Polícia recomenda acusação de vice-ministro israelita por proteger pedófila

Yaakov Litzman, vice-ministro da Saúde e líder do partido Judaísmo Unido da Torah, é suspeito de ajudar directora de escola que enfrenta 74 acusações de abuso sexual e violação.

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Yaakov Litzman manteve-se no cargo - o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu precisa dele para uma coligação de direita Reuters

O caso do vice-ministro da Saúde de Israel, Yaakov Litzman, suspeito de ajudar vários suspeitos de abuso sexual e violação, incluindo pedófilos e ainda um homicida, deu esta terça-feira mais um passo com a recomendação formal da polícia para uma acusação.

A polícia centra-se, segundo o jornal israelita Haaretz, no caso da antiga directora de uma escola ultra-ortodoxa feminina em Melbourne, Malka Leifer, que enfrenta 74 acusações de antigas alunas por abuso sexual e violação. 

Leifer deixou a Austrália em 2008, quando surgiram as primeiras suspeitas, e a polícia diz que Litzman ajudou a acusada a evitar extradição, pedida pelas autoridades australianas desde 2014, com base no seu estado de saúde mental. A escola foi condenada a pagar mais de um milhão de dólares em indemnizações em 2015.

Em 2016, um tribunal israelita decidiu que Leifer não estava apta psicologicamente a enfrentar extradição e julgamento, mas suspeita-se que a base possa ter sido um relatório que um psiquiatra tenha falsificado sob pressão do vice-ministro.

Uma investigação privada filmou Leifer – que a dada altura, após o pedido de extradição, tinha sido mesmo internada em instituições de saúde mental – a viver uma vida aparentemente normal e sem qualquer sinal de doença. Em 2018, Leifer voltou a ser presa e aguarda agora uma nova decisão face à extradição, que se espera para Setembro.

A polícia disse agora ter encontrado provas suficientes para acusar o vice-ministro (que apesar de vice, tem poderes equivalentes a um ministro) de fraude, quebra de confiança e pressão de testemunhas. Litzman, que nega todas as acusações, não foi preso, e aguarda agora uma decisão do procurador à sugestão da polícia.

Já desde Maio que há suspeitas sobre o líder do partido ultra-ortodoxo Judaísmo Unido da Torah: na altura, uma investigação do canal 13 da TV israelita enumerava suspeitas de que Liztman teria ajudado pelo menos dez agressores sexuais a ter melhores condições de detenção, incluindo saídas precárias e outras benesses, pressionando psiquiatras e responsáveis dos serviços prisionais. Entre os criminosos, ultra-ortodoxos, que Litzman apoiou estavam pedófilos e violadores condenados, um deles também por assassínio de uma jovem que violou.

Eleições complicaram caso

Yaakov Litzman participa na coligação de direita nacionalista e religiosa do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Em Maio, Netanyahu estava a tentar formar de novo um governo de direita religiosa e nacionalista, para o qual teria de contar com o Judaísmo Unido da Torah, devido à muito curta maioria de que o seu bloco dispunha. Acabou por não conseguir uma coligação porque o nacionalista Avigdor Lieberman não se quis juntar ao Governo, e as eleições vão ser repetidas a 17 de Setembro.

O facto de Litzman ter continuado, e continuar, no Governo é visto com incredulidade por activistas contra abuso sexual de menores em Israel, vítimas, e por grupos judaicos australianos.

“Não há dúvidas de que as eleições criaram uma série de instabilidades em Israel, e esta é uma delas”, disse Jeremy Leibler, presidente da Federação Sionista da Austrália, no mês passado, ao diário britânico The Guardian, ainda antes da recomendação da polícia.

“Foi muito estranho ver como depois das alegações se terem tornado públicas, tudo continuou igual para o Governo”, disse Manny Waks, do grupo Kol V’Oz, com sede em Israel mas que se dedica à luta contra abuso sexual de menores na comunidade judaica global, também ao Guardian. “Foi um grande desapontamento, e incompreensível.”

“A comunidade judaica australiana, penso que a comunidade australiana em geral, está muito desapontada com o tempo que isto tem demorado”, disse ainda Leibler. “O facto de ter havido 50 audiências… é extremamente frustrante.”

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