Um “lugar fora do mundo”: vai abrir o templo mórmon em Lisboa

A Igreja mórmon construiu no Parque das Nações o seu primeiro templo em Portugal, apenas o 14º na Europa. Era uma aspiração antiga para os cerca de 45 mil fiéis portugueses desta religião.

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Andreia Gomes Carvalho
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Andreia Gomes Carvalho

No novíssimo templo mórmon de Lisboa paira uma atmosfera de certa irrealidade. Tudo é branco e dourado, a relva está verde e curtinha, os canteiros não têm flores murchas, as alcatifas e estofos estão num brinco, a calçada não tem vestígios de lixo.

É uma atmosfera propositada. Para os mórmones, um templo não é só o edifício mais importante na hierarquia da sua igreja, é sobretudo uma representação do paraíso na Terra. “É quase como um lugar que está no mundo mas está fora dele”, resume José Teixeira, um dos mais altos cargos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

O templo lisboeta, que a meio de Setembro abrirá aos fiéis e fechará para sempre aos não crentes, fica no Parque das Nações, com o Mercado de Moscavide nas costas. O conjunto – dois edifícios e um jardim – esteve quatro anos em construção e outros cinco em planeamento. Para os cerca de 45 mil fiéis portugueses, era um desejo antigo. “Os membros da Igreja tiveram de se dirigir à Alemanha, a Londres, a Madrid, durante todos estes anos, para casar. Eu, por exemplo, tive de ir ao templo da Suíça”, explica José Teixeira.

Com mais de uma centena de capelas espalhadas pelo país, onde se realizam as reuniões dominicais e baptizados, a igreja mórmon reserva para os templos os seus preceitos mais relevantes: só ali são permitidos os casamentos.

Desengane-se quem pensa que um templo desta igreja tem qualquer semelhança com uma catedral católica. Embora por fora se possa ficar com essa ideia, o edifício de Lisboa tem mais parecenças com um hotel de luxo. A sensação é certamente reforçada pela profusão de mármores, alcatifas e lustres por toda a parte, mas a própria organização do espaço contribui para isso.

Logo à entrada, ao invés do salão amplo que a fachada sugeria, dá-se com uma recepção onde os fiéis têm de apresentar um cartão que atesta a possibilidade de ali estarem. À esquerda fica uma sala de espera, com um grande tapete sobre o chão de mármore turco e repleta de sofás. É aqui que, por exemplo, os familiares não crentes dos noivos podem esperar enquanto estes se casam no andar de cima.

“A qualidade da construção é excepcional”, comenta José Teixeira enquanto faz a visita guiada à comunicação social, numa das raras ocasiões em que o templo estará aberto ao público. A acompanhá-lo está José Vera Jardim, presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. “Não é muito usual em Portugal as confissões religiosas minoritárias terem a capacidade de organizar e levar por diante a construção de um templo desta dimensão”, comenta o antigo governante. “Não é só o dinheiro, é a capacidade organizativa”, sublinha.

Não é público quanto custou a obra, mas José Teixeira repete que “a Igreja não poupa esforços” na construção destes edifícios. “Deus deu-nos uma terra bonita para viver e não poupou esforços”, justifica.

Depois de alguns corredores largos muito iluminados e com pinturas hiper-realistas da vida de Cristo, entra-se no baptistério. É uma sala ampla com um grande tanque ao centro, a que se acede por umas escadinhas. Por baixo do tanque estão as cabeças de doze bois, numa alusão a como seria a pia baptismal do templo de Salomão. Este espaço apenas é utilizado para baptizar pessoas que já morreram, uma vez que as vivas são baptizadas nas capelas normais. Os mórmones acreditam que a salvação da alma pode chegar a qualquer momento, mesmo depois da morte, e crêem numa ressurreição total – de corpo e espírito.

No andar de cima ficam as salas dos casamentos, que aqui se chamam “selamentos”, com enormes lustres sobre o altar central, almofadado a toda a volta para os noivos se ajoelharem durante a cerimónia. Nesta Igreja, o casamento é para a eternidade e mantém-se válido mesmo depois de um dos cônjuges morrer. Há divórcios, mas José Teixeira diz que eles são “uma percentagem muito diminuta”.

A divisão mais importante do templo é a chamada “sala celestial”, ao fundo do corredor do primeiro andar. Com sofás amarelos, alguma vegetação e uma grande janela virada à Av. D. João II, faz lembrar uma sala do Hotel Ritz. É um espaço dedicado à oração e introspecção individual.

“Conheço quase todos os templos do mundo e gosto da proximidade deste. Não é muito comum estarem tão perto da via pública”, comenta, cá fora, José Teixeira. O responsável da Igreja acredita que “este projecto embelezou o Parque das Nações” e Vera Jardim concorda: “É certamente uma mais-valia para a freguesia.”

O outro edifício deste complexo, que fica separado do templo por um jardim de que a Igreja se encarrega – e cujos responsáveis prometem manter bonito “para o resto da vida” – é uma capela, em que qualquer pessoa pode entrar. No templo propriamente dito é que não: só de 17 a 31 de Agosto ele estará aberto para quem queira satisfazer a sua curiosidade.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi fundada nos Estados Unidos da América no fim do século XIX por Joseph Smith, que afirmava ter recebido instruções de Deus e Jesus Cristo para criar uma nova igreja. Ainda hoje é nos Estados Unidos que a Igreja tem maior implantação, embora desde o fim do século XX se tenha espalhado rapidamente por várias latitudes. Os mórmones estão em Portugal desde 1974. Este é apenas o seu 14º templo na Europa, o que parece atestar o crescimento que esta confissão religiosa tem conhecido por cá nos últimos anos.

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