Telemóveis topo de gama estão cada vez mais caros. E com mais clientes em Portugal

Em tempos, um topo de gama custava 500 euros. Mas o preço mais que duplicou em dez anos. O segmento premium está a ser mais escolhido em Portugal.

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Mais ecrã, mais câmaras e preços a condizer David Mercado/Reuters

Há dez anos, cobrar entre 500 e 600 euros por um telemóvel – o preço dos primeiros iPhones a chegar ao mercado português – era muito. Hoje, o valor nem chega a metade do preço dos mais recentes topos de gama da Apple, Samsung ou Huawei. 

“Em 2007, pedir mil euros por um telemóvel era absurdo. [Em 2019], um telemóvel de 600 euros é quase considerado de média gama”, resume ao PÚBLICO Francisco Jerónimo, analista da IDC.

Aquelas três marcas ocupam o pódio dos topos de gama mais caros, com aparelhos que ultrapassam a barreira dos 1000 euros. Mas há cada vez mais consumidores em Portugal dispostos a abrir os cordões à bolsa. Dados da IDC mostram que, em 2018, a percentagem de consumidores a optar por telemóveis premium (acima dos 700 euros) era de 13%. No primeiro trimestre de 2019, tinha subido para 14%. Em 2007, rondavam os 5% – mas também eram muito menos os aparelhos a ultrapassar aquele valor.

A tecnologia mudou muito. O primeiro iPhone não tinha aplicações, não permitia enviar mensagens multimédia, não filmava nem vinha com uma câmara na frente para selfies. A Siri – a assistente digital da Apple – estava longe de ser anunciada. As análises do primeiro modelo a chegar a Portugal, o iPhone 3G, com um ecrã de 3,5 polegadas, não destacavam a fotografia (tinha só uma câmara traseira, com dois megapixeis), mas sim a capacidade de o ecrã responder ao toque de vários dedos e ter uma boa luminosidade, o facto de o telemóvel incluir um sistema de corrector ortográfico nas mensagens, e detectar automaticamente redes de Internet sem fios. Custava 499 euros.

 Em 2019, os telemóveis mais caros parecem competir pelo maior número de câmaras, reconhecem a cara e as impressões digitais dos utilizadores, permitem ver vídeos em alta definição, guardar milhares de fotografias e utilizar várias aplicações em simultâneo.

A Apple foi a primeira a ultrapassar a barreira dos mil euros como preço-base de um smartphone (excepção feita a edições de luxo em que fabricantes fazem parcerias com marcas de carros ou de moda). Aconteceu em 2017, com o iPhone X, que custava mais do que os portáteis mais baratos da marca. Um ano mais tarde, o iPhone Xs Max aproximava-se dos 1300 euros na versão menos cara. Mas já em 2014 se podia gastar quase mil euros num aparelho da Apple em Portugal: o iPhone 6 Plus, na versão de topo, custava 999 euros. 

A tendência de criar telemóveis cada vez mais caros faz parte da estratégia para as marcas sobreviverem num mercado a encolher. “Ao aumentar o preço dos topos de gama, as marcas tentam compensar o número de unidades vendidas. Por isso, também têm de aumentar a qualidade do produto, com ecrãs, baterias, e câmaras melhores”, explica Francisco Jerónimo. Esta semana, a Samsung revelou dois novos modelos Galaxy Note – o mais caro custa 1229 euros.

O primeiro iPhone nas mãos do criador REUTERS/KIMBERLY WHITE
O iPhone X custará 1179 euros em Portugal e é o mais caro de sempre (custa mais do que os portáteis mais baratos da marca) REUTERS/ STEPHEN LAM
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O primeiro iPhone nas mãos do criador REUTERS/KIMBERLY WHITE

Durante muito tempo a Apple dominou o mercado dos topos de gama, mas nos últimos anos a Huawei e a Samsung têm conquistado consumidores. Este ano, a marca sul-coreana (cujo telemóvel mais caro à venda, o Samsung Galaxy Note 9, ultrapassa os 1600 euros), derrubou a Apple do primeiro lugar nos primeiros três meses do ano. Entre Janeiro e Março, as marcas que mais venderam telemóveis acima dos 700 euros em Portugal foram a Samsung (com 46% deste segmento) a Apple (39%) e a Huawei (14%). No entanto, o facto de a Apple só lançar modelos em Setembro pode influenciar os números.

“A Apple também já não é conhecida por ser a empresa que traz inovações”, diz Francisco Jerónimo. Do trio, a marca norte-americana é a única que ainda não apresentou um telemóvel dobrável.

Telemóveis dobráveis são o futuro?

Em Fevereiro, a Samsung adiantou-se aos rivais e lançou um telemóvel que se abre para revelar um segundo ecrã, maior, de 7,3 polegadas. O preço: 1980 euros. Pouco depois, a Huawei apresentou também a sua versão de um modelo dobrável. Quando o ecrã está desdobrado, tem oito polegadas. O preço ultrapassa os 2200 euros.

Depois de atrasos nas datas de lançamento originais, ambos os produtos devem chegar ao mercado até ao final de 2019. Os números mostram que os consumidores preferem telemóveis maiores: em 2018, cerca de 87% das vendas de telemóveis em Portugal foram para aparelhos entre seis e 6,5 polegadas.

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A Samsung foi a primeira a anunciar um telemóvel dobrável LUSA/ SAMSUNG ELECTRONICS CO/ HANDOUT

Ainda assim, a tendência – desde 2016 – é para o mercado dos smartphones em geral continuar a decrescer. Embora os consumidores estejam mais disponíveis para gastar dinheiro num aparelho, o ciclo de vida de um telemóvel tem estado a aumentar tanto na Europa como nos EUA. Dados da consultora Kantar Worldpanel notam que em cinco países europeus analisados – França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha – o ciclo de vida de um telemóvel aumentou de 23,4 meses para 26,2 meses entre 2016 e 2018. Nos EUA, o tempo que as pessoas ficam com um telemóvel antes de o trocar também aumentou, de 22,7 meses para 24,7 meses.

A consequência são menos telemóveis vendidos. No segundo trimestre de 2019, por exemplo, foram enviados menos 2,3% de telemóveis para retalho face ao mesmo período de 2018. No primeiro trimestre do ano, a descida tinha sido de 6,6%. Apesar da recuperação, a IDC antecipou ao PÚBLICO que os valores já voltaram a descer para o terceiro trimestre.

“Num mundo de mercados saturados e ofertas semelhantes, longe vão os dias em que um consumidor podia ser convencido a mudar de telemóvel facilmente”, concluem os analistas da Kantar Worldpanel.

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