Origem do gado crioulo das Américas não é (afinal) só ibérica

Populações do gado crioulo americano receberam um importante contributo genético importante de raças de outros continentes, nomeadamente do continente africano.

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Vaca crioula do Uruguai Luís Gama

O gado crioulo das Américas – população de gado bovino – tem “múltiplas origens” e uma “identidade única”, que difere entre as raças europeias e africanas, concluiu uma equipa internacional, co-liderada por uma investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio) da Universidade do Porto, com sede em Vila do Conde.

Publicado esta quarta-feira na revista Scientific Reports, o estudo teve como objectivo perceber qual a origem do gado crioulo das Américas, uma vez que os estudos anteriormente realizados não permitiam chegar a “um consenso quanto ao contributo” de raças provenientes de outros continentes, explica o Cibio-InBio em comunicado.

“O gado bovino não existia nas Américas até ao final do século XV quando os primeiros animais foram introduzidos”, sublinha o centro, acrescentando que, por essa razão, a equipa de investigadores analisou “diversos marcadores genéticos de um número sem precedentes de bovinos”.

Os investigadores de 14 instituições científicas, incluindo Luís Gama, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, analisaram quase cinco mil indivíduos oriundos de mais de 100 populações, entre elas o gado crioulo das Américas e raças com origem na Península Ibérica, Europa Continental, Inglaterra, África e Índia. 

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Vaca barrosã, uma raça bovina autóctone portuguesa Joaquim Pedro Ferreira

Através das análises genéticas, o estudo desvendou que a origem do gado crioulo americano “não é exclusivamente ibérica”, contando a constituição destas populações com um “importante contributo” de raças de outros continentes, nomeadamente do continente africano. 

Além de concluírem que esta população de gado bovino teve “múltiplas origens”, os investigadores afirmam ainda que o “nível de diversidade” do gado crioulo das Américas “varia bastante” entre regiões, nomeadamente, consoante o contributo das raças oriundas de outros continentes. 

Catarina Ginja, primeira autora do artigo e investigadora do Cibio-InBio salienta que, além deste estudo confirmar o contributo das raças de gado ibérico, aponta também para “um importante contributo de bovinos de outras regiões”: “Um exemplo são as populações de gado crioulo do Brasil, Panamá, México e Colômbia, que apresentam uma clara contribuição africana na sua composição genética.”

Os investigadores acreditam agora ser necessário aprofundar o conhecimento sobre a composição genética desta população – nomeadamente, refere-se ainda no comunicado, através do “uso das modernas técnicas de genómica, para investigar a sua adaptação a ambientes específicos, promovendo assim a gestão mais eficiente e a conservação destes recursos genéticos únicos numa região onde se encontram os maiores produtores mundiais de gado bovino”.

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