Fim: a Vanessa bazou para Londres e é agora amiga do BoJo

A Vanessa foi para Londres com o Cavia, que tem um amigo que é amigo do Boris Johnson. Está a divertir-se imenso a congeminar o pós-Brexit. Espero que fique por lá

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Durante algum tempo não dei muita importância. A Vanessa deixou de me telefonar e senti até um certo alívio. Devia estar tudo bem, só podia estar tudo bem, de certeza que estava tudo bem. Ela tinha passado a contentar-se com o Cavia e parece que isso não faz mal à saúde. Eu tenho a minha vida, o jornal, pouco tempo livre e todas as noites tenho pesadelos com queijos desde que descobri a intolerância à lactose.

Há uns dias sonhei que o Luís Afonso me trazia um queijo de Serpa daqueles muito malcheirosos e eu, em vez de lhe agradecer reconhecidamente, desatava aos gritos e acusava-o de ser um provocador. Uma vergonha. Eu adoro o Luís. Como era possível fazer uma coisa destas sabendo que passear Serpas até Lisboa é para ele um sacrifício enorme.

O problema é que a seguir ao pesadelo com o Luís sonhei que a Vanessa tinha morrido com uma faca de queijo na mão. A imagem era hedionda: era mesmo ela, deitada no chão da cozinha, morta ao lado do caixote do lixo, e com a tal faca na mão. Acordei com um mal-estar horrível, suores frios, taquicardia, a panóplia completa.

A questão é que eu sabia que não tinha gritado com o Luís Afonso. Tinha a perfeita consciência de que, nos últimos tempos, nenhum queijo de Serpa se tinha cruzado nos nossos caminhos. Mas o que não sabia era se a Vanessa estava viva ou morta.

Pus os óculos para ir lavar a cara. Tirei os óculos para lavar a cara. Voltei a pôr os óculos. Fui para a cozinha, liguei a máquina do café, olhei para o meu caixote do lixo e voltou-me a imagem da Vanessa morta. E a faca do queijo. A intolerância à lactose enlouquecia?

Tinha que lhe telefonar. Bebi o café a pensar que depois do fim dos queijos, do pão com manteiga e da cerveja - entre quase tudo o que é bom de comer - também acabará o café até, finalmente, o meu corpo só permitir a alimentação a soro.

Liguei com o sacramental “Então estás boa?”

- Óptima! Nunca estive tão bem! A sério, isto é maravilhoso! Tomei uma óptima decisão.

Pelo menos não estava morta.

- Que decisão, desculpa?

- Vir para Londres! Vou ficar por cá. O Cavia tem um amigo que é amigo do Boris e isto está a ser uma delícia! O BoJo é de chorar a rir, tem uma piada do caraças. Não imaginas o que a malta se diverte a congeminar o pós-Brexit!!! O Boris anda agora chateado com o Sadiq Javid, o tipo do Tesouro, mas tem razão. Se não for o Boris a controlar tudo há chatice. Ele já nos convenceu a todos que depois de 31 de Outubro é que isto vai ser giro a valer. Como é que dizia o outro gajo que também se chamava Johnson e uns tories dizem que também é um modelo do Boris?

- Samuel Johnson.

- Isso. O tipo dizia que quem está cansado de Londres está cansado da vida porque Londres tem tudo o que a vida tem para dar! E tem! Nunca estive tão feliz. Portugal é chato. Acho que ninguém me apanha outra vez aí.

Boas notícias: nem a Vanessa estava morta nem eu teria que voltar a aturá-la.

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