Douro inicia vindimas e estima aumento de produção de 30%

Estimativas apontam para que produção de vinho em 2019/2020 atinja um volume de 6,7 milhões de hectolitros, o que se traduz num aumento de 10% relativamente à campanha anterior.

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LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA / ARQUIVO

O Douro está a iniciar as vindimas e prevê um aumento de produção na ordem dos 30% nesta campanha, mas na região verificam-se cada vez mais dificuldades em recrutar mão-de-obra para o trabalho na vinha. A vindima culmina um ano de trabalho e é considerada a época alta da mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo. As vinhas enchem-se de vindimadores e, a região, de turistas que querem ver e até participar no corte das uvas.

A Quinta do Vallado, no concelho de Peso da Régua, distrito de Vila Real, foi uma das primeiras da região a arrancar com a vindima. Primeiro cortam-se as uvas brancas, seguindo-se, dentro de dias, as uvas tintas. A propriedade possui uma equipa que trabalha o ano inteiro e, nesta altura, recorre também aos empreiteiros agrícolas e contrata directamente pessoas das aldeias próximas.

Francisco Ferreira, responsável pela gestão agrícola e de produção do Vallado, assinalou a mão-de-obra como “uma dificuldade” e referiu que se nota que, de ano para ano, mais pessoas saem da região e menos querem trabalhar na agricultura.

Com o aumento estimado da colheita, na ordem dos 30% em toda a região demarcada, as carências de mão-de-obra poder-se-ão também intensificar. Fátima Carvalho, com 63 anos, trabalha para a Agropenaguião, uma empresa que fornece mão-de-obra para as actividades agrícolas. É de Ancede, em Baião, e disse à agência Lusa que se levanta às 3h30 para se preparar, fazer a merenda e apanhar a carrinha para viajar para o Douro. “Fui sempre habituada na agricultura e já não me custa nada. Não consigo estar em casa”, contou.

António Costa tem 56 anos, é de Barrô, no concelho de Resende, levanta-se todos os dias às 5h e regressa a casa por volta das 19h. António coordena os vindimadores do empreiteiro na Quinta do Vallado e disse também que “é cada vez mais difícil arranjar mão-de-obra no Douro”, principalmente nestas alturas em que o trabalho se intensifica. “O pessoal novo não quer e são os mais antigos que aqui andam. Vê-se pouca juventude na vinha”, referiu.

Verónica Cardoso é trabalhadora afecta à Quinta do Vallado, tem 26 anos, é natural de Santo Xisto e uma das mais novas que estava nesta vindima, garantindo que gosta de “trabalhar na vinha e ao ar livre”. “Nasci no meio das vinhas e acabei por ficar por cá”, frisou. Maria Lucília, 64 anos e natural de Loureiro, na Régua, faz vindimas desde que era pequena e sublinhou “que não custa nada” e que gosta do corte das uvas.

Segundo dados revelados pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), no Douro espera-se uma produção na ordem dos 1,6 milhões de hectolitros de vinho, enquanto no ano passado foi de 1,3 milhões de hectolitros. O aumento será na ordem dos 30% face ao ano anterior e de 16% relativamente à média dos últimos cinco anos.

Na Quinta do Vallado prevê-se um aumento da produção de cerca de 10% comparativamente com 2018, no entanto ressalvou que, no ano passado, a quebra aqui também foi “pouco significativa”.

O responsável, Francisco Ferreira, referiu que em termos quantitativos, este será um “ano ligeiramente acima da média” e explicou que, por causa da pouca chuva, o bago está um pouco pequeno, no entanto esse factor poderá dar “alguma concentração e qualidade à uva”. “Em termos sanitários foi um ano bom, praticamente sem problemas”, frisou. De acordo com o IVV, na região de produção de vinho do Porto e do Douro o “míldio manifestou-se de forma pouco intensa, não afectando de uma forma geral, a produção”.

O instituto referiu ainda que “as condições climáticas verificadas, com destaque para o mês de Junho, com humidade relativa elevada e dias encobertos, contribuíram para a propagação do oídio, mas sem impactos significativos na produção”. Em contrapartida, no ano passado verificaram-se situações de granizo, míldio e escaldão, o que se reflectiu na produção final.

Em todo o país, de acordo com o IVV, estima-se que a produção de vinho na campanha 2019/2020 atinja um volume de 6,7 milhões de hectolitros, o que se traduz num aumento de 10% relativamente à campanha 2018/2019 e 4% em relação à média dos últimos cinco anos.

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