Google abre leilão para sugerir motores de busca rivais nos telemóveis Android

Pequenos rivais protestam e acusam a multinacional de tratar a Europa como uma “colónia digital”.

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O motor de busca do Google está integrado nos telemóveis Android Eric Gaillard / Reuters

Os telemóveis Android vendidos na União Europeia vão passar a sugerir vários motores de busca, além do Google, para os utilizadores experimentarem quando ligam os aparelhos pela primeira vez. A partir de 2020, qualquer pessoa que configurar um dispositivo novo terá acesso a uma lista com quatro opções, que variam de país para país, para escolher o motor de pesquisa padrão. Um dos lugares será sempre dedicado ao motor do Google, que desenvolve o Android, e as restantes empresas terão de pagar.

O Google abriu um leilão para os três lugares vagos. Os motores de busca interessados têm definir quanto é que estão dispostos a pagar ao Google de cada vez que um utilizador os seleccionar. Há um valor mínimo de participação, que o Google não divulgou.

Esta estratégia foi a forma escolhida pela multinacional para ir ao encontro das exigências dos reguladores europeus que condenaram o Google de abuso de posição dominante por disponibilizar o seu motor de busca como padrão em todos os telemóveis com o sistema operativo Android. A ideia de uma lista de alternativas chega um ano depois da multa recorde de 4340 milhões de euros da Comissão Europeia por abuso de posição dominante. Em Outubro de 2018, o O Google anunciou que ia lutar contra a multa recorde, mas nos últimos meses têm experimentado várias soluções para as questões levantadas pela Comissão. ​

A nova lista deve satisfazer os requerimentos da União Europeia ao dar mais variedade aos utilizadores. Mas há limites. Todos motores de busca escolhidos pelo Google para a lista têm de ser generalistas (ou seja, não se podem focar em áreas específicas), têm de funcionar na língua do país em que vão ser utilizados, e têm estar disponíveis gratuitamente na loja de aplicações do Google. 

A listagem de alternativas ao Google é semelhante ao que a Microsoft teve de fazer em tempos com os browsers para computador, dando aos utilizadores do Windows na União Europeia mais opções para além do Internet Explorer. Os browsers, no entanto, tinham sido escolhidos pela popularidade e não pagavam nada à empresa.

Rivais criticam modelo de selecção

Os concorrentes do Google têm reservas e o facto de o Google não divulgar o valor das propostas feitas é um dos problemas. Em declarações à Bloomberg, Eric Leandri, presidente executivo da Qwant, um motor de busca com sede em Paris, descreve o leilão proposto como um “abuso total da posição dominante” por “pedir dinheiro para mostrar uma lista de alternativas.” Para Leandri, “os motores de busca não podem ser escolhidos com base na capacidade de financiarem ou serem financiados pelo Google.”

A equipa do Cliqz, um motor de busca alemão, também critica a estratégia do Google. “Se a empresa capaz de fazer a melhor proposta ganhar o contrato em vez da empresa com o melhor motor de busca, é o utilizador que perde”, disse Marc Al-Hames, presidente executivo da Cliqz, num comunicado enviado à imprensa. Numa publicação no Twitter, Al-Hames compara a atitude do Google à de um colonizador, que vê a Europa como uma “colónia digital”.

O Google defende-se. “Não há outros custos associados”, clarifica a equipa do Android num comunicado sobre detalhes do leilão. “Em particular, não há quaisquer taxas para fazer parte das listas, e não há taxas para os motores de busca que sejam escolhidos para as listas mas nunca sejam seleccionados pelos utilizadores.” A equipa do Google acrescenta  ainda que sempre foi possível (e vai continuar a ser possível), pesquisar e descarregar um motor de busca alternativo para utilizar a partir da loja de aplicações do Google. “Os utilizadores podem apagar o motor de pesquisa que foi seleccionado na lista inicial, adicionar motores de pesquisa adicionais, mudar o motor de pesquisa padrão do Chrome [navegador do Google], ou alterar, remover ou substituir a barra de pesquisa no ecrã inicial do telemóvel”, lê-se no comunicado.

A União Europeia já anunciou que planeia monitorizar de perto o processo de selecção do Google, que é visto como positivo pelos reguladores. “Motores de busca rivais podem agora criar acordos exclusivos com fabricantes de smartphone e tablets. E isso não era possível antes”, disse um porta-voz da Comissão Europeia. “No passado, temos visto que um ecrã com alternativas pode ser uma boa forma de promover a escolha [de diferentes serviços] por parte dos utilizadores.”

A data limite para as empresas se candidatarem às listas do Google é 13 de Setembro. Os resultados serão conhecidos no dia 31 de Outubro.

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