Carros a gás natural comprimido – uma alternativa viável?

O SEAT Arona é um dos quatro modelos propulsionados a gás natural comprimido que a SEAT vende em Portugal, onde outras marcas também arriscam este investimento. Porém falta o essencial: uma rede de postos de abastecimento.

Em Portugal, apesar do seu número residual, as viaturas a GNC já têm vários benefícios fiscais
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Em Portugal, apesar do seu número residual, as viaturas a GNC já têm vários benefícios fiscais DR
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O que leva a SEAT a comercializar viaturas que usam gás natural comprimido (GNC), quando a rede de abastecimento em Portugal é praticamente inexistente? E porque é que outras marcas também têm à venda veículos a GNC? O que à primeira vista parece absurdo tem uma explicação lógica: o GNC é o menos poluente e mais económico de todos os combustíveis fósseis e também pode ser obtido de fontes renováveis (metano emitido por lixeiras, explorações pecuárias, etc.), o chamado biogás.

Por isso mesmo, a UE vê os veículos a GNC como uma alternativa viável aos veículos eléctricos e através de normas e recomendações está a tentar incentivar a sua difusão. Em Portugal, apesar do seu número residual, as viaturas a GNC já têm vários benefícios fiscais: redução na Tributação Autónoma para 7,5%, 15% e 27,5% nos três escalões, redução do Imposto sobre Veículos para 40%, dedução de 50% no IVA pago pelas empresas na aquisição destas viaturas até 37.500€ e 50% no IVA destes combustíveis.

Ainda assim, no ano passado só foram vendidos 20 veículos deste tipo por só haver menos de uma dúzia de postos em todo o país. Em Espanha, há quatro anos, a situação era semelhante à de hoje em Portugal; actualmente já existem 68 postos de GNC/GNL espalhados pelo país, que serão 300 a 400 num prazo de cinco anos.

Ao incluir os veículos a gás natural no seu catálogo em Portugal, a SEAT e outras marcas dão o pontapé de saída para “obrigar” à criação de uma rede alargada de GNC que, num futuro próximo, cubra todo o país. Há negociações com distribuidoras como a Dourogás e a Galp para o estabelecimento de mais postos de gás natural comprimido em simultâneo com gás natural liquefeito (GNL, destinado a veículos pesados). 

Gasolina ou GNC?

Quais as diferenças entre um Arona a gasolina e um a gás natural comprimido (GNC)? Com isto em mente, iniciámos o teste. E, exactamente com o mesmo motor 1.0 tricilíndrico, concluímos que a versão a gasolina é mais potente (95cv para 90cv), mais célere (11,6s de 0+100km/h para 13,2s) e mais barata cerca de mil euros na versão mais básica. Porém, nos consumos convertidos em euros a versão GNC ganha por goleada: o gasolina reclama gastar 5,7 l/100km (cerca de nove euros), enquanto a versão a GNC gasta 4,2 kg/100km (menos de cinco euros).

Para os mesmos 100km, um veículo a GPL similar ao Arona GNC consome pouco mais de 5€ em combustível. Porém, o GPL, ao contrário do GNC, será sempre um combustível fóssil derivado do petróleo, mais poluente e mais inflamável. Daí a aposta das entidades europeias no GNC em detrimento do GPL. A grande e única vantagem do GPL é a existência de uma rede de postos que cobre todo o país (como é um derivado da refinação da gasolina e do gasóleo, houve necessidade de criar condições para o seu escoamento e utilização). 

GNC versus electricidade

A superioridade do GNC face aos combustíveis fósseis já foi explicada. Mas e em comparação com os veículos eléctricos (VE)? Em termos de utilização, as viaturas eléctricas são menos poluentes. As emissões médias de CO2 de um VE, “do poço à roda” (isto é, considerando a fonte de produção de energia e o consumo), são 60 g/km face aos 103 g/km de um veículo a GNC (se forem de origem 100% renovável, as emissões de um VE serão 0% e de uma viatura a GNC, 24%). Porém, os veículos eléctricos apresentam um problema ambiental adicional que ainda não foi resolvido: a reciclagem das baterias em fim de vida útil.

Os custos de utilização de um VE são menores (entre 1€ a 1,5€ por 100km) que os de um carro a GNC (4,3€ a 4,8€/100km), mas o custo de aquisição de um VE é muito superior – um Renault Zoe com 95cv tem um preço de 28.000€ com aluguer de bateria (desde 69€/mês) ou 35.000€ na compra integral. 

Já nas contas relativamente à manutenção, os automóveis a GNC ficam em desvantagem face a qualquer eléctrico, com um número menor de componentes e de desgaste. 

Depois, há a questão da autonomia. Os veículos eléctricos registam assinaláveis progressos e este Zoe consegue percorrer mais de 300km, mas depois tem de parar para recarregar. O SEAT Arona tem cerca de 350km de autonomia, mas se se acabar o gás tem um depósito de 9 litros de gasolina que, em caso de emergência, lhe permite fazer mais 150km – é um veículo híbrido, embora o seu funcionamento normal seja sempre a GNC (a SEAT recomenda deixar esgotar o gás e utilizar a gasolina de 6 em 6 meses para evitar que esta se degrade). Aliás, o facto de só ter um depósito de 9 litros é por motivos fiscais e na ficha técnica só é fornecido o consumo de GNC.

Impressões de condução

Como é conduzir este SEAT Arona a GNC? Face ao “irmão” a gasolina as diferenças são imperceptíveis. Nota-se um certo défice de potência nas recuperações e acelerações (a variante de 115cv a gasolina despacha-se melhor). Já quanto à manobrabilidade, estabilidade, conforto, facilidades de condução e de estacionamento, as impressões foram muito positivas. Acresce que o veículo que nos foi disponibilizado estava bem equipado: vinha com o nível superior de equipamento, FR, a que se somavam alguns opcionais auxiliares de condução e de conforto e vida a bordo. Em cerca de 200 quilómetros num percurso variado, com auto-estrada, estrada normal e condução em cidade, fizemos uma média de 4,0 kg/100km. Com um preço de 1,15€/kg, citando o actual secretário-geral da ONU, “é só fazer as contas” – dá para ir de Lisboa a Faro por menos de 12 euros…

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