Igreja do Pópulo, em Braga, entra em obras para se ver livre das infiltrações

Construído a partir do final do século XVI, o templo barroco sofre com a água que escorre pelas paredes interiores quando chove, mas a primeira fase da sua requalificação arranca já em Setembro. A Igreja de São Vicente, outro Imóvel de Interesse Público em Braga, ainda está à espera.

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O telhado da igreja do Pópulo vai ter de ser substituído por causa das vibrações do tráfego automóvel André Rodrigues

Com a fachada principal virada para a Praça Conde de Agrolongo, bem no centro histórico de Braga, a Igreja do Pópulo respira século XVIII no seu interior, com as talhas e os azulejos da era barroca a ornarem as várias capelas com imagens de santos do catolicismo. A estrutura que suporta todo esse legado artístico começou, porém, a ser erguida em 03 de Junho de 1596, pelo então Arcebispo de Braga, Agostinho de Jesus. Cumpridos mais de 400 anos, o edifício vai ser requalificado para travar de vez a água da chuva que se infiltra pelas paredes e já chegou aos altares e ao órgão de tubos, no coro alto. “Sei que, de cada vez que chove, alguma coisa se está a perder na Igreja do Pópulo”, disse ao PÚBLICO Jesuíno Afonso, presidente da comissão administrativa da Celestial Ordem Terceira da Santíssima Trindade, entidade responsável pela manutenção do imóvel com classificação de Interesse Público desde 1977.

A primeira fase das obras deve começar em Setembro e estender-se até Maio ou Junho de 2020, com um custo de 316.000 euros, acrescentou. A intervenção vai incidir nas fachadas laterais e posterior do edifício, cujos problemas estão na origem das infiltrações de água. O telhado vai também ser intervencionado, já que o formato da telha “não se ajusta ao local onde se situa a igreja”. “De cada vez que estamos na secretaria e passa um autocarro na rua, as telhas tremem. Têm de ter outro formato”, explicou o responsável.

A queda do tecto da sacristia, pouco depois de ter assumido a liderança da comissão administrativa, em Novembro de 2016, levou Jesuíno Afonso a colocar a requalificação do Pópulo no topo das suas prioridades. Mas esta intervenção não resolve todos os problemas. Numa das guias sobre o altar-mor, há uma falha devido à queda de parte do granito. Já no corredor central, o chão, com madeira e pedra, está irregular, propício a quedas. “Temos problemas, num tempo em que a maior parte dos crentes já tem mais idade. Isto já tem sido remendado, mas não por pessoas que percebam do assunto”, disse o líder da Celestial Ordem Terceira.

Jesuíno Afonso, da comissão administrativa da Ordem Terceira André Rodrigues
Interior da igreja apresenta problemas evidentes André Rodrigues
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Jesuíno Afonso, da comissão administrativa da Ordem Terceira André Rodrigues

A recuperação dos espaços interiores está incluída na segunda fase do projecto, cujo investimento ronda os 600.000 euros, verba dependente da aprovação da candidatura ao programa Norte 2020, submetida antes de 31 de Julho de 2019, prazo limite. “Nessa fase, incluímos tudo o que está deteriorado, com excepção da arte sacra. Teríamos muito gosto em melhorar o órgão de tubos”, adiantou Jesuíno Afonso.

Além da segurança dos crentes que se deslocam ao Pópulo para as eucaristias, outra das metas do projecto de requalificação é o aumento do número de turistas. Depois das cerca de 20.000 visitas em 2018, Jesuíno Afonso estimou que a igreja e o convento adjacente, onde estão instalados alguns dos serviços da Câmara Municipal, podem receber cerca de 40.000 turistas até 2022, com visitas guiadas que incluam subidas à torre, caso o percurso seja aprovado. “Temos entrada livre e vamo-nos articular com escolas e com grupos para recebermos mais gente”, antecipou o responsável.

Antes de submeter a candidatura a fundos comunitários, a irmandade responsável pela Igreja do Pópulo assinou com a Câmara de Braga um protocolo para apoio técnico, aprovado na reunião do executivo municipal de 29 de Julho.

Tecto e telhado são problemas em São Vicente

Na mesma reunião, a autarquia bracarense viabilizou um outro protocolo semelhante, para a requalificação da Igreja de São Vicente, mas a data para o arranque das obras é ainda incerta. Construído desde o final do século XVII, com intervenções posteriores de André Soares e Carlos Amarante, reconhecidos arquitectos, o templo é Imóvel de Interesse Público desde 1986. A sua fachada principal, exemplo da transição do maneirismo para o barroco, guarda um altar-mor de talha dourada e uma nave onde sobressai o azul.

Faltam azulejos nas paredes, contudo. Esse é um dos males de que a igreja padece; os outros são a fragilidade da abóbada, a madeira do chão e o telhado, explicou ao PÚBLICO Angelina Ribeiro, presidente da Irmandade do Mártir São Vicente, entidade responsável pelo imóvel. “No telhado, houve substituição de telhas, mas o entulho que lá havia não foi removido. Aquilo está uma lixeira. Um engenheiro já nos disse que a requalificação do telhado exige muito cuidado”, contou.

A Igreja de São Vicente também precisa de obras André Rodrigues
A Igreja de São Vicente também precisa de obras André Rodrigues
A Igreja de São Vicente também precisa de obras André Rodrigues
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A Igreja de São Vicente também precisa de obras André Rodrigues

O custo da intervenção no edifício, localizado a Norte do centro histórico, ronda os 340.000 euros, mas a irmandade espera ainda pelo resultado da candidatura submetida a fundos comunitários, depois de fracassada uma primeira tentativa, há dois anos. “Submetemos um projecto inicial ao Norte 2020 e a candidatura até foi aceite, mas o financiamento para o programa em questão já tinha esgotado”, lembrou. Presidente desde Outubro de 2018, Angelina Ribeiro salientou que a actual candidatura tem “algumas fragilidades”, podendo sofrer alterações no mês de Setembro.

As obras na igreja estão ainda longe de garantidas, mas a irmandade não esconde o desejo de ver uma possível requalificação alargada à torre sineira; uma intervenção nessa estrutura custa cerca de 300.000 euros, disse Angelina Ribeiro. “O corrimão está estragado, as escadas precisam de ser reforçadas e não sabemos se o pára-raios está a funcionar”, disse a responsável, antes de enumerar os ninhos de pombas e a proliferação de líquenes como problemas adicionais.

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