Paquistão proíbe filmes indianos e corta ligação ferroviária com a Índia

Primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, justificou a revogação da autonomia de Caxemira com o bem-estar da população local.

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Narendra Modi falou publicamente pela primeira vez da decisão de revogar a autonomia de Caxemira DIVYAKANT SOLANKI / EPA

Nem a poderosa indústria cinematográfica indiana fica imune ao aumento da tensão entre a Índia e o Paquistão por causa da revogação por Nova Deli da autonomia de Caxemira, uma região maioritariamente muçulmana reivindicada pelos dois países, que começa a ter efeitos práticos.

As autoridades paquistanesas anunciaram esta quinta-feira a proibição da exibição de filmes indianos, algo que não é inédito e que já aconteceu noutras ocasiões de maior confronto. Apesar da rivalidade entre os dois países, os filmes produzidos em Bollywood são muito populares no Paquistão.

Desde 2016 que a Índia proíbe a participação de actores paquistaneses nos seus filmes, como retaliação por um ataque contra uma base militar em Caxemira, que Nova Deli atribuiu a grupos terroristas apoiados por Islamabad.

Como prova de que os ânimos fervem na região, os produtores de cinema indianos não criticaram a decisão, apesar de reconhecerem potenciais danos económicos. “Os interesses nacionais estão acima de tudo”, disse à Reuters o observador da indústria cinematográfica Atul Mohan.

A decisão do Governo nacionalista indiano conhecida esta semana de revogar a autonomia do estado de Jammu e Caxemira, concedida pela própria Constituição indiana, enfureceu o Paquistão. Desde a independência da antiga colónia britânica, em 1947, que Caxemira foi um ponto de divergência entre a Índia e o Paquistão. Ambos reivindicam o território, e por três vezes pegaram nas armas por sua causa, mas nenhuma das potências nucleares o controla na totalidade.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pronunciou-se publicamente esta quinta-feira pela primeira vez sobre a revogação da autonomia de Caxemira, justificando a decisão como uma forma de melhorar a vida dos habitantes da região. “O povo em Caxemira costumava ser deixado para trás em termos de infra-estruturas e direitos que são gozados no resto da Índia”, disse o chefe de Governo.

O Paquistão tem tentado aumentar a pressão diplomática sobre a Índia para forçar um recuo. Na quinta-feira, as autoridades paquistanesas suspenderam a ligação ferroviária entre Lahore e Nova Deli. Trata-se de um sinal forte. O Expresso Samjhauta, que significa “compromisso” em hindu, liga os dois países desde 1976, e faz parte das disposições do Tratado de Simla, na sequência da guerra de libertação do Bangladesh.

Na véspera, o Governo disse que iria expulsar o embaixador indiano em Islamabad e chamar de volta o enviado diplomático na Índia. No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Shah Mehmood Qureshi, rejeitou qualquer solução militar.

Teme-se que no terreno a situação dê azo a episódios de violência. A Índia reforçou a presença militar em Caxemira, onde já tem 700 mil soldados estacionados. Notícias não confirmadas relatam a detenção de centenas de personalidades locais – políticos, activistas, professores.

Um porta-voz das Nações Unidas considerou “profundamente preocupantes” as restrições impostas na Caxemira – que está sob recolher obrigatório desde a madrugada de domingo, com milhares de militares indianos nas ruas e todas as comunicações com o exterior foram cortadas, relata a BBC.

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