Albânia demoliu restaurante cujo dono atacou turistas

O vídeo do proprietário de um restaurante agarrado ao carro dos turistas e a esmurrar-lhe o vidro da frente tornou-se viral, levando o primeiro-ministro albanês a condenar a “barbaridade”. Seis dias depois, o restaurante foi demolido.

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Um momento do vídeo. O ataque prolonga-se por uns 4 minutos com o carro em andamento

Tudo aconteceu a 15 de Agosto. Os turistas tinham entrado num aparentemente simpático restaurante em Porto Palermo, perto de Himare, na costa albanesa, para almoçar mas, fartos de esperar pelos pratos, arrependeram-se e decidiram ir-se embora. Foi já no carro que aconteceu o evento que tornaria a cena famosa, num clima de terror: o dono do restaurante saltou para cima do capô e começou a esmurrar o vidro, conseguindo mesmo esburacá-lo. O susto parece prolongar-se eternamente e entre muitos gritos, como se pode ver na gravação feita pelos turistas - uma família espanhola acompanhada por guia e motorista. 

O dono do restaurante, Mihal Kokëdhima, um “pouco” irascível, como aqui se vê durante uns bons quatro minutos, acusava-os de não terem pago a conta. A situação e o escândalo viral já seriam suficientes para levar a alguma acção pública das autoridades da Albânia, mas entra aqui em jogo outro detalhe relevante: um dos turistas é Eugenio Galdón, um empresário espanhol que fundou o grupo de media e de telecomunicações Multitel, além de ter fundado a operadora ONO, vendida à Vodafone, e de ter tido altos cargos no Governo espanhol e em grandes grupos de comunicação espanhóis, incluindo o grupo Prisa — dono do jornal El País e da Media Capital (TVI). Por todas as razões, o Governo albanês apresentou as suas desculpas aos turistas, com o ministro do Turismo a encontrar-se com a família para oferecer-lhes flores e pedir perdão em nome do país. O vídeo do encontro foi publicado, com música e tudo, pelo primeiro-ministro albanês, Edi Rama, no seu Facebook.

“O bárbaro que atacou os amigos espanhóis violou o código sagrado da hospitalidade albanesa e envergonha-nos a todos. A hospitalidade é a arma mais importante do turismo albanês”, escreveu o primeiro-ministro na sua página. Já Galdón, no vídeo, comenta ao ministro do Turismo que “um homem não representa todo um país. Você deve estar orgulhoso do país que tem”. Segundo relata o El País, tanto o pai como um dos filhos tiveram que receber assistência médica por pequenas lesões feitas durante o pesadelo no carro. Ainda assim, o empresário garante: “Voltaremos em breve para conhecer melhor o país, onde conhecemos muita gente boa, entre ela o nosso condutor e o nosso guia, que arriscaram as suas vidas para salvar-nos. Obrigado por terem cuidado de nós”.

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Uma foto do restaurante, publicada pelo utilizador arkeologo no TripAdvisor TripAdvisor/arkeologo

O caso não se ficou por aqui. O dono do restaurante, Mihal Kokëdhima, de 51 anos, ficou em prisão preventiva, acusado de agressão, e as autoridades abriram uma investigação. Não demoraram muito a descobrir que o restaurante Panorma, construído há três anos, estava completamente ilegal: não tinha quaisquer licenças e nunca tinha pago impostos, resume a AFP. O caso até assume outros contornos políticos: Kokëdhima, segundo indica a Europa Press a partir do jornal albanês Shqiptarja.com, é primo de um empresário que foi deputado do Partido Socialista albanês (actualmente no Governo) e é fundador de outro partido político, o Solução. 

Para o caso, o Governo albanês encontrou já uma solução tão rápida que surpreende: num golpe fatal esta quarta-feira, apenas seis dias após o pesadelo viral, o restaurante foi arrasado por um bulldozer. E tudo o escândalo levou.

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