Mar-Planície junta jazz e cante no coração do Alentejo

Integrado no festival Artes à Rua, o espectáculo junta de forma pioneira o jazz e o cante. Idealizado pelo saxofonista Carlos Martins e com vários músicos e vozes, estreia-se no dia 15, em Évora, às 22h.

Foto

“Nascemos no interior desta paisagem, desta pronúncia, deste tempo. A terra tem uma voz, somos capazes de escutá-la.” Estas palavras são do escritor José Luís Peixoto e ele também é uma das vozes chamadas a erguer Mar-Planície, um espectáculo que pretende juntar “pela primeira vez, de forma sustentada”, o cante alentejano e o jazz.

Idealizado por Carlos Martins, saxofonista e compositor nascido no Alentejo (em Grândola, em 1961) e ligado ao jazz, Mar-Planície é uma encomenda da Câmara Municipal de Évora e vai ser apresentado ao vivo naquela cidade alentejana pela primeira vez no festival Artes à Rua, no dia 15 de Agosto, pelas 22h, na Praça do Geraldo. Mar-Planície tem textos do escritor José Luís Peixoto, fotografias de José Manuel Rodrigues e terá, em palco, Carlos Martins, o Grupo de Cantares de Évora, João Paulo Esteves da Silva, Mário Delgado, Carlos Barretto, Alexandre Frazão, Manuel Linhares, Joana Guerra e José Conde.

Foto
Fotografia de José Manuel Rodrigues para Mar-Planície

O maior desafio para o compositor, diz-se no comunicado que anuncia o espectáculo, “foi escrever música que contivesse em si mesmas pistas para os códigos humanos ancestrais, propondo uma perspectiva de equidade entre práticas performativas e culturais, para acabar com os estereótipos de baixa e alta cultura ou de mesmo de boas e más culturas.” Mar-Planície, escreve-se ainda, é “um espectáculo fruto da vontade de deixar uma obra global, embora geoculturalmente referenciada no Sul e no Mediterrâneo, que proponha uma nova abordagem ao Cante Alentejano no seu alcance geográfico e espiritual, com todas as suas influências, como inspiração para a construção de um repertório em que através da improvisação e do jazz se possam desbravar novos caminhos.”

Escutar a voz da terra

A ideia central de composição de Mar-Planície inspira-se, assim, na tradição alentejana “da respiração dos espaços e dos tempos, da luz e dos contrastes de sombra, da camaradagem e da construção humana da cultura e do universo.” Como escreve José Luís Peixoto, num texto escrito originalmente para este espectáculo: “Nascemos no interior desta paisagem, desta pronúncia, deste tempo. A terra tem uma voz, somos capazes de escutá-la. Os sobreiros, sob o peso da sua idade, têm uma voz. Andámos por outros lugares, fomos lá longe, cruzámos o horizonte. Atravessámos a planície e, depois, atravessámos o mar. Levámos o que tínhamos aprendido aqui, mas não rejeitámos o que tinham para ensinar-nos lá. E regressámos. Vemos o mundo pelo filtro do Alentejo e vemos o Alentejo pelo filtro do mundo. Somos um coro de sons-palavras-imagens, temos uso para a sabedoria ancestral e para o agora do improviso, do instinto. Sabemos que o mar continua a planície, e vice-versa, um não existe sem o outro, são a mesma coisa.”

Quase 100 espectáculos

O Artes à Rua - Festival de Artes Públicas está a decorrer desde 13 de Julho até 5 de Setembro, acolhendo este ano, segundo a Câmara Municipal de Évora, mais de 300 participantes oriundos de mais de 12 países, entre actores, artistas visuais (escultura, fotografia, pintura ou performance), cantores, bailarinos, músicos e muitos outros, num total de quase 100 espectáculos e intervenções artísticas.

No cartaz do festival estão nomes como Sharon Shannon, Madeleine Peyroux, Moonlight Benjamin, Chico César, Martirio e Chano Dominguez, Manel Cruz, Omiri, Mulheres de Palavra (Uxia, Mynda Guevara, Mara e Emmy Curl), Canções de Roda (com Ana Bacalhau, Jorge Benvinda, Sérgio Godinho e Vitorino) e a ópera Geraldo e Samira, com música de Amílcar Vasques Dias, encenada por F. Pedro Oliveira, com a participação de, entre outros, Nélia Pinheiro, da Companhia de Dança Contemporânea de Évora, cantores líricos como Marco Alves dos Santos ou Natasa Sibalic e do Coro Eborae Musica.

Sugerir correcção
Comentar