Autor do atentado de Christchurch conseguiu publicar texto a incitar ao ódio a partir da prisão

Carta endereçada a um seguidor na Rússia foi publicada pelo alegado destinatário no site 4chan. Autoridades neozelandesas já lamentaram o sucedido.

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Imagem do vídeo em directo onde se vê o australiano a caminho dos locais alvos do ataque Reuters

A 15 de Março, o australiano Brenton Tarrant entrou em duas mesquitas em Christchurch,​ na Nova Zelândia, e abriu fogo sobre dezenas de pessoas inocentes que estavam em oração. O ataque, que foi transmitido em directo na Internet, resultou em 51 mortos e dezenas de feridos. O atacante, que acabou detido, deixou publicado um manifesto racista, xenófobo e islamofóbico de 74 páginas no qual procurou justificar o massacre.

A 21 de Maio, a polícia acusou-o de terrorismo, além das 51 acusações por homicídio e 40 por tentativa de homicídio que também enfrenta. Em Junho, Tarrant declarou-se inocente. Aguarda julgamento atrás das grades desde então.

No entanto, sabe-se agora, conseguiu que uma carta sua, escrita na prisão de alta segurança onde se encontra, fosse publicada no fórum virtual 4chan, onde volta a incitar ao ódio e à violência racista.

A missiva de seis páginas, que aparenta ter sido escrita a lápis num bloco de notas (mas cujas páginas estarão cuidadosamente numeradas), é endereçada a alguém chamado “Alan”, na Rússia, que a terá publicado no referido fórum online. Nela recorda uma suposta viagem àquele país em 2015. Mas não só: nas entrelinhas incita ao ódio e à violência. Sobre “arrependimentos e sentimentos” em relação ao massacre na Nova Zelândia, o australiano não se alonga, justificando com o seu receio de que os guardas confisquem a carta para usar como prova em tribunal, cita o diário New York Times.

As autoridades neozelandesas já se pronunciaram publicamente sobre o caso, tendo reconhecido esta quarta-feira que o envio de pelo menos uma carta para o exterior aconteceu por engano e que nunca deveria ter sido permitido. Christine Stevenson, uma responsável das autoridades prisionais da Nova Zelândia, reconheceu num comunicado citado pelo jornal nova-iorquino que tal carta “não deveria ter sido enviada” e pediu desculpa pelo sofrimento que a sua divulgação possa ter causado às pessoas afectadas pelo atentado de Christchurch. Stevenson garantiu ainda que o recluso estará impedido de enviar ou receber correspondência até as autoridades terem “garantia absoluta” de que os seus escritos não ameaçam a segurança das pessoas tanto na Nova Zelândia como no resto do mundo.

Por sua vez, a primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern também admitiu aos jornalistas que a divulgação da carta “simplesmente não deveria ter acontecido”, acrescentando que este é um criminoso com “um objectivo muito específico em mente no que diz respeito à partilha da sua propaganda”, e que as autoridades deveriam ter estado preparadas para lidar com uma tentativa deste género. Segundo os serviços prisionais, Brenton Tarrant encontra-se agora sem acesso à televisão, rádio ou jornais, e não tem direito a visitas.

O site 4chan é conhecido por permitir o anonimato e a divulgação de praticamente qualquer tipo de conteúdo, acabando por ser recorrentemente utilizado por supremacistas brancos e outros tipos de extremistas. No entanto, é um fórum relativamente moderado quando comparado com o seu “irmão" 8chan, um site que foi recentemente suspenso depois de pelo menos três supremacistas brancos terem ali publicado manifestos racistas e xenófobos imediatamente antes de terem cometido graves crimes, como o autor do massacre de 3 de Agosto em El Paso, no Texas, EUA, que vitimou mortalmente 22 pessoas.

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