“Há muita gente que não conduz há anos”. Profissionais da GNR com “receio” de transportar combustíveis

Formação de 45 minutos dada há poucos dias preocupa a Associação Profissional da Guarda, que afirma que “os guardas não estão habilitados”. E alerta: “Está em causa a segurança dos cidadãos.”

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Formação é insuficiente para a Associação de Profissionais da Guarda LUSA/NUNO VEIGA

Na quinta-feira, 1 de Agosto, o mês começa com uma novidade na Base Aérea de Beja. De manhã, cerca de 20 pessoas, entre guardas da GNR, agentes da PSP e soldados das Forças Armadas da zona sul e Algarve, fizeram um dos cursos de formação para substituírem os motoristas de materiais perigosos, se estes não cumprirem os serviços mínimos decretados pelo Governo nesta quarta-feira. “Muita gente há anos que não conduzia”, explica ao PÚBLICO um dos participantes.

“Não nos foi dado nenhum certificado ADR” (carta para condutores de mercadorias perigosas), sintetiza. No entanto, a expectativa era saírem habilitados com esta licença, depois de uma formação para a condução de camiões com atrelados específicos de transporte de combustível.

“Tudo começou às 10h30 e à hora do almoço estávamos despachados”, prosseguiu. De início decorreu cerca de meia hora de palestra com algumas indicações: “Andar devagar, desligar o carro para abastecer, desligar o corta-corrente e ligar o cabo de terra, não deixar ninguém aproximar-se durante a descarga, desligar o telemóvel.” Contas feitas, a sessão não ultrapassa os 45 minutos.

Estas indicações foram dadas por funcionários da PIEL, a empresa de maior dimensão na distribuição de combustíveis da zona sul. “Depois, fizemos um percurso de cinco minutos com o carro pesado com a cisterna carregada de água aos comandos de um camião DAF da frota da empresa”, descreve o motorista.

Como todos os outros, este motorista é detentor da licença C+E que o habilita à condução de pesados com reboque, mas nunca tinha tripulado um veículo de transporte de materiais perigosos. “Havia muitas pessoas que há 20 anos não conduziam este tipo de pesados”, destaca.

“O pessoal está com receio”, admite. “Ninguém está habilitado para fazer este tipo de transporte”, justifica.

Ofício ao MAI

“Isto não faz parte da função de um guarda, a nossa função é a segurança”, critica ao PÚBLICO César Nogueira, presidente da Associação Profissional da Guarda Nacional Republicana.

“Não sei se isto se pode chamar formação, pois não fizeram habilitação para o certificado ADR”, assinala. “Já em Abril, na greve da Páscoa dos motoristas de materiais perigosos, fizeram o mesmo, então pensámos que era um caso pontual”, recorda.

“No primeiro dia do mês e nesta quarta-feira, 7 de Agosto, decorreram duas sessões na Escola da Guarda, em Queluz, com pessoal da GNR, PSP e das Forças Armadas”, revela.

“Não podemos aconselhar os nossos associados a não cumprirem uma ordem, pois seríamos abrangidos pelo código de justiça militar e acusados de desobediência”, explica César Nogueira. Pelo que vão tomar iniciativas junto do poder político.

“Ainda esta quinta-feira vamos enviar um ofício ao MAI [Ministério da Administração Interna]”, anuncia. Nesta missiva, a associação destaca o tipo de formação dada aos seus associados, que considera insuficiente, para além da atribuição de funções que, diz, não se coadunam com as suas missões.

“Apesar das férias parlamentares, vamos também entrar em contacto com os grupos políticos”, anuncia. “Está em causa a segurança dos cidadãos e os nossos guardas não estão habilitados para a condução de materiais perigosos”, insiste o presidente da Associação de Profissionais da Guarda.

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