Hiroshima e Nagasaki, há tão pouco tempo

Rasgar tratados que impediam a corrida aos armamentos é um toque de chamamento à corrida ao refinamento das armas de destruição massiva, fazendo-os matar mais e mais.

Há setenta e quatro anos a Administração dos EUA lançou sobre Hiroshima uma bomba atómica com base em urânio enriquecido, apesar de o Japão já estar derrotado. Dois dias depois fizeram explodir em Nagasaki outra bomba atómica à base de plutónio.

Os EUA queriam apresentar-se ao mundo como detentores da arma que lhes assegurava o domínio mundial. E para tanto sacrificaram as indefesas populações daquelas duas cidades. As dezenas de milhares de mortos nada pesaram na consciência dos governantes norte-americanos. A ilusão durou pouco tempo. A URSS fabricou as suas bombas atómicas e outros países se seguiram. O mundo ficou à mercê de meia dúzia de Estados.

Na altura grande parte da imprensa mundial louvava a capacidade de se resolverem conflitos por aquela via, o que se apresentava como sendo mais simples e menos oneroso esturricar dezenas de milhares de civis e militares na explosão atómica e nos efeitos da radiação. A capacidade de matar de um só golpe dezenas de milhares de seres humanos passou a ser considerado positivo, pois o facto de alguém a possuir impedia a guerra. Hoje as armas nucleares têm uma potência destruidora muitas vezes superiores às duas deflagradas. Um país como Portugal em caso de sofrer uma explosão nuclear derivado de uma bomba poderia ser totalmente destruído tendo em conta as mortes instantâneas e os devastadores efeitos das radiações.

 Na guerra morrer de uma golpe de espada, de uma mina, de um tiro é sempre tirar vidas. A morte provocada pela guerra é algo bárbaro, sobretudo quando a Humanidade alcançou um patamar de civilização que deve permitir beneficiar de uma vida em paz. A guerra é hoje considerada pelo direito internacional como sendo ilegal. E na consciência cívica é um horror. O nosso mundo é pequeno demais para tanta ambição de domínio. As armas nucleares estejam nas mãos de quem estiverem são uma verdadeira ameaça à vida humana e à da própria natureza.

Rasgar tratados que impediam a corrida aos armamentos é um toque de chamamento à corrida ao refinamento das armas de destruição massiva, fazendo-os matar mais e mais. Algo que fará a Terra repousar em cima de potencialidades destruidoras terríveis.

É caso para perguntar como se pode perseguir semelhante desígnio bem sabendo que outros tentarão sempre alcançar ou até ultrapassar a capacidade de destruição das vidas existentes? Que loucura nos invadiu? Sim os governos são os principais responsáveis, mas nós temos o poder de nos mobilizar para que se impeça que continue este caminho para o precipício.

Imaginemos apenas que por erro um país é atingido por uma arma nuclear, o que se seguiria? Os destinos da Humanidade não podem estar apenas nas mãos dos governantes.

É possível mudar o rumo. Basta que se exija dos governos que jamais sejam os primeiros a utilizar as armas nucleares, mesmo quando prometem fazer do seu país grande independentemente dos outros. A Terra é de todos. A comunidade internacional é constituída por todas as nações. Todos precisam de viver em paz. O domínio não é uma palavra que se adeqúe ao novo século. Que o digam todos os impérios que se consideraram invencíveis.

Setenta e quatro anos depois do bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki é tempo de interiorizar que o sonho milenar de viver em paz é possível. Basta querer e não deixar os outros fazerem da maldade suprema o norte do mundo. Não se pode fugir a este desafio. O mundo é pequeno demais para os ambiciosos loucos que o que querem só para si.

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