell, deputada municipal de Londres pelos Verdes, em Trafalgar. Dezenas de manifestantes sentaram-se numa das estradas da praça e bloquearam-na e, depois, a Ponte Waterloo, com a polícia a retirá-los pacificamente da praça. Três pessoas foram detidas, revelaram as autoridades. E o movimento Another Europe Is Possible apelou a manifestações diárias.

Johnson esteve no centro das críticas. “Tudo o que ele quer é estar no poder. Devemos enfrentá-lo”, disse Stephen Williams, antigo deputado por Bristol West, na manifestação da cidade. “A democracia nunca é um evento único, seja um referendo ou uma eleição”.

Houve até quem chamasse ao primeiro-ministro “ditador”. “Derrotámos ditadores na nossa história e vamos derrotar este ditador”, disse John McDonell, o ministro das Finanças “sombra” do Partido Trabalhista, em frente a Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro, em Londres. “Esta é uma luta pela democracia”.

Sugerir correcção
Ler 33 comentários