Sánchez longe da maioria absoluta e novo bloqueio à vista em Espanha

Fracasso da investidura socialista colocou um travão no crescimento das intenções de voto no PSOE que, mesmo mantendo a liderança, perde para a abstenção. PP cresce à custa da direita e os dois blocos continuam a ser insuficientes para governar Espanha.

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Pedro Sánchez, líder do PSOE EPA/EMILIO NARANJO

Duas novas sondagens, dois resultados semelhantes e uma conclusão: se Espanha fosse a eleições por estes dias não seria capaz de desbloquear o impasse parlamentar, nem eleger uma maioria – à esquerda ou à direita – para governar o país. Os estudos da NC Report e da Celeste-Tel, publicados esta segunda-feira, atribuem o primeiro posto das intenções de voto ao Partido Socialista (PSOE), mas colocam-no longe da maioria absoluta que vinha acariciando em várias sondagens realizadas desde as eleições de Abril. 

O Partido Popular (PP) cresce significativamente nos apoios, mas à custa dos eleitores de Cidadãos e Vox que, por seu lado, acompanham o Unidas Podemos (UP) no grupo de partidos que perde mais eleitores em relação às últimas legislativas. Mas com tudo somado, nenhum dos blocos consegue superar a barreira dos 176 deputados.

Publicado pelo jornal La Razón, o inquérito da NC Report dá ao PSOE 29,7% dos votos, equivalentes a uma representação parlamentar entre os 126 e os 130 deputados. Já o estudo da Celeste-Tel, divulgado pelo site Eldiário.es, aponta aos 30,9% e aos 129 deputados.

Subidas ligeiras, em percentagem de votos e em deputados – o PSOE tem, actualmente, 123 lugares no Congresso dos Deputados –, quando comparadas com as eleições de Abril, mas que continuam a ser insuficientes para os socialistas poderem liderar uma força parlamentar de esquerda, sem a ajuda dos partidos independentistas.

Para além disso, escondem uma tendência que pode ser perigosa para Sánchez. Segundo as sondagens, PSOE seria o partido mais prejudicado pelo aumento da abstenção: mais de 20% dos seus eleitores está a considerar não votar numa futura eleição.

O travão no embalo socialista, que chegou a superar os 40% das intenções de voto, pode muito bem ter sido provocado pela investidura fracassada de Pedro Sánchez, no final do mês passado. Amparado pelos estudos que lhe davam números próximos da maioria absoluta, o ainda presidente do Governo de Espanha apostou forte na responsabilização de Pablo Iglesias, líder do Podemos, pelo falhanço das negociações, tendo em vista a formação de um executivo de cooperação, primeiro, e de coligação, mais tarde. 

O chumbo dessa investidura, a 25 de Julho, atira Espanha de novo para as urnas, em Novembro, a menos que haja uma nova e bem-sucedida votação de investidura no Congresso de Deputados, antes do dia 23 de Setembro. O cenário de eleições não desagrada aos socialistas, mas à luz dos cenários previstos nas sondagens anteriores.

NC Report e Celeste-Tel sugerem que o PSOE só consegue ir buscar votos ao UP – que pode perder até nove dos seus 42 deputados –, mas não numa percentagem decisiva para mudar o estado das coisas à esquerda. 

Quem beneficia (e muito) dos dois estudos divulgados esta segunda-feira é o PP. Depois do descalabro de Abril, o partido de Pablo Casado dá sinais de aparente recuperação, com perspectivas de aumentar a sua representação, dos actuais 66 deputados, para números superiores a 80 deputados.

O crescimento dos populares alimenta-se, por sua vez, do retraimento dos outros dois partidos de direita. O Cidadãos parece estar a sofrer as consequências negativas da irredutibilidade do seu líder, Albert Rivera, em negociar uma investidura com o PSOE, e pode perder entre cinco a sete deputados, consoante as sondagens. Já o partido de extrema-direita, de Santiago Abascal, continua a perder fôlego desde Abril. O Vox pode ficar sem sete representantes numa futura eleição.

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