Desenho de Egon Schiele descoberto numa loja de artigos em segunda mão

“Em 90% dos casos, as pessoas estão erradas. A maioria são falsificações, cópias egrégias”, diz a a directora da Galeria St. Etienne, agora na posse do desenho de Schiele encontrado numa loja de beneficiência.

Foto
Um dos desenhos de Egon Schiele datado de 1918, pouco antes do pintor austríaco morrer de gripe espanhola dr

Em Junho de 2018, Jane Kallir, co-directora da Galeria St. Etienne, em Nova Iorque, recebeu um e-mail de um atento desconhecido que informava ter em sua posse um possível desenho original de Egon Schiele.

Esta especialista internacional em Expressionismo austríaco e alemão, que passou os últimos 30 anos a avaliar a autenticidade de obras de Schiele, é frequentemente contactada por desconhecidos que se julgam em posse de obras autênticas. O local pouco provável onde foi comprado — uma loja que vende artigos em segunda mão da Habitat For Humanity, no bairro de Queens — também não deixava grandes expectativas. Em anexo ao e-mail vinha uma imagem com pouca qualidade do desenho: “Em 90% dos casos, as pessoas estão erradas” revela a galerista ao The Art Newspaper. “A maioria são falsificações, cópias egrégias, acrescenta. 

Para tirar as teimas, Kallir solicitou uma fotografia mais nítida, que só chegou à sua caixa de correio electrónica quase um ano depois, em Maio último. Intrigada pelo que viu, convidou o autor do e-mail a trazer presencialmente o desenho à sua galeria.

Excepcionalmente, era autêntico. Jane Kallir reconheceu naqueles traços uma das raparigas que serviam de modelo ao artista austríaco, sozinha ou, por vezes, acompanhada pela mãe. O desenho, diz esta especialista, será de 1918 e pertence a uma sequência de outros 22 esboços que Schiele fez da mesma rapariga, pouco antes da sua morte. Kallir aponta ainda dois desses esboços que muito provavelmente foram executados durante a mesma sessão. Muitos deles serviram de estudo para a litografia final Mädchen (Rapariga), exposta actualmente no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova Iorque.

A composição de linhas sinuosas e a vista irregular da pose são características inegáveis do artista. “Há muito poucas pessoas na história da arte que conseguem desenhar assim”, evidencia Jane Kallir, perante este achado. Provas mais objectivas, como o tipo de papel e o lápis negro usados, também corroboram a autenticidade do desenho.

O valor do desenho, anunciado pela Galeria St. Etienne, está entre os 100 e 200 mil dólares (entre 89 e 180 mil euros). Pouco mais se sabe do desconhecido atento, que decidiu permanecer anónimo nesta história. Quando trouxe o desenho para a galeria, relatou como o encontrou numa loja de artigos em segunda mão. Se, e quando, vender o desenho, pretende doar parte do dinheiro à Habitat for Humanity, uma instituição sem fins lucrativos e que se encarrega da construção de casas para os mais desfavorecidos.

A directora executiva da Habitat for Humanity em Nova Iorque, Karen Haycox, mostrou entusiasmo pela história, quando contactada pela galeria. Ainda assim, não deixou de partilhar, também por e-mai, a inquietante ideia que assombra a sua (e a nossa) mente: “Não consigo deixar de pensar que esta peça da história da arte poderia ter acabado num aterro, perdida para sempre.”

O desenho integra a exposição The Art Dealer as Scholarna Galeria St. Etienne.

Sugerir correcção
Comentar