Impeachment: American Crime Story — a próxima série é sobre os Clinton e em época de eleições nos EUA

Monica Lewinsky será uma das produtoras. Perante críticas quanto ao timing da estreia, o presidente do canal acha que negar a possibilidade de fazer arte sobre o tema é “tóxico”.

,Estados Unidos
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Bill e Hillary Clinton em 1999 Reuters
,Impeachment de Bill Clinton
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Bill Clinton e Monica Lewinsky Reuters/HO
Monica Lewinsky
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Monica Lewinsky em 2015 JONATHAN ALCORN/Reuters
,Beverly Wilshire, um hotel de quatro estações
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Beanie Feldstein, estrela de "Booksmart" e da Broadway vai ser Monica Lewinsky getty images

A próxima temporada da série American Crime Story, que se foca em crimes reais da história recente dos EUA, será sobre o impeachment de Bill Clinton. O projecto já era conhecido mas ganhou agora uma data de estreia: 27 de Setembro de 2020, semanas antes das eleições presidenciais norte-americanas. O presidente do canal FX, John Landgraf, defendeu-se das críticas e perguntas sobre o timing de exibição de uma série sobre o assédio do Presidente democrata nos anos 1990 dizendo: “Não acredito que vá determinar quem é o próximo Presidente dos Estados Unidos”.

A nova série terá Beanie Feldstein, estrela de Booksmart e da Broadway, no papel de Monica Lewinsky, e Annaleigh Ashford como Paula Jones, ou seja as duas mulheres que acusaram Bill Clinton de assédio sexual e que se tornaram centrais num dos maiores escândalos políticos do século XX. O processo de impeachment encetado em 1998 manchou a presidência democrata e contaminou o nome do casal Hillary e Bill Clinton. Monica Lewinsky viveu décadas traumatizada pelo caso, alvo de piadas e de exposição mediática intensa, e nos últimos anos a sua imagem tem sido reabilitada graças ao seu trabalho de activismo, agora enquadrado no movimento #MeToo, e ao novo olhar sobre o seu percurso e experiência.

Agora, Lewinsky será também produtora da série, o que foi determinante para que o projecto avançasse – Murphy tinha os direitos de adaptação do livro A Vast Conspiracy: The Real Story of the Sex Scandal That Nearly Brought Down a President, de Jeffrey Toobin, desde 2017, mas fez a série depender da participação da ex-estagiária da Casa Branca. “Hesitei e na verdade tive mais do que um pouco de medo de aceitar”, diz Lewinsky em comunicado enviado à revista Vanity Fair. “As pessoas têm cooptado e contado a minha parte desta história há décadas. De facto, só nos últimos anos é que pude reclamar integralmente a minha narrativa; quase 20 anos mais tarde.” Monica Lewinksy recorda que este é um problema que a ultrapassa e que tem a ver com dinâmicas de poder e que o tema é “persistente”. Esta não será a primeira vez que fala do tema numa série, tendo participado numa série documental intitulada The Clinton Affair (2018). 

O influente presidente do canal FXJohn Landgraf, acredita que “as pessoas vão estar muito interessadas nisto por alturas da eleição presidencial e vai ser uma óptima série”, como respondeu a um jornalista presente no evento da Television Critics Association (TCA) sobre o timing da estreia, seis semanas antes da ida às urnas dos americanos, a 5 de Novembro. Como relata a revista Hollywood Reporter, presente na conferência de imprensa de terça-feira, perante a insistência da imprensa sobre a escolha do timing para a estreia dado o clima social e a agenda política, o responsável alongou-se um pouco mais perante as críticas que surgiram também nas redes sociais. “Isso só diz ‘não podemos ter conversas, não podemos fazer arte, não podemos ter nuances, nem sequer esperar para julgar isso’”, considerou, postulando que tal “é tóxico para o ambiente dos media”. E prosseguiu: “Não acredito que vá determinar quem é o próximo Presidente dos Estados Unidos”.

“O facto de a própria Monica estar envolvida diz algo sobre a qualidade do material e a vibração que aquela história revisionista pode ter hoje… A forma como percepcionamos muitas das personagens — particularmente as mulheres — transformou-se por muitos factores como o movimento #MeToo”, disse ainda Landgraf, citado desta feita pela revista Entertainment Weekly. Para o responsável do canal, a série vai explorar as dimensões negligenciadas das mulheres que foram envolvidas no escândalo e na guerra política que ensombrou a presidência Clinton”.

As duas primeiras temporadas da série de antologia (cada temporada tem elencos e histórias independentes) centraram-se no julgamento de O.J. Simpson e no assassinato do criador de moda Gianni Versace. Nos EUA, passam no canal por subscrição FX e em Portugal foram exibidas no canal Fox e Fox Life, respectivamente, estando também agora disponíveis na Netflix.

“O franchise American Crime Story tornou-se uma pedra de toque cultural, fornecendo um contexto mais alargado para histórias que merecem maior compreensão como o julgamento e a saga O.J. Simpson e os trágicos crimes de Andrew Cunanan que terminaram com o homicídio de Gianni Versace”, disse John Landgraf em comunicado libertado esta terça-feira durante o encontro da TCA que tem alimentado a semana com novidades televisivas dos EUA. Landgraf, o autor da expressão “Peak TV” que há anos ajuda a definir a profusão de produção televisiva fomentada pelo advento do streaming e proliferação de plataformas de produção tradicionais e online, anunciava assim o regresso da série de sucesso cunhada por Ryan Murphy (American Horror Story, Glee) depois de ter ficado pelo caminho o que chegou a ser o tema para a sua terceira temporada: o furacão Katrina.

Impeachment: American Crime Story, que voltará a contar com Sarah Paulson, uma favorita de Murphy, no papel de Linda Tripp, a funcionária que gravou algumas das conversas entre Clinton e Lewinsky, é escrita por Sarah Burgess com base no livro de Jeffrey Toobin.

Não se sabe ainda quem serão os actores a encarnar Hillary e Bill Clinton, nem o procurador Kenneth Starr. A série entrará em produção em Fevereiro de 2020.

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