Depois da greve, António Costa geriu os resultados no terreno

Primeiro-ministro acusa os críticos de não terem entendido o que se passou na mais recente greve dos motoristas. “É o mesmo que perguntar a uma equipa que ganhou 3-0 porque precisou de tantos defesas”.

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António Costa LUSA/MÁRIO CRUZ

Eram 10h30 desta segunda-feira, a manhã seguinte à desconvocação da greve por parte do Sindicato de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), e já o primeiro-ministro estava na sua segunda aparição em público, além de ter marcado um Conselho de Ministros electrónico para declarar o fim da crise energética. António Costa agendou três visitas matinais para agradecer aos serviços do Estado, às forças armadas e às forças de segurança e para se congratular pelo fim de uma greve que teve efeitos mitigados: “Hoje, depois de saber o resultado das medidas, é fácil dizer que não houve problemas. Teria havido problemas se as medidas não tivessem sido adoptadas. A ausência de problemas não foi obra do acaso”, disse.

Passada a tempestade, Costa saiu a terreno para, em inúmeras declarações durante a manhã, puxar dos galões pela resolução da crise e para atacar os críticos - com especial enfoque no presidente do PSD, Rui Rio, que por diversas vezes o atacou de ter montado um “circo" de “dramatização e ameaças” nesta paralisação dos motoristas. “Eu sei que há pessoas que têm a ideia de que não haveria problema se nada tivéssemos feito, mas eu recordo-me de quais foram as consequências em Abril, quando não houve um empenho tão forte do conjunto dos nossos recursos. Aquilo que ninguém nos teria perdoado é que perante uma greve ilimitada, quando as consequências que esta seguramente teria, nada tivéssemos feito”, afirmou. Ao final do dia, Rui Rio insistiu na postura “eleitoralista” do executivo e lamentou que o Governo tenha demorado a “desmontar circo”.

Em especial, foram dois os temas, que se misturam um no outro, a saltar como argumento dos críticos para discordarem da actuação do Governo: a possibilidade de a resposta do executivo pôr em causa o direito à greve e o envolvimento dos militares das forças armadas. O primeiro-ministro recusa as leituras que defendem que houve uma excessiva resposta à greve e usa uma metáfora futebolística para aqueles que criticam o Governo depois de finda a paralisação: “É o mesmo que perguntar a uma equipa que ganha por 3-0 porque precisou de tantos defesas”.

Apesar da analogia, Costa recusou falar em vitórias, enaltecendo o clima de “maturidade” numa “greve que podia ter tido consequências muito graves. A verdade é que foi possível que o país se mantivesse em funcionamento sem quem isso pusesse em causa o legítimo direito à greve dos trabalhadores”, defendeu.

A ideia de que nunca esteve em causa o direito à greve tem sido um ponto em que todo o Governo tem insistido, nomeadamente quando o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, o primeiro a dar a cara pelas decisões do Governo, argumentou que a greve é um direito constitucionalmente previsto e que tem como objectivo produzir efeitos “numa parte do conflito”, mas que tem limites. O mesmo foi defendido por Costa ao admitir que em qualquer paralisação há “danos colaterais a outros cidadãos” que não estão envolvidos na contenda, tal como acontece com outras greves, mas que é preciso “limitar esses danos colaterais, sobretudo em matérias tão sensíveis como aquelas que têm a ver com abastecimento de combustíveis”.

Aliás, em relação às forças armadas, o primeiro-ministro recusou que tenham sido envolvidas mais do que o necessário e respondeu aos críticos dizendo que se não tivesse existido “força” na resposta a esta greve, os efeitos da paralisação seriam semelhantes aos da greve de Abril. “Estamos muito gratos ao serviço que as forças armadas e de segurança desempenharam no quadro da legalidade democrática e no quadro das competências que têm no quadro da crise energética”, disse. Mais tarde acrescentaria: “O empenho dos militares das forças armadas, dos elementos das forças de segurança, foram essenciais, não só para a sua função de manutenção da ordem pública, mas também para assegurar o transporte de combustível para serviços absolutamente essenciais sem os quais o país teria sofrido muito mais”.

Em termos de números, a intervenção do executivo mediu-se em 161 transportes em camiões-cisterna feitos por militares das Forças Armadas dos três ramos e por 139 transportes realizados por agentes da PSP e militares da GNR. E teve ainda outro número que Costa fez questão de salientar: “Só foi levantado um auto de notícia”. “Foi uma semana vivida com grande civismo, em que não houve situações de confronto nem de violência, houve o acatamento generalizado da legalidade e, ao contrário do que foi por vezes noticiado, não houve necessidade de recorrer nem à força nem a qualquer tipo de tensão”, disse.

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