Um craque no futsal ao dispor de Espírito Santo nos “wolves

Max Tilman estreou-se nesta quinta-feira pelo Wolverhampton, mas não esconde o desejo de continuar a representar Inglaterra dentro da quadra.

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Kilman a jogar pela selecção inglesa de futsal DR

É sabido que o Wolverhampton não joga na Liga inglesa com recurso alargado ao talento local e que o plantel tem, sobretudo, valências vindas do sul da Europa. Mas e se lhe disserem que há um jogador com 25 internacionalizações por Inglaterra, fica impressionado? Talvez não seja motivo para tanto.

Max Kilman é um jovem defesa que ontem se estreou na equipa de Nuno Espírito Santo, depois de um ano nos sub-23. Curioso é o facto de este jogador, de 22 anos, já contar no currículo com mais de dua dezenas de jogos pela selecção inglesa ... de futsal. Apesar de a equipa britânica não ter a maior das tradições na modalidade (no ranking, surge atrás de países como Vietname ou Ilhas Salomão), 25 jogos pela equipa nacional inglesa é um cartão-de-visita respeitável. 

No plantel dos “wolves”, John Ruddy, guarda-redes habitualmente suplente de Rui Patrício, soma um jogo por Inglaterra. Essa internacionalização permite-lhe ser o mais experiente em matéria de selecção inglesa de futebol. Apesar de noutra variante do futebol, Max Kilman é o único a fazer sombra a Ruddy. E, a título de curiosidade, é o quinto jogador do plantel de Nuno Espírito Santo com mais jogos internacionais. É batido por Rui Patrício, João Moutinho, Saiss e Jiménez.

Do V escalão para a Premier

Kilman ainda será, para o adepto comum de futebol, um perfeito desconhecido. No ano passado, em cima do fecho do mercado, trocou o Maidenhead United, da National League (quinto escalão inglês) pelos “wolves”. Progresso considerável — e surpreendente —, quase tanto como surpreende a intenção deste jovem de continuar a conciliar as duas modalidades, algo que fazia no anterior clube.

“Vou tentar organizar-me de forma a ainda poder jogar por Inglaterra [futsal], mas é difícil e não estou seguro de que aconteça”, disse, ao Guardian, em 2018.
A leve crença de Kilman parece não passar de uma utopia, quanto mais não seja pelas restrições impostas aos atletas de topo, mas o jogador garante que vai ficar desapontado se tiver de abdicar de algo: “Claro que ficarei chateado se isso [desistir do futsal] acontecer, mas é um risco que tenho de correr para me tornar futebolista profissional”.

O plano de Kilman dificilmente coincidirá com a ideia do Wolverhampton, até porque o jogador, já no Maidenhead, tem um historial de faltas a jogos pela dificuldade de conciliar futsal e futebol. Na escolha, Kilman deverá pender para o lado do futebol, sobretudo porque viver do futsal, em Inglaterra, não será fácil. 

“É estranho, porque o futsal é muito mais excitante do que o futebol. No futsal, cada equipa cria, no mínimo, cerca de 30 oportunidades de golo por jogo. No futebol, podemos ver apenas um remate à baliza numa parte inteira. Mas o facto é que, aqui, só vemos resumos de futebol e nunca vemos de futsal”, resumiu.

O caso de Ricardinho

A história de Max Kilman tem, em Portugal, um paralelismo. Quando jogava no Benfica, o melhor jogador do mundo de futsal chegou a ser convidado para integrar os trabalhos da equipa principal de futebol dos “encarnados”. O próprio assumiu-o, em 2017: “O Fernando Santos convidou-me para fazer a pré-época. Isso disparou de tal maneira que se tornou impossível, pois eles queriam esconder o assunto, que acabou por saltar cá para fora. Foi um momento em que pensei nisso [ser futebolista], mas o futsal acabou por sair por cima”.

Para Ricardinho, não passou de um sonho por concretizar, mas, para Max Kilman, a quimera é bem real. Até porque o britânico sabe como usar, no futebol, a experiência do futsal. “O futsal ajuda muito no futebol. Todos pensam que é tudo em torno de controlar melhor a bola, mas é, sobretudo, uma questão de estarmos mais atentos e tomarmos melhores decisões. O futsal é muito rápido e a área é muito menor. Por isso, quando regressava ao futebol, estava mais confiante”.

A carreira do central no futsal está em “banho-maria”, mas, no futebol, está num fase vital, depois de na quinta-feira se ter estreado e logo na Liga Europa, diante do Pyunik. E se alguma vez chegar a internacional inglês, no futebol, Max Kilman terá alcançado um dos mais bizarros feitos do desporto britânico.

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