A invenção da Pré-História, a modernidade e a crise do museu

Num momento em que os museus de arte contemporânea atravessam uma crise de identidade, o Centro Georges Pompidou, em Paris, propõe a exposição Préhistoire, une énigme moderne que revisita a importância da invenção da Pré-História para a cultura moderna, a brutalidade do novo e o pavor da extinção da espécie humana na era industrial. O Pompidou ensaia os princípios de uma nova cultura, inevitavelmente pós-antropocêntrica.

Foto
©Ami Drach e Dov Ganchrow/©Centre Pompidou, Mnam/Cci, fotografia: Audrey Laurans/Dist. RMN-GP

Quando o Centro Georges Pompidou inaugurou em 1977, o projecto havia enfrentado contestação pública e o edifício de Renzo Piano e Richard Rogers era depreciado como uma refinaria de petróleo num “quartier du vieux Paris”. Cem anos antes da edificação do Pompidou, a construção da Paris moderna sob o Segundo Império (1852-1870), num plano urbanístico de ambição romana conduzido pelo barão Haussmann, obrigou à demolição de bairros inteiros, ao desmantelamento de cemitérios e à trasladação de milhares de ossadas anónimas para os corredores subterrâneos das catacumbas onde ficaram, até hoje, amontoadas. A imaginação popular compadeceu-se das almas desassossegadas dos antepassados e viu-as magoadas, a vaguearem sem domicílio, dando origem a narrativas sombrias de inspiração gótica em que se inclui certamente a do fantasma da Ópera. A comoção colectiva diante da fúria do progresso é contemporânea do florescente interesse pelos fenómenos espíritas na Europa deste período e que são indissociáveis das origens da fotografia. Só no século XXI, autores como Rosalind Krauss prestaram a devida atenção — analisando, numa perspectiva sociológica, práticas marginais destituídas de vocação artística — a esta história recalcada, mas relevante para a compreensão da evolução do médium fotográfico.

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