Bolsonaro pondera enviar militares para travar queimadas na Amazónia

Pressionado internacionalmente, o Presidente brasileiro desdobra-se em ordens para proteger a floresta. Bolsonaro fala ao Brasil esta noite.

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Bolsonaro tem-se concentrado em apontar o dedo em vez de encetar esforços para combater os incêndios que grassam no Brasil Reuters/ADRIANO MACHADO

Acossado por duras críticas, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, viu-se finalmente obrigado a agir para combater os fogos “descontrolados” que há duas semanas consomem territórios do país, com maior incidência na Amazónia. O chefe de Estado pondera enviar militares para impedir queimadas e a Câmara dos Deputados vai criar uma comissão externa para acompanhar o problema da vaga de fogos. 

Com a Amazónia a arder, Governo e os seus aliados no Congresso inverteram a postura de inacção e, esta sexta-feira, desdobraram-se em esforços para refutar as críticas de que têm sido alvo. O Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciou uma comissão externa para se analisar o impacto das queimadas, enviando para o terreno deputados. E o Presidente ordenou aos ministros que fizessem levantamentos dos incêndios na Amazónia e adoptassem medidas para preservar a maior floresta do mundo - o número de incêndios aumentou 83% no país até 19 de Agosto deste ano, se comparado com o ano anterior, num total de 72.843 incêndios.

Reunido de emergência em Brasília, o executivo foi chamado por Bolsonaro a decidir sobre o envio de militares dos três ramos das Forças Armadas para se impedirem mais queimadas na floresta. Está anunciada para a noite desta sexta-feira (hora brasileira) uma declaração ao país de Jair Bolsonaro.

Os militares dizem estar prontos para irem para o terreno e, esta sexta-feira, o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, alertou que tudo farão para defender a Amazónia, independentemente das ameaças que tenham pela frente. “Aos incautos que insistem em tutelar os desígnios da brasileira Amazónia, não se enganem: os soldados do Exército de Caxias estarão sempre atentos e vigilantes, prontos para defender e repelir qualquer tipo de ameaça”, disse o general, não explicando quem são os incautos.

Há semanas que Bolsonaro sublinha que a Amazónia é parte integrante da soberania brasileira, que as políticas por si decididas devem ser respeitadas e acusa países estrangeiros de se quererem apropriar das riquezas da floresta. “Soberania da região e suas riquezas é o que, verdadeiramente, está em jogo”, escreveu há uma semana no Twitter.

Com os ânimos exaltados, o chefe de Estado subiu o tom ao acusar ONG ambientais de estarem por detrás dos incêndios, em retaliação por lhes ter cortado subsídios, e envolveu-se em troca de acusações com o Presidente Francês, Emmanuel Macron, que disse que “a nossa casa está a arder”. 

Uma ingerência externa, considerou Bolsonaro, acusando o Presidente francês de ter uma “mentalidade colonialista descabida no século XXI”.

Para o jornal Folha de São Paulo, trata-se de um discurso com um eco no passado da ditadura militar - afirmar a soberania brasileira sobre a maior floresta do mundo, depois de ser acusado (por Macron) de “não respeitar os compromissos ambientais” e pondo os incêndios na agenda do G7 do fim-de-semana.

A narrativa contra potências externas é característica do Governo brasileiro. Na semana passada, o Presidente acusou a Alemanha de querer “comprar a Amazónia” por meio de doações financeiras para o Fundo Amazónia (em que a Finlândia também participava, os dois países cancelaram recentemente as doações devido a interferências do Governo) e outros países de se quererem “apoderar do Brasil”. Sugeriu que também as ONG podem estar a trabalhar e nome de interesses externos. 

Na década de 1960, o regime militar acusou associações ambientalistas brasileiras e potências estrangeiras de querem explorar as riquezas da floresta. O regime enviou as Forças Armadas para a Amazónia, para garantir o controlo da região. 

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