Esta noite a Lua Cheia tem encontro marcado connosco… no cabo da Roca

Telescópios, microscópios, amostras de rochas, meteoritos e até um módulo para reproduzir as famosas pegadas na Lua estarão à disposição de todos no cabo da Roca, Sintra. Os mais novos poderão fazer, entre outras actividades, crateras de impacto.

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Os mares da Lua são de pedra? E há essas pedras em Lisboa? Galileu descobriu que havia montanhas na Lua? E as rochas dessas montanhas existem em Lisboa? Estas e muitas outras questões sobre o satélite natural da Terra terão resposta esta quarta-feira à noite, 14 de Agosto, – a partir das 21h, no cabo da Roca, em Sintra –, por astrónomos, geólogos e divulgadores de ciência apetrechados com telescópios e microscópios. A Lua encherá o céu e estará à espera de todos os que queiram aparecer por lá, perto do farol.

“Esta actividade é inédita, pois normalmente os astrónomos olham para os céus sobretudo na perspectiva das estrelas, das constelações e dos planetas. Não gostam da Lua Cheia: toda a luminosidade dos céus esconde os astros que normalmente lhes interessam, por isso escolhem sempre observações o mais afastado possível dos tempos da Lua Cheia. Sempre achei isso uma pena, porque a Lua é fantástica de se ver com telescópio, além de que tem uma história de nascimento e evolução maravilhosa”, começa por explicar o geólogo Rui Dias, da Universidade de Évora, e um dos envolvidos nesta iniciativa coordenada pelo Centro Ciência Viva de Estremoz e integrada no programa Ciência Viva no Verão.

“Há anos que tinha o desejo de fazer uma actividade explorando a Lua Cheia. E desta vez ‘os astros conjugaram-se’”, acrescenta o geólogo, dizendo que esta noite de quarta-feira já teremos praticamente uma Lua Cheia, que na realidade ocorre no feriado de 15 de Agosto. “É a primeira Lua Cheia 50 anos depois da chegada do primeiro homem à Lua.”

Assim, a partir das nove da noite de hoje haverá diversões numa “mini-feira” que funcionará pelo menos até à meia-noite – “escolhemos um local com alguma magia e alma e o Cabo da Roca pareceu-nos perfeito”, explica Rui Dias, também do Instituto de Ciências da Terra, com pólos nas universidades de Évora, do Porto e Minho.

A pensar nos mais novos

A mini-feira terá três núcleos de actividades em simultâneo: o da astronomia, o da geologia e o das crianças. Comecemos já pelos mais novos. “Vão poder fazer, por exemplo, crateras de impacto – é possível facilmente perceber a idade relativa entre elas – ou desenhar os bonecos que melhor se adaptam às manchas claras e escuras, numa espécie de ‘teste do borrão de tinta’, e ver que podemos desenhar pessoas, ou coelhos, ou bisontes ou...”

No núcleo da astronomia haverá à disposição três telescópios com diferentes ampliações: “O mais potente estará ligado a um monitor onde todos podem fazer observações ao mesmo tempo. O mais fraco será uma luneta semelhante à que Galileu utilizou, o que nos permite fazer uma abordagem pelo lado da história da ciência. Além das observações, vão-se discutir alguns processos, como por exemplo por que vemos sempre a mesma face da Lua.”

E no núcleo de geologia explicar-se-á por que vemos zonas escuras e zonas claras na Lua. “Galileu já tinha conseguido perceber que era nas zonas claras que estavam as zonas mais elevadas”, explica Rui Dias. “As zonas escuras são claramente crateras de impacto e são escuras porque os impactos foram tão grandes que houve gigantescas erupções de magma basáltico que inundaram toda a cratera. Por isso, e por coincidência, os antigos davam-lhes o nome de Mares...”

As zonas mais claras da Lua são formadas por uma rocha chamada anortosito, que é constituída quase que só por um mineral, a anortite.

Nesta actividade, irá explicar-se que rochas são essas. “Para isso vamos levar rochas em amostras de mão e em lâminas delgadas, para poderem ver-se ao microscópio. Evidentemente não vamos levar rochas da Lua, pois essas são extremamente raras. Havia uma no Planetário da Marinha [em Lisboa] que tinha sido dada pela NASA, mas foi roubada…”, conta o geólogo. “O que vamos levar são basaltos de Lisboa e das ilhas Atlânticas e anortositos de Campo Maior. Pode parecer estranho que na Terra e na Lua existam as mesmas rochas, mas não é estranho, porque a história evolutiva dos dois corpos planetários é semelhante. A Lua foi essencialmente arrancada à Terra por um gigantesco impacto. Mas na Terra os basaltos são extremamente frequentes e os anortositos são mais raros.”

Esta iniciativa, intitulada “Vendo a Lua pelos olhos dos astrónomos e geólogos”, não se esgotará nas observações astronómicas nem nas rochas e actividades interactivas.

“Vamos levar uma série de objectos valiosos ou raros que dificilmente as pessoas conseguem ver. Vamos levar vários tipos de meteoritos – entre os quais um com origem na Lua –, vidros gerados por impactos de meteoritos (os chamados tectitos), um análogo de solo lunar, uma [réplica de sola de] bota de astronauta. E iremos ter um módulo para produzir a ‘pegada na Lua’”, remata Rui Dias.

O meteorito lunar, o análogo de solo lunar e a réplica da sola das botas usadas nas missões Apolo, que levaram à Lua 12 astronautas da NASA, entre 1969 e 1972, pertencem à colecção pessoal de Rui Moura, geofísico da Universidade do Porto, que também estará no cabo da Roca. “É uma réplica exacta da sola das botas que os astronautas usaram na Lua. As botas depois eram retiradas e ficaram na Lua, excepto um par da última missão, a Apolo 17, usado por Harrison Schmitt”, refere Rui Moura.

A iniciativa já tem cerca de 60 inscritos, mas a inscrição não é obrigatória. Basta aparecer por lá.

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