Apple pede desculpas por ter ouvido áudio captado pela Siri

Empresa promete privacidade aos utilizadores. Mas não garante que deixará de fazer gravações por engano.

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Como outros assistentes, a Siri está sempre à espera de ser activada Shannon Stapleton/Reuters

A Apple pediu desculpas aos utilizadores por ter contratado humanos para analisar gravações de áudio captadas pela assistente digital Siri. Os excertos incluíam interacções com a Siri, mas também conversas e até momentos íntimos dos utilizadores, que a empresa disse terem sido captados por engano.

“Na Apple, acreditamos que a privacidade é um direito humano fundamental”, começa a Apple por dizer, num comunicado publicado no seu site e que não é assinado. O texto explica que, após as notícias recentes de falhas de privacidade, a empresa decidiu fazer alterações à forma como a Siri funciona: as gravações só serão analisadas com a autorização dos utilizadores e apenas funcionários da empresa, e não trabalhadores externos, terão acesso ao conteúdo.

“Como resultado da nossa análise, apercebemo-nos que não temos estado à altura dos nossos ideais, e por isso pedimos desculpas”, escreveu a empresa.

A Siri faz parte da gama de aparelhos da Apple, como o iPhone, o relógio Watch, os computadores Mac e as colunas inteligentes Home. Como outros assistentes digitais, pode ser activada e controlada por voz, e serve, por exemplo, para tocar música, fazer pesquisas online, enviar mensagens ou iniciar chamadas. Para além de poder ser usada para os serviços da Apple, também os criadores de aplicações podem recorrer à Siri para que as suas aplicações possam ser controladas por voz.

Nos meses recentes, foi noticiado que muitas grandes empresas tinham humanos a ouvir áudio captado pelos seus serviços, com o objectivo de melhorar o desempenho da tecnologia. Foi o caso da Amazon (cuja assistente Alexa está integrada nas colunas Echo), do Google (que tem o Google Assistant, tanto nos telemóveis como em colunas inteligentes), do Facebook (cujas aplicações Messenger e WhatsApp permitem o envio de mensagens de voz) e da Microsoft (que tem a assistente Cortana e é dona do Skype).

No caso da Apple, o jornal The Guardian noticiou no início do mês que a empresa contratava trabalhadores externos para ouvir excertos de áudio, que muitas vezes eram gravados quando os utilizadores não estavam a interagir com a Siri e sem que estes o soubessem. Um daqueles trabalhadores disse ao jornal que ouvia regularmente “informação médica confidencial, negócios sobre tráfico de drogas, e gravações de casais a fazer sexo”.

Na sequência da notícia, a Apple disse que aquelas gravações tinham sido feitas por engano e que ia suspender a prática de análise de áudio feita por humanos.

No comunicado agora divulgado, a empresa afirma que vai alterar o processo de avaliação da qualidade da Siri: “Em primeiro lugar, por defeito, não vamos manter gravações áudio das interacções com a Siri. Vamos continuar a usar transcrições geradas por computador para ajudar a Siri a melhorar.” Os utilizadores, contudo, poderão permitir que as suas interacções com a assistente sejam enviadas para análise.

A Apple vai também deixar de contratar trabalhadores externos: “Apenas funcionários da Apple terão permissão para ouvir amostras áudio das interacções com a Siri.”

Porém, a empresa não garante que as gravações por engano deixem de acontecer: “A nossa equipa vai trabalhar para apagar quaisquer gravações que se conclua serem uma activação inadvertida da Siri.” Tal como outros assistentes digitais, a Siri está permanentemente a analisar o som em torno dos equipamentos, para poder captar eventuais comandos de voz do utilizador.

As notícias sobre a Siri surgiram quando a Apple se prepara para o evento que faz anualmente em Setembro e no qual revela novos produtos, incluindo os novos modelos do iPhone.

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