As tecnologias de apoio ao combate aos fogos devem estar ao serviço dos portugueses

A tecnologia existe, os instrumentos e as ferramentas estão disponíveis e já estão a ser usados. Compete ao país colocá-la ao serviço dos portugueses.

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Paulo Pimenta

Em Portugal, em 2016, altura em que a equipa de futebol foi campeã europeia, em praças, em bares, em cafés, em estúdios, nos lares, todos estavam firmemente unidos em torno da bandeira que aquela equipa representava.

Há mais motivos para uma associação do género, para que todos se unam em lutas por grandes causas que permitam criar valor acrescentado e melhorar a vida do cidadão e minorar a desgraça e o sofrimento. É o caso dos incêndios rurais que recentemente voltaram a assolar o centro do país, criando o caos, a desordem e o sofrimento de todos aqueles que, envolvidos no combate, viram frustrados os seus intentos de evitar que os seus bens ardessem.

Ao longo dos anos existiram picos de área ardida em Portugal em 2003, 2005 e 2017. O ano de 2017 trouxe ainda mais de 100 mortos em incêndios, um facto terrível que abalou as famílias e o país. A quantidade máxima de recursos afectos aos incêndios entre 2009 e 2019 aumentou significativamente. Por exemplo, em 2009 estavam disponíveis 56 meios aéreos e 1.318 brigadas e em 2019 estão disponíveis 60 meios aéreos e 2.653 brigadas. Todavia, estes meios poderão não ser suficientes em casos graves de incêndio, como se percebeu em 2017.

Existiram, também, diversas iniciativas legislativas que consolidaram o ordenamento jurídico da Protecção Civil e de vários outros recursos afectos aos incêndios, entre elas: a criação da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, I. P., a atribuição à Força Aérea do Comando e Gestão dos meios aéreos e o lançamento de três avisos para investigação e desenvolvimento. Verificando-se que esta última área muito se tem desenvolvido, também devido ao contributo essencial da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, há, contudo, espaço para mais estudos científicos na componente de detecção.

O comissário europeu responsável pela Ajuda Humanitária e Gestão de Crises sublinhou que deve ser privilegiada a prevenção, identificando a necessidade de novas ferramentas e novos instrumentos que permitam evitar “experiências dolorosas” e “salvar vidas”.

Retiram-se, então, duas afirmações centrais para o problema dos incêndios:
a) é preciso apostar na prevenção e na detecção; 
b) são necessárias novas ferramentas e novos instrumentos.

Estas novas ferramentas e instrumentos já se encontram disponíveis na forma de Unmanned Aerial Vehicle (UAV) ou de aviões sendo necessário investir em investigação e desenvolvimento para se poderem viabilizar mecanismos de detecção de ignições em períodos de tempo muito curtos. Entende-se que a solução passará por viabilizar a utilização de UAV, substancialmente mais barato, não só para a detecção precoce de incêndios rurais (e eventualmente de quem os inicia, se for o caso) e de zonas quentes que podem provocar reacendimentos, como, também, para o levantamento da densidade de materiais combustíveis no terreno através do mapeamento das áreas florestais.

Embora existam diversas iniciativas, a mais premente protagonizada pela Força Aérea e pela UAVision, em colaboração com a Protecção Civil, é necessário construir e consolidar a capacidade que permita, de uma forma sustentada, apoiar o combate aos incêndios rurais na perspectiva de conseguir a detecção rápida de ignições. No plano da inventariação de novas ferramentas e instrumentos, devem prosseguir as acções de identificação de requisitos e equipamentos, de reconhecimento de padrões de detecção e de criação de conhecimento científico.

Nos domínios da Protecção Civil e do ambiente (também ligado aos incêndios), existem um conjunto de fontes de financiamento de que é exemplo o fundo da Protecção Civil Europeia. A tecnologia existe, os instrumentos e as ferramentas estão disponíveis e já estão a ser usados. Compete ao país colocá-la ao serviço dos portugueses. Este terá forçosamente que ser um esforço conjunto de todos, cidadãos, Governo, administração pública, instituições, agências, associações, corporações, empresas, universidades, etc., porque afinal todos são protecção civil, para que se consubstancie um desígnio nacional, de significado igual ao do Europeu de 2016, e se consiga materializar esta capacidade no mais curto espaço de tempo.

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