Governo Conte acaba hoje, mas não se sabe o resultado do golpe de Salvini

Espera-se que o primeiro-ministro anuncie a sua demissão esta terça-feira, antes da votação da moção de censura apresentada pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, que quer eleições antecipadas. Cinco Estrelas e Partido Democrata podem formar uma nova aliança de governo.

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Giuseppe Conte é um independente próximo do Movimento 5 Estrelas Massimo Percossi/EPA

O Senado italiano vota esta terça-feira a moção de censura ao primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, apresentada pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga, um dos parceiros da coligação que há cerca de ano e meio tem governado Itália. O objectivo de Salvini é provocar eleições, surfando a onda das sondagens que o dão como o político preferido dos italianos. Mas mais ninguém quer ir a votos, e as regras da democracia italiana estão contra ele.

As regras ditam que mesmo que Conte perca a moção de censura, ou se se demitir antes de a votação acontecer, o Presidente da República, Sergio Mattarella, é obrigado a consultar os líderes das forças políticas representadas no Parlamento para verificar se existe uma maioria alternativa para formar governo. Mesmo que não exista maioria, antes de convocar eleições antecipadas, tem ainda a possibilidade de instalar um governo tecnocrático – como foi o de Mario Monti.

O que parece mais provável é que o outro parceiro da coligação de governo, a formação anti-sistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que nesta legislatura tem a maioria de assentos parlamentares, se alie ao Partido Democrático (PD, centro-esquerda), para formar uma maioria de governo alternativo.

Matteo Renzi, o ex-primeiro-ministro que se demitiu após uma derrota num referendo sobre uma reforma constitucional em 2016, e que já não é líder do partido, tem-se esforçado por realizar esta nova aliança, que antes rejeitava – e que significaria o seu regresso à ribalta política, ensombrando o actual líder do PD, Nicola Zingharetti.

Mas nem no PD nem esta nova aliança desperta o maior dos entusiasmos. Salvini tornou-se persona non grata para a maioria da cúpula dirigente do M5S. Porém, o vice-primeiro-ministro, Luigi di Maio, é voz mais céptica do M5S em relação a esta nova aliança. Segundo o jornal Corriere Della Sera, Di Maio ainda acalenta a possibilidade de uma coligação com a Liga, mas sem Salvini… o que parece ser uma ideia impossível, pois o ministro do Interior já fez saber, preto no branco, que não quer deixar o Governo, do qual é também vice-primeiro-ministro – mas já se viram reviravoltas mais surpreendentes na política italiana.

O ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia Romano Prodi avançou entretanto com a proposta de uma coligação mais alargada, a que baptizou Ursula – numa alusão à presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen – e que além do M5S e do PD se poderia alargar à Força Itália, de Silvio Berlusconi, direita. Seria algo semelhante à coligação formada para eleger a nova presidente da Comissão, travando o avanço das forças populistas no Parlamento Europeu, que tinham precisamente Matteo Salvini como promotor de uma aliança pan-europeia.

A Liga de Salvini não detém tantos deputados como poderia ter se as eleições fossem hoje, por isso as suas tiradas explosivas que tanto impacto têm na opinião pública não têm o mesmo peso no Parlamento, apesar de esperar contar com os votos de aliados como os Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni e também da Força Itália, de Silvio Berlusconi.

No entanto, o líder do partido ferozmente anti-imigração terá dito aos mais próximos no seu partido que “todos os cenários estão abertos”, relata o Corriere. “Não afastem nenhuma hipótese, não acreditem no que lêem. É mesmo verdade que tudo é possível.”

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