Benfica já seguiu em frente, Sporting ainda não

“Águias” apresentam-se na Supertaça com um ataque remodelado depois da venda milionária de João Félix. “Leões” agarram-se a Bruno Fernandes para elevarem as suas hipóteses no arranque oficial de mais uma época.

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MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Parece que nunca chegou a ir embora e aí está de volta o futebol português para mais uma época. Depois das fases preliminares da Taça da Liga, a bola nacional segue para a Supertaça e, desta vez, com um “clássico”, Benfica, campeão nacional, contra Sporting, vencedor da Taça de Portugal, um prolongamento da temporada anterior que se apresenta como um prólogo desta. Este embate no Algarve (20h45, RTP1) é, sobretudo, um primeiro momento para se fazerem comparações em relação ao passado recente e, nesse sentido, uma das equipas (o Benfica) parece ter mudado mais. A grande mudança que já aconteceu na Luz chama-se João Félix e a grande mudança que (ainda) não aconteceu no Sporting dá pelo nome de Bruno Fernandes.  

A venda do passe de Félix para o Atlético Madrid (por 126 milhões) já estava em andamento bem antes de ser anunciada e, quando a oficialização aconteceu, o seu substituto directo (Raul de Tomás) foi apresentado pouco depois. Ou seja, Bruno Lage já teve toda a pré-época para ensaiar aquela que será, em teoria, a sua dupla preferencial para o ataque formada pelo ex-Real Madrid que custou 20 milhões de euros e pelo inesperado goleador da época passada, Haris Seferovic (27 golos em 2018-19). Ainda não é visível uma química perfeita entre o espanhol e o suíço, mas isso irá, por certo, melhorar com o tempo - e Lage tem alternativas se os dois não forem compatíveis.

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Já o Sporting começou a preparar esta época há bastante tempo (contratou Borja, Ilori, Doumbia e Luiz Phellype em Janeiro) e reforçou-se com algum critério neste Verão (Rosier, Eduardo, Neto, Camacho e Vietto), naquela que é a primeira pré-época de Frederico Varandas como presidente e de Marcel Keizer como treinador. Mas continua por resolver a situação de Bruno Fernandes, colocado na rota da Premier League há vários meses. Claro que ter um jogador que valeu 32 golos e 15 assistências em 2018-19 nunca será um problema e, enquanto for ficando, vai ser o dono da equipa, mas a questão é precisamente essa. Neste momento é mais provável que saia, e tudo o que Keizer tem feito nesta pré-época parece ser a contar com esse cenário. Bruno tem jogado fora de posição, com Vietto a pisar os espaços que habitualmente são do capitão “leonino”, mas, mesmo nestas condições, tem sido o melhor da equipa (quatro golos).

Resumindo, o Benfica parece mais consolidado na sua nova identidade, enquanto o Sporting parece estar ainda dividido entre o presente e o seu mais que provável futuro. Mas nem tudo são rosas no lado “encarnado”, assim como nem tudo são dúvidas no lado sportinguista. Lage tem de lidar com a mais que provável ausência de André Almeida no lado direito da defesa e tudo indica que terá de fazer uma adaptação do jovem esquerdino Nuno Tavares à posição - não se tem dado mal, mas o Benfica parece ainda longe de estar no ponto em termos defensivos, e isso, claro, não tem apenas a ver com a defesa. E é possível que De Tomás não jogue, algo que implicaria nova companhia para Seferovic, sendo Adel Taarabt (quem diria?) uma das possibilidades.

Do lado do Sporting, Marcel Keizer já tem algumas certezas. A maior novidade na defesa será mesmo Thierry Correia no lado direito, já que o reforço Rosier continua lesionado e a outra alternativa testada (Ilori) não funciona. Doumbia é um substituto mais que competente para Gudelj, Wendel vai manter o lugar e Raphinha tem vaga no ataque, ao contrário de Bas Dost, que parece partir atrás de Luiz Phellype. O resto está dependente de como Bruno Fernandes for utilizado. 

Relação luso-holandesa

Também parece certo que os “leões” têm mais e melhores opções de banco, e, a espaços, mostraram coisas interessantes, mas há muito por fazer e não é por acaso que o Sporting terminou a pré-temporada com zero vitórias (três empates e duas derrotas) e com mais golos sofridos (11) que marcados (oito). 

Ao contrário de outros tempos, os treinadores dos dois “grandes” de Lisboa parecem entender-se bem, ou, pelo menos, não tem sido visível qualquer hostilidade de parte a parte, como aliás ficou demonstrado pelo encontro promovido pelo canal 11. Essa afinidade não tem apenas a ver com questões de personalidade - ambos são homens de discurso ponderado e positivo -, mas também com as circunstâncias em que chegaram aos cargos que ocupam, ambos com a época passada em andamento e envoltos em dúvidas. Lage era o promovido de emergência da equipa B para aguentar o barco após o despedimento de Rui Vitória, Keizer era o escolhido inesperado de Varandas para iniciar o novo ciclo após Jorge Jesus e José Peseiro. 

Entre os dois, ganharam três títulos em menos de uma época. Lage ficou com o prémio maior (campeão), Keizer ficou com duas aproximações (duas taças). Com o estreante português, o Benfica foi a equipa mais regular da segunda metade da Liga; com o holandês, o Sporting mostrou-se especialista nas provas a eliminar. E isso também se vê nos confrontos directos entre o Benfica de Lage e o Sporting de Keizer. Os “encarnados” arrasaram os “leões” em Alvalade à 20.ª jornada (2-4) e também ganharam três dias depois, na Luz, na primeira mão das meias-finais da Taça (2-1), mas deixaram o Sporting vivo e, dois meses depois, em Alvalade, os “leões” deram a volta à eliminatória (1-0). E é por momentos como este (e outros) que os milhões podem esperar. Entrar na época a ganhar um título vale o risco. 

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