China pede aos media que sejam “imparciais” e “objectivos” na cobertura dos protestos de Hong Kong

Numa carta enviada a mais de 30 meios de comunicação social, Pequim insta-os a ajudar “os manifestantes ignorantes da verdade a voltarem ao caminho certo”.

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Os media internacionais têm-se focado na violência da polícia de Hong Kong, diz Pequim Kai Pfaffenbach/Ruters

Frustrada com a cobertura internacional dos protestos pró-democracia em Hong Kong, a China enviou cartas a mais de 30 meios de comunicação estrangeiros a pedir-lhes que sejam “objectivos” e “imparciais” e para ajudarem “os manifestantes ignorantes da verdade a voltarem ao caminho certo”. Para provar que existe interferência externa, Pequim anexou-lhes um dossier de 41 páginas.

Assinadas por Hua Chunying, recém-nomeado responsável pelo departamento de informações do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, as cartas “lamentam que ainda exista alguma cobertura baseada em factos selectivos ou mesmo em nenhuns factos”. “Hong Kong vive um momento crítico. Os pedidos para o Estado de Direito, ordem e tranquilidade é a opinião maioritária em Hong Kong. A tarefa mais premente é travar a violência, acabar com o caos e restaurar a ordem, e acredito que os media têm hoje um papel importante a desempenhar”, lê-se no documento, citada pelo South China Morning Post.

“Espero que você e a agência de media que dirige assumam a responsabilidade social e publiquem notícias neutras, objectivas, imparciais e abrangentes, para que a cobertura possa ajudar os manifestantes a ignorantes para que voltem ao caminho certo e ajudar aqueles que foram seriamente enganados a chegar a um julgamento racional e justo”, continua a carta, dirigida aos directores.

Entre os media que as receberam estão a Reuters, a Bloomberg, a AFP, o Wall Street Journal e a BBC.

Para provar que os manifestantes são ajudados por potências estrangeiras, entre elas os Estados Unidos, Pequim enviou um dossier de 41 páginas com o que diz serem provas a acompanhar as cartas. Todavia, as provas resumem-se a uma série de notícias de meios de comunicação social controlados pelo regime chinês. É o caso do CGTN, China Daily e Global Times.

É a mais recente tentativa de controlar a narrativa mundial sobre os protestos por parte de Pequim, diz a Bloomberg. Há três meses que os protestos pró-democracia no território merecem a atenção dos media internacionais e a cobertura tem-se focado muito na violência policial e na tentativa de controlo chinês, e não na violência cometida pelos manifestantes, o que desagrada Pequim.

O regime chinês começou há uma semana a concentrar tropas em Shenzhen, na fronteira com Hong Kong, e há receios que possa levar a uma intervenção militar, que tem de ser pedida pelo Governo de Carrie Lam. Nos últimos dias, os manifestantes têm protestado pacificamente, recusando dar argumentos a Pequim.

Os protestos começaram contra uma proposta de lei de extradição, entretanto suspensa mas não enterrada, e depressa se generalizaram na contestação ao Governo da região e à influência chinesa. Os manifestantes acusam Pequim de desrespeitar o princípio “um país, dois sistemas”, pondo em causa a democracia do território que foi administrado pelo Reino Unido até 1997. 

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