Lisboa: megaprojecto na Pedreira do Alvito avança pela mão de grupo chinês

Empresa imobiliária comprou terrenos para onde existem planos há pelo menos 16 anos e prevê um investimento total de 300 milhões de euros. “É um terreno expectante há demasiado tempo”, diz o presidente da Junta de Freguesia de Alcântara.

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Terrenos foram sendo ocupados por sucatas e outras construções Pedro Fazeres

Uma empresa imobiliária chinesa comprou um vasto terreno no Casal do Alvito, em Lisboa, e quer construir o empreendimento de grandes dimensões que está previsto há anos para aquele local. O projecto contempla a construção de 550 fogos de habitação (25% dos quais a integrar num programa de arrendamento a custos controlados), escritórios e comércio.

Os 14 hectares agora adquiridos pelo EMGI Group ao Millenium BCP correspondem à antiga Pedreira do Alvito, zona para a qual existe um plano de pormenor aprovado pela câmara de Lisboa em 2015 e corrigido em Março deste ano. Esse plano contempla a construção de dez edifícios com quatro, cinco e sete pisos à superfície e duas caves, o que perfaz uma área total superior a 121 mil metros quadrados.

O EMGI Group será responsável por quase todos eles. Num comunicado enviado esta terça-feira às redacções, a consultora JLL, que mediou a venda, informa que está em causa “um programa imobiliário misto de 87 mil metros quadrados de habitação, 22 mil metros quadrados de escritórios e 11 mil metros quadrados de retalho, complementados por 900 lugares de estacionamento”.

Gonçalo Santos, responsável da JLL, esclareceu ao PÚBLICO que a arquitectura “ainda não está feita”. Isto significa que o projecto não chegou aos serviços de Urbanismo da câmara e que, por isso, a construção propriamente dita ainda pode demorar muitos meses até começar.

Há pelo menos 16 anos que se ouve falar de um megaempreendimento para a antiga Pedreira do Alvito, que ao longo de décadas foi sucessivamente ocupada por armazéns, sucateiros e casas. O plano de pormenor esteve a ser trabalhado na autarquia durante muito tempo e teve várias versões. Chegou mesmo a ser rejeitado na assembleia municipal, pois os deputados consideraram, entre outras coisas, que a volumetria prevista era excessiva e que os equipamentos públicos estavam mal localizados.

O plano em vigor foi aprovado em Dezembro de 2015 apenas com a abstenção do PSD, contemplando, além dos edifícios, quase 50 mil metros quadrados de espaços verdes e alguns equipamentos públicos. No comunicado, a JLL diz que o EMGI Group se responsabilizará pela construção de “uma escola e um lar de 3ª idade”.

“Tínhamos um problema, as pessoas todas que ali moravam”, recorda ao PÚBLICO o presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, Davide Amado, que já ocupava o cargo quando o plano de pormenor foi debatido e votado na assembleia municipal. “Interviemos na altura, colocámos os nossos serviços jurídicos à disposição das pessoas e, segundo sabemos, tudo correu bem.” Todos os ocupantes já terão saído daquele local.

O projecto Encosta da Tapada, assim se chama o futuro empreendimento, foi lançado por uma empresa com o mesmo nome em 2003, depois de esta ter comprado os terrenos por 16,5 milhões de euros aos muitos herdeiros da antiga pedreira. Na época apontava-se o início das obras para esse ano ou para o seguinte, mas o terreno acabou por vir à posse do Millenium BCP, que há cerca de dois anos o pôr à venda por 34 milhões de euros. O valor exacto da venda ao EMGI Group não é conhecido: a JLL diz apenas que aquisição, projectos, infra-estruturas, licenciamento e construção rondarão os 300 milhões de euros.

“É um terreno expectante há demasiado tempo”, opina Davide Amado. “Com 25% de fogos com rendas acessíveis, tomáramos nós que tivesse havido mais projectos destes na última década”, acrescenta o autarca. Gonçalo Santos garante que o Encosta da Tapada se destina fundamentalmente à “classe média portuguesa”, mas explica que “ainda falta definição” sobre os moldes em que funcionará a componente de arrendamento controlado, pois o Programa de Renda Acessível (de iniciativa municipal) tem ainda de “sofrer adaptações para situações em terreno privado”.

Este será, assim, o primeiro investimento do EMGI Group em Lisboa fora do segmento de luxo, no qual se tem focado nos tempos mais recentes.

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