Greve paralisa Hong Kong, polícia responde com gás lacrimogéneo

Manifestações superaram protestos anteriores em escala e intensidade. Líder do governo diz que fórmula “um país, dois sistemas” está em risco.

Paramédicos tratam um manifestante inconsciente
Fotogaleria
Paramédicos tratam um manifestante inconsciente MIGUEL CANDELA/EPA
Manifestantes tentam proteger-se do gás lacrimogéneo
Fotogaleria
Manifestantes tentam proteger-se do gás lacrimogéneo MIGUEL CANDELA/EPA
Entre os locais ocupados por manifestantes estavam centros comerciais
Fotogaleria
Entre os locais ocupados por manifestantes estavam centros comerciais MIGUEL CANDELA/EPA

A polícia disparou esta segunda-feira gás lacrimogéneo contra manifestantes em várias partes de Hong Kong, depois de uma greve geral ter afectado o sistema de transportes e a líder do governo, Carrie Lam, ter declarado que a “soberania” e a prosperidade da cidade estavam em risco.

As manifestações superaram acções anteriores tanto em escala como em intensidade, aparentemente em reacção à recusa de Lam considerar qualquer das reivindicações dos protestos.

Os habitantes de Hong Kong começaram a sair à rua a 9 de Junho contra uma proposta de lei que permitiria extradição e julgamento na China continental, onde o sistema judicial oferece menos garantias de independência (segundo o índice do World Justice Project, Hong Kong aparece em 16º lugar e a China em 80º quanto ao respeito das regras do Estado de direito.)   

Mesmo depois de Lam dizer que a proposta não ia ser debatida na câmara legislativa, os manifestantes mantiveram-se nas ruas, exigindo a sua revogação e não suspensão. Passaram a pedir a demissão da chefe do executivo, a libertação imediata de todos os detidos nas manifestações, e que a escolha do próximo chefe de governo fosse feita por sufrágio universal e directo.

Estes protestos repetidos são agora a maior ameaça ao governo de Hong Kong desde 1997, quando a soberania foi transferida do Reino Unido para a China – a região tem desde então um estatuto especial, sob o mote “um país, dois sistemas”, com as suas próprias leis e liberdades, que os chineses da parte continental não têm.

A greve desta segunda-feira conseguiu provocar grandes perturbações no trânsito automóvel, circulação de comboios, e levou ao cancelamento de centenas de voos. Dezenas de milhares de manifestantes estiveram presentes na maior parte das três regiões da cidade. Houve estradas ocupadas e cortadas, assim como três túneis.

Num local do distrito de Yuen Long, um carro foi contra uma barricada feita pelos manifestantes. À noite, um grupo de homens armados com paus tentaram atacar os manifestantes em North Point. Um ataque anterior do que se pensa terem sido membros de tríades (máfias chinesas) a manifestantes no metro e transeuntes levou a críticas de impassibilidade da polícia.

Lam, que já tinha classificado anteriormente os manifestantes como “amotinados”, disse desta vez: “As acções ilegais dos manifestantes desafiam a soberania do nosso país, põem em risco a fórmula ‘um país, dois sistemas’, e vão destruir a paz e estabilidade de Hong Kong”. Muitos viram a referência à soberania com um sinal de potencial intervenção do regime de Xi Jinping. 

“Não acredito que o governo esteja a fazer alguma coisa para apaziguar a sociedade”, disse à Reuters Jay Leung, 20 anos, que participava nos protestos. “Não estão a dar qualquer solução”, concluiu. “Não ouvi nada de positivo”, disse pelo seu lado Russell, 38 anos, que não quis dizer o apelido. “Só piorou tudo.”

Sugerir correcção
Ler 2 comentários