Descoberto novo “órgão” na pele sensível à dor

O “órgão” agora descoberto é constituído por células de Schwann (um tipo de células da glia, cuja função é ajudar ao funcionamento do sistema nervoso central) que juntas formam uma estrutura celular com uma forma semelhante a um polvo.

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Neurónio com o seu longo axónio, que tem a envolvê-lo as células de Schwann Sara Parker

A pele é o maior órgão do corpo humano e continua a esconder vários mistérios sobre a forma como o nosso organismo funciona. Agora uma descoberta recente de investigadores do Instituto Karolinska, na Suécia, veio revelar um pouco mais sobre o que está por detrás da pele e, mais especificamente, sobre os mecanismos de sensação da dor.

Quase uma em cada cinco pessoas experiencia dor constante ao longo da vida, um sofrimento para o qual os cientistas tentam, há muito, dar solução através do desenvolvimento de novos medicamentos analgésicos e terapias consideradas alternativas. Mas apesar do sofrimento, a sensibilidade à dor é também necessária para a nossa sobrevivência, tendo uma função muito importante para a nossa protecção e capacidade de reacção. Um exemplo: se nos queimarmos, é importante sentirmos dor para podermos retirar a mão antes que esta fique com danos irreparáveis.

Um estudo, publicado esta quinta-feira na revista Science, dá novos passos na compreensão da sensação de dor ao detalhar a descoberta de uma estrutura celular – desconhecida até então –, ou um novo “órgão” (como referem os investigadores) na pele, sensível a danos que provocam dor, como picadas ou impactos.

Este “órgão” é constituído por células de Schwann (um tipo de células da glia, cuja função é ajudar ao funcionamento do sistema nervoso central), com múltiplas saliências longas – que envolvem as terminações das células nervosas na epiderme – e que juntas formam um “órgão” com uma forma semelhante a um polvo, segundo o diário britânico Guardian. Estas células cercam as células nervosas na pele (através das quais enviam um sinal para o cérebro), formando uma espécie de rede, e são sensíveis a danos dolorosos como picadas, impactos ou sensações de pressão.

A activação do órgão resulta em impulsos eléctricos no sistema nervoso que, por sua vez, originam uma reacção e a sensação de dor. Durante a investigação, os cientistas experimentaram ainda bloquear este órgão, tendo observado uma diminuição na capacidade de sentir dor de origem mecânica.

“O nosso estudo mostra que a sensibilidade à dor não ocorre apenas nas fibras nervosas da pele, mas também neste órgão sensível à dor recentemente descoberto. Esta descoberta altera a nossa compreensão sobre os mecanismos celulares da sensação física e pode ser importante para a compreensão da dor crónica”, explica em comunicado Patrik Ernfors, professor do departamento de bioquímica e biofísica médica do Instituto Karolinska e autor principal do estudo.

As experiências foram feitas em ratos de laboratório através de optogenética e, segundo os especialistas, é necessário replicar no futuro o estudo em humanos. “Para nós, a grande questão agora é se estas células são, na verdade, a causa de certos tipos de distúrbios de dor crónica”, sublinhou ao Guardian Patrik Ernfors, co-autor do estudo.

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