Governo suspende inquérito polémico aos funcionários públicos

“Elevada visibilidade do assunto em período pré-eleitoral” compromete “fiabilidade dos resultados”, justifica o Ministério das Finanças. CDS diz que inquérito mostra que o PS se acha “dono do Estado”.

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Nuno Ferreira Santos

O Governo mandou suspender temporariamente o inquérito sobre o questionário enviado pela Direcção-Geral da Administração e Emprego Público a 500 mil funcionários públicos sobre o grau de motivação que sentem. O inquérito perguntava aos trabalhadores do Estado se estão satisfeitos com as políticas do actual Governo e se foram afectados pela intervenção da troika em Portugal, no período em que Passos Coelho liderou o executivo.

“O Governo tomou conhecimento esta semana do lançamento da segunda edição de um inquérito sobre questões motivacionais promovido pela DGAEP – Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público. Este inquérito é dirigido a todos os trabalhadores em funções públicas e aborda um conjunto de questões relacionadas com a motivação no trabalho, nomeadamente decorrentes da acção governativa”, diz o Ministério das Finanças em comunicado divulgado esta quinta-feira.

“Considerando que a elevada visibilidade do assunto em período pré-eleitoral pode comprometer a fiabilidade dos resultados, inviabilizando todo o inquérito e a comparabilidade com os resultados obtidos em 2015, o Governo determinou a suspensão temporária do inquérito, e que o preenchimento dos questionários e as fases subsequentes sejam retomados após as eleições legislativas marcadas para dia 6 de Outubro”, acrescenta.

"Aproveitamento inacreditável"

A existência deste inquérito foi dada esta quarta-feira pelo Observador, que titulou Governo aproveita questionário a funcionários públicos para avaliar políticas do PS e do tempo de Passos. A iniciativa foi mal recebida pelos sindicatos e no PSD. “Uma vergonha, um aproveitamento inacreditável dos meios do Estado para recolher informação e sobretudo para tentar apelar ao voto dos funcionários públicos no Partido Socialista”, escreveu o deputado social-democrata Duarte Marques.

O prazo para responder ao actual questionário terminava a 30 de Setembro, a seis dias das eleições legislativas.

Segundo relata o Observador, no questionário há proposições a comentar como “o período da troika influenciou negativamente a minha motivação no trabalho”; “a reposição dos salários afectou positivamente a minha motivação no trabalho”; “o descongelamento progressivo das carreiras é motivador”; “sinto-me hoje mais motivado no trabalho do que há cinco anos”. Respostas possíveis: “Totalmente em desacordo”; “Em desacordo”; “De acordo”; e “Totalmente de acordo”.

Os serviços defenderam que se trata de uma “segunda edição”, umfollow up”, de um questionário feito em 2015 sobre “a motivação dos trabalhadores em funções públicas”. Em resposta ao Observador, a Direcção-Geral da Administração e Emprego Público argumentou ainda que foram os trabalhadores que pediram estas perguntas nas “sugestões” de um anterior inquérito.

Este organismo explicou que o objectivo é “actualizar a informação recolhida, de forma a aferir a tendência evolutiva nos diferentes parâmetros analíticos”. Esclareceu ainda que em 2015 o “questionário esteve aberto em Abril e Maio e o relatório respectivo foi apresentado em Outubro”. Desta vez, o prazo de preenchimento terminava a 30 de Setembro, sendo os dados tratados subsequentemente e o relatório apresentado até final do ano”.

Nesse questionário de 2015, os exemplos de frases a comentar são deste género: “O meu superior hierárquico reconhece a qualidade do meu desempenho”; “sinto-me realizado(a) profissionalmente”; ou “as minhas potencialidades profissionais estão plenamente aproveitadas”.

Já no que toca às sugestões recebidas pelos funcionários, elas passavam por aspectos como o horário de trabalho (na altura, sobre o aumento das 35 para as 40 horas), mas também sobre o congelamento das remunerações e das carreiras.

CDS diz que PS se acha “dono do Estado"

Quem já reagiu foi o deputado do CDS-PP Pedro Mota Soares: “Olhando para o teor de algumas perguntas, considero que o Partido Socialista continua a achar que é dono do Estado. E não é, a função pública é função de todos os portugueses, não é de um único partido político”, disse o deputado, em conferência de imprensa na Assembleia da República, e citado pela agência Lusa.

O centrista assinalou que “não pode valer tudo, não pode valer usar os meios do Estado para fazer campanha eleitoral”. “E por isso mesmo, se calhar sugiro eu uma pergunta ao primeiro-ministro. Quem é que inscreveu aquelas perguntas, quem é que autorizou que aquelas perguntas fossem feitas e o que é que o primeiro-ministro vai fazer para assacar responsabilidades a quem permitiu que aquelas perguntas fossem feitas?”, rematou.

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