O grupo que se meteu com a direita radical alemã e foi declarado terrorista

Colectivo de artistas ergueu réplica de memorial criticado por político em frente à casa deste. O que se seguiu foi impensável.

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A réplica do memorial que os artistas fizeram em frente à casa de Björn Höcke Patryk Witt/Zentrum für Politische Schönheit (ZPS)

Um colectivo de artistas que quer “tornar a política divertida de novo”, apostando no choque, acabou a ser investigado por suspeitas de terrorismo ao lado de organizações como o Daesh ou a Frente al-Nusra. Tudo por uma iniciativa de provocação a um político de extrema-direita.

O que levou o colectivo chamado Centro para a Beleza Política (ZPS) a agir foi uma declaração de Björn Höcke, a figura da ala mais extremista da Alternativa para a Alemanha (AfD direita radical), criticando o memorial do Holocausto e a política da Alemanha em relação à II Guerra. “Nós, alemães, somos o único povo do mundo que tem um monumento de vergonha no coração da sua capital”, disse Höcke.

O grupo encontrou um terreno perto da casa de Höcke, em Bornhagen, no estado federado da Turíngia (Leste), e planeou uma das suas acções: construiu uma réplica do memorial em frente à casa do político e fingiram estar a vigiá-lo durante esse trabalho.

Höcke reagiu dizendo que o ZPS “não é um grupo de artistas, mas uma organização criminosa, até mesmo terrorista”.

Tudo aconteceu no final de 2017. Em Abril deste ano soube-se que, passados quatro dias, o grupo foi incluído numa lista de potenciais terroristas pelo procurador do estado, recorrendo a uma lei que se aplica quando há suspeitas de que alguém está a planear um crime especialmente grave. Nunca um grupo de artistas tinha sido investigado na Alemanha moderna.

“Foi um choque para nós”, disse ao PÚBLICO Cesy Leonard, uma das três pessoas na direcção do ZPS, num simpósio organizado pelo Goethe Institut em Weimar. “O que fazemos é arte e política de um modo muito radical mas sempre sem qualquer violência”, sublinhou. 

A lista em que ZPS foi incluída permite aos serviços de segurança internos “plantar infiltrados no grupo”, exemplificou Leonard. Para quem já tem de ter várias precauções para garantir a sua segurança, como manter a morada invisível nos registos públicos, esta perspectiva foi “assustadora”.

Quando a informação foi divulgada provocou uma enorme onda de condenação e o grupo foi retirado da lista. Um responsável político disse que a investigação nunca tinha passado para uma fase activa.

Mas na altura a porta-voz do ZPS, Tilda Rosenfeld, perguntou à emissora alemã Deutsche Welle: “Qual foi a motivação política do procurador que lançou a investigação? Porque continuou durante tanto tempo? Porque é que o Governo federal não reagiu, sendo que há prova de que foi informado?”

O escândalo aqui, disse Leonard, “é também termos em instituições do Estado pessoas que são de extrema-direita”.

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