Por estes dias, a nova música portuguesa mora em Lamego

Até sábado, passam pelo festival cerca de três dezenas de bandas emergentes, mas não só: à nona edição, o ZigurFest também recebe Adolfo Luxuria Canibal para um concerto inédito com o baterista Krake.

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JOSÉ CALDEIRA

Quando um grupo de amigos decidiu, em 2011, criar em Lamego um festival apenas para bandas portuguesas emergentes, sabia estar a arriscar tudo. Nos cartazes dos outros festivais, os grupos nacionais serviam então (e na maioria dos casos ainda continua a ser assim) sobretudo de adorno para anteceder a entrada em palco dos nomes internacionais, esses sim capazes de atrair público. Embora parecesse ser essa fórmula de sucesso de muitos dos vários eventos do género que todos os anos surgem como cogumelos de Norte a Sul do país, estes amigos quiseram experimentar outra equação e levar para a frente aquela vontade antiga – primeiro por entenderem existir muitos valores por revelar, depois por acreditarem existir bandas suficientes para se montar um cartaz diferente todos os anos.

O festival de que falamos é o ZigurFest, que ao longo de nove edições cresceu do Teatro Ribeiro Conceição e da Rua da Olaria, bem no centro, para tomar outros pontos de Lamego, até chegar à Casa do Artista, ao Horto do Castelo, à Alameda (Parque Isidoro Guedes), às Oficinas de Restauro do Museu de Lamego e este ano, pela primeira vez, até ao interior dos muros do milenar Castelo, numa espécie de roteiro musical pela cidade.

Prova de maior sucesso do que a expansão territorial é o facto de os nomes que por lá passaram ainda numa fase de tubo de ensaio terem garantido mais tarde a entrada num circuito maior, mesmo que fora do mainstream. São os casos dos Peixe:Avião e dos Dear Telephone, no ano de arranque; dos Black Bombaim e dos Sensible Soccers, no ano seguinte; dos Ermo, em 2013; de Corona (hoje Conjunto Corona) e HHY & The Macumbas, em 2015. Mas também de Primeira Dama, Norberto Lobo,  Surma, David Bruno, Baleia Baleia Baleia, The Sunflowers, Cave Story ou Medeiro/Lucas.

Nesta edição, que decorre de quarta-feira até sábado, Lamego recebe outros nomes com potencial para se juntarem à lista. Tocam no ZigurFest 2019 Jasmim, Violeta Azevedo, Odete, Chinaskee, Minus & Mrdolly, Algumacena, Mynda Guevara, Luís Vicente + João Valinho, Terebentina, Dada Garbeck, Ivy, Djumbai Djazz, Stasya, Zentex, Afta 3000, Conferência Inferno, 3I30, Tiago E Os Tintos, Daniel Catarino Trio, e Menino Da Mãe, que era para vir com Raphael Soares, mas actuará sozinho por cancelamento de última hora do segundo. Todos são estreias no festival que, desde o arranque, nunca repetiu uma banda, por opção deliberada da associação que o organiza, a Zigur.

Além dos emergentes

Embora o foco esteja de novo nos emergentes, como noutros anos há espaço para músicos que já conquistaram o seu lugar. Em edições anteriores passaram elo ZigurFest Pop Dell’Arte, JP Simões ou Allen Halloween. Na de 2019 será a vez de Glockenwise, Filipe Sambado, que traz consigo Os Acompanhantes de Luxo, e da lenda do rock nacional Adolfo Luxúria Canibal, a dividir o palco com o baterista Krake, para concerto inédito a convite do festival.

O director executivo do evento, Afonso Lima, conta ao PÚBLICO que a ideia para este encontro teve origem ainda na edição do ano passado, quando o baterista, ligado a bandas como Peixe:Avião, Dear Telephone ou OZO, revelou em conversa a possibilidade de embarcar numa parceria com o vocalista de Mão Morta. O melhor sítio para se apresentarem pela primeira vez ao público seria o ZigurFest, entenderam. O negócio ficou fechado ali. No último dia, sábado, o duo actua no Palco Castelo de Lamego, às 23h.

O responsável pelo evento adianta que mesmo no que diz respeito a nomes de maior dimensão há um esforço para que as apresentações tragam algo de novo, como acontece agora, ou como aconteceu em 2015, quando JP Simões esteve em Lamego a assumir pela primeira vez o seu alter-ego Bloom, um ano antes de editar Tremble Like a Flower.

Face ao percurso do ZigurFest, Afonso Lima não tem dúvidas de que este empreendimento foi uma aposta ganha. Há os que ainda desconfiam de um festival que não tem nomes “de fora”, mas é uma situação que não o preocupa. A primeira edição, conta, foi vista como “uma brincadeira”; hoje a Zigur é uma estrutura “semi-profissional” que abriu portas a “outros festivais” que seguem a mesma via. Preparar o cartaz torna-se mais simples, também por força da residência que a associação tem em bares como o Maus Hábitos, no Porto, e nas Damas, em Lisboa, onde levam concertos e vão conhecendo novos projectos.

Para os próximos anos, a aposta continuará a ser a mesma, ainda que nem sempre as bandas agradem a todos os que passam pelo festival que desde 2017 tem entrada gratuita, fruto do apoio da autarquia: “Não queremos ser um festival consensual. Há pessoas que ainda têm dúvidas em relação ao nosso caminho, mas é nessa posição que queremos continuar a estar.”

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