Xangai, comunismo versus capitalismo

O leitor Mário Menezes partilha a sua experiência na megalópole chinesa.

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Mário Menezes
,Partido Comunista da China
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Xangai é uma megalópole com quase 25 milhões de habitantes, mencionada em muitos compêndios de geografia como a maior cidade do mundo. Ultramoderna, é servida por uma rede de metropolitano com mais de 600Km em que viajam mais de 10 milhões de passageiros diariamente.

A Xangai é possível chegar aterrando num dos seus dois aeroportos internacionais; ou de comboio, à gare de Hongqiao, que mais parece um grande aeroporto internacional. Os cerca de 1400km que a separam da capital Pequim percorrem-se em menos de cinco horas.

É o expoente máximo do capitalismo e do consumismo. Nas ruas, em filas intermináveis, circulam largas centenas de viaturas alemãs de alta cilindrada; há hotéis e restaurantes de charme e um paraíso de compras onde sobressaem as muitas lojas de roupa dos melhores costureiros e sete lojas da Apple, a marca de smartphones mais procurada pelos chineses.

Desfrutar desta cidade à luz do sol e às luzes da noite é uma experiência fascinante. Passear em multidão pela Rua Nanjing, a principal artéria comercial, caminhar pela rotunda pedonal do ultramoderno centro financeiro de Lujiazui, onde nos sentimos no centro do mundo, e observar de perto os brutais arranha-céus com arquitectura radical ao bom estilo moderno asiático do século XXI, e depois observar todo este centro financeiro desde o Bund, o centro histórico, onde estão sediadas muitas instituições bancárias, que fica do outro lado do rio Huangpu, afluente do Yangtze. Aqui predominam os edifícios de arquitectura europeia e não falta um touro igual ao de Wall Street. A poucos quilómetros fica a celebérrima antiga Rua Yuyuan, local onde, finalmente,  o nosso estereótipo de arquitectura tradicional chinesa pode ser encontrado nesta imensidão.

Passear por Xangai é a experiência perfeita para desfrutar dos contrastes entre os arranha-céus e aquelas ruas apertadas de estilo chinês. Na moderna zona da Expo 2010 destaca-se o Palácio de Arte da China, obra do arquitecto He Jingtang.

Não deixe de saborear a fantástica gastronomia, onde se destacam os dumplings acabados de fazer e as muito aromáticas sopas de noodles. Tudo isto é possível, em quatro dias, com muitas pernas para andar e com um orçamento limitado.

Mesmo existindo a barreira linguística, o povo chinês é muito humilde e atencioso, sobretudo com turistas ocidentais, a avaliar pelos pedidos que são feitos por muitos locais para posar para uma foto com um estrangeiro!

Quem diria que foi aqui que o Partido Comunista Chinês foi aqui fundado. Aconteceu num edifício com dois pisos, muito discreto. O número 76 da Rua Xingye, mesmo no bairro Xin Tian Di. Um bairro romântico, de construções de pedra, ao estilo de meados século XIX, composto por ruas estreitas. Hoje, além de área de diversão nocturna, possui cafés de marcas europeias e americanas e esplanadas, e constitui o local onde o metro quadrado é mais caro na China, superando cidades como Tóquio ou Nova Iorque.

Este edifício é um local de culto. Foi aqui que, a 23 de Julho de 1921, treze membros, com Mao Tsé-Tung à cabeça, realizaram o primeiro congresso nacional do Partido Comunista da China, marcando o nascimento do Partido. Algo que mudou o mundo!

A visita é gratuita, tal como na generalidade dos museus nacionais. Toca-nos profundamente. No interior é possível observar inúmeras relíquias revolucionárias, bandeiras do Partido Comunista Chinês, tudo material que fora da China é associado a repressão (a China também não é propriamente um país livre...), fotos e documentos desse tempo e um conjunto de figuras de cera dos membros do Partido que ouvem e sorriem perante o discurso do líder. Há um auditório onde são reproduzidos discursos em mandarim: sendo imperceptíveis para o turista estrangeiro, presume-se que é algo importante e grandioso pela reacção dos visitantes, fazendo vénias de forma emotiva e com enorme respeito. 

O Partido Comunista Chinês, com mais de 80 milhões de militantes, governa a China desde 1949.  Independentemente das cores políticas de cada um, há que ter em conta as circunstâncias e o enquadramento histórico em que o mesmo foi fundado, um contexto de revoluções e guerras mundiais que fustigavam o país. A História não se pode apagar. 

Mário Menezes

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