Taxas de juro da dívida portuguesa ao nível mais baixo de sempre

Juros da dívida portuguesa a 10 anos acompanham tendência geral na zona euro e aproximam-se de zero.

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Reuters/DYLAN MARTINEZ

A perspectiva de uma deterioração ainda maior da economia mundial em resultado de um aumento da tensão nas relações comerciais entre as maiores potências está a levar os mercados a apostar num cenário prolongado de taxas de juro ainda mais baixas, e a dívida pública portuguesa acaba por sair beneficiada.

Esta segunda-feira, as taxas de juro a 10 anos da dívida pública portuguesa atingiram o valor mais baixo de sempre, aproveitando o clima geral do mercado em que, para além de se apostar numa política monetária ainda mais expansionista, se regista a tendência de passagem dos investidores de acções para obrigações.

Desde que os Estados Unidos anunciaram uma nova subida das taxas alfandegárias sobre os produtos chineses, o valor dos títulos de dívida pública, em contraponto com a queda das acções, tem estado a subir na Europa e nos Estados Unidos, o que significa uma descida das taxas de juro implícitas nos mercados. No caso da dívida pública portuguesa a 10 anos, durante a manhã desta segunda-feira, registou-se uma descida de 0,3% para 0,28%, batendo-se o valor mínimo histórico deste indicador.

Portugal volta deste modo a aproximar-se de taxas de juro negativas no prazo a 10 anos (o que significaria que os investidores estariam dispostos a pagar por emprestar dinheiro ao Estado português a 10 anos), algo que já acontece em vários países da zona euro. Esta segunda-feira, as taxas de juro a 10 anos da Alemanha baixaram a barreira dos -0,5%. E, pela primeira vez na história, viram as taxas de juro das suas emissões de dívida pública a 30 anos entrar em terreno negativo.

A dívida pública portuguesa já regista taxas de juro negativas em prazos mais curtos. A cinco anos, o valor estava esta manhã em -0,24%.

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A descida do valor das taxas de juro da dívida portuguesa tem sido motivada, nos últimos anos, por diversos factores. Por um lado, a maior confiança dos investidores na saúde das finanças públicas portuguesas (reforçada com a melhoria das classificações atribuídas pelas agências de rating) faz com que o diferencial da dívida portuguesa face a outros títulos europeus, como o alemão, se tenha estreitado de forma significativa. A dez anos, encontra-se neste momento perto dos 0,8 pontos percentuais.

Depois, durante as últimas semanas, reforçou-se a perspectiva de manutenção por um longo período de tempo da política expansionista por parte do BCE, com taxas de juro potencialmente ainda mais baixas. Isto faz com que se registe uma descida generalizada das taxas de juro da dívida dos países da zona euro.

Nos últimos dias, com a nova escalada no conflito comercial entre os EUA e a China (que está a ter esta segunda-feira mais um episódio), não só a perspectiva de políticas expansionistas por parte dos bancos centrais se acentua, como se verifica o efeito de transferência de investimentos das acções para as obrigações, o que provoca novas descidas das taxas de juro, por via do aumento da procura.

O Tesouro português tem vindo nos últimos meses a tentar aproveitar este nível baixo de taxas de juro para realizar emissões de dívida de mais longo prazo, e realizando operações em que substitui dívidas antigas (com taxas mais elevadas) por emissões novas.

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