Tais Quais, novidades com “toque nostálgico” a respeitar a tradição

Os Tais Quais forjaram novas aventuras e, entre originais e recriações do cancioneiro alentejano, têm novo disco. Vão apresentá-lo ao vivo esta quarta-feira em Montemor-o-Novo, às 22h, na abertura oficial da Feira da Luz.

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OS Tais Quais: da esquerda para a direita, João Gil, Vicente Palma, Tim, Celina da Piedade, Vitorino, Paulo Ribeiro, Sebastião Santos e Jorge Serafim RITA CARMO

Tudo começou por um convite, em 2014. A Câmara Municipal de Serpa quis patrocinar um espectáculo para dar alento à candidatura do cante alentejano a património imaterial da humanidade. João Gil tomou em mãos a tarefa, reuniu um grupo de músicos ligados ao Alentejo (por nascimento ou ascendência) e do espectáculo realizado em Junho desse ano em Serpa, na Praça da República, nasceram os Tais Quais: João Gil, Jorge Palma, Tim, Celina da Piedade, Vitorino, Paulo Ribeiro, Sebastião Santos e Jorge Serafim.

“Ele quis pôr aquilo em contexto, fazer com que o espectáculo efectivamente pertencesse a Serpa e ao Alentejo. E não pensou só num grupo de convidados, pensou em formar uma banda”, recorda ao PÚBLICO Sebastião Santos, um dos fundadores (e filho de Tim, dos Xutos). Jorge Serafim, actor e autor de várias obras para o público infanto-juvenil, confirma: “O João quis reunir várias gerações. E queria algo diferente, que não fosse só um desenrolar de músicas, mas, e esse foi o meu caso, que tivesse um narrador, um contador de histórias, um mestre-de-cerimónias que fizesse a ponte entre canções.”

Reescrever o cancioneiro

A experiência correu bem, tal como a candidatura: na manhã de 27 de Novembro de 2014 a Unesco anunciava que o cante alentejano já era património imaterial da humanidade. E os Tais Quais continuaram: “Houve vários concertos depois disso e foram uma festança muito bonita”, diz Jorge. “Há um reescrever, ou reorquestrar, do cancioneiro tradicional; há temas novos; há esta coisa de pôr um narrador a contar contos e isso toca nas pessoas, cria uma empatia com o público muito interessante. Porque eles cantarolam tudo, mesmo os temas que não conhecem.” Houve até um episódio que o marcou, num concerto em Beja, no Cine-Teatro Pax Julia: “Quando acabámos, com um tema do cancioneiro, Vamos lá saindo (por esses campos fora), para não ser a mesma coisa começámos com um piano lindíssimo do Vicente, cantámos uma quadra (já se percebia a intenção) e quando demos meia volta para sair do palco, começámos a ouvir as pessoas, 600 e tal, de pé, a continuar o resto. Foram elas que acabaram o espectáculo. Nunca me tinha acontecido isto na vida.”

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As capas dos discos de 2015 e 2019

O primeiro disco, Os Fabulosos Tais Quais, foi lançado em 2015. E em 2017 surgiu um novo título, Ao Vivo no Tivoli, CD+DVD, com uma alteração na formação do grupo: saiu Jorge Palma (com a agenda ocupada na digressão com Sérgio Godinho) e entrou Vicente Palma. Uma troca de pai por filho, que se manteve no terceiro, As Novas Aventuras dos Tais Quais, lançado em 2019. “O primeiro foi disco de ouro”, diz Jorge Serafim. “O segundo, gravado no Tivoli, ao vivo, com a casa esgotada, também vendeu bem. Deste aqui ainda não temos números.”

Mas têm outra coisa: o disco novo conta com “letras de quase todos”, diz Sebastião. Abre com Menina Florentina, que “foi a ponte que se fez com o que vinha de trás”, acrescenta Jorge, sublinhando que há nas canções várias referências aos problemas do quotidiano: “Havia a necessidade de dizer coisas, de pôr os pontos nos ii. Os Filhos e netos é uma letra que fala dos filhos que partem e já não voltam e das casas que ficam vazias.” O disco tem outros temas do cancioneiro (como Penteei o meu cabelo), originais com um só autor ou escritos em parceria, duas histórias contadas por Jorge Serafim (Cinema e Antigamente) e até uma versão que um tema que Elis Regina celebrizou: Fascinação.

“Não há cá vaidades”

Sendo músicos com carreiras individuais ou noutros grupos, a necessidade de tornarem útil o tempo que passam juntos é maior. “Quando se tem muita gente a cantar, como nos Tais Quais, isso consome mais tempo de execução em estúdio”, diz Sebastião. Mas Jorge esclarece que contornam esse obstáculo “O tempo em que estamos juntos é muito bem rentabilizado. Às vezes encontramo-nos às 10 da manhã e só saímos às 10 da noite”.

O grosso do trabalho deste disco foi feito em Abril. Mas há algumas coisas que já vinham de trás, dos seis concertos que o grupo deu no Teatro Villaret, em Lisboa, entre 9 e 17 de Abril de 2018. “Eram concertos-ensaio, onde foram apresentados alguns temas novos.” Sebastião: “A maioria dos originais normalmente aparecem com o foco de irem para o disco e depois irem para a estrada. Porque, com as agendas individuais, não ficamos assim com tanto tempo. Termos gravado este disco já foi um esforço de eficácia.”

Jorge Serafim diz que há algo que caracteriza os Tais Quais: “Apesar de haver no grupo nomes icónicos da música portuguesa, ali estamos todos no mesmo patamar, desde o início. É tipo cooperativa e é um bem-estar. Não há cá vaidades disto nem daquilo.” E sublinha outro traço distintivo: “Nós fazemos espectáculos com temas do cancioneiro alentejano e temos várias gerações a cantar isso. As pessoas sentem-se agradecidas.” Sebastião Santos concorda: “Há um toque nostálgico nos Tais Quais, um respeito pela tradição. No fundo, é fazer com que essas canções tenham uma segunda vida.”

Os Tais Quais actuam esta quarta-feira, pelas 22h, na abertura da Feira da Luz, no Palco Central do Parque de Exposições de Montemor-o-Novo.

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