Governo francês admite dúvidas sobre actuação policial que antecedeu morte de luso-descendente

Ministro do Interior questiona legitimidade do uso de gás lacrimogéneo na intervenção da polícia em Nantes. Corpo de Steve Maia Caniço, de 24 anos, foi encontrado na segunda-feira no rio Loire.

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Protesto contra morte de luso-descente esta sexta-feira LUSA/YOAN VALAT

O ministro do Interior francês, Christophe Castaner, admitiu esta sexta-feira que subsistem dúvidas sobre a legitimidade do uso de gás lacrimogéneo durante a intervenção policial em Nantes na noite do desaparecimento do luso-descendente Steve Maia Caniço.

O corpo de homem de 24 anos, desaparecido desde Junho na sequência de uma intervenção policial em Nantes foi retirado, na segunda-feira, do rio Loire.

O jovem desapareceu na sequência de uma intervenção policial numa festa durante a qual terão sido usados gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar os jovens, o que está a gerar uma onda de contestação em França. Na terça-feira, o próprio primeiro-ministro de França, Edouard Philippe, divulgou as conclusões do relatório da Inspecção Geral da Polícia, adiantando que o documento não estabelecia qualquer ligação entre a intervenção policial e o desaparecimento de Steve Maia Caniço.

“O que sei por ter lido o relatório, como vocês leram, é que há dúvidas sobre o uso de gás lacrimogéneo [...] sobre a oportunidade de ter desencadeado o uso de gás lacrimogéneo. A questão foi levantada e é a essa questão a que temos de responder”, disse Christophe Castaner, citado pelo jornal Le Figaro. Em 26 de Junho, a seguir aos acontecimentos de Nantes, Christophe Castaner não descartava a possibilidade de o desaparecimento de Steve Maia Caniço estar ligado à operação.

O luso-descendente estava desaparecido desde 22 de Junho, tendo sido visto pela última vez durante a intervenção policial. Na sequência do ocorrido, o Ministério do Interior francês ordenou, em 24 de Junho, a abertura de uma investigação à actuação das forças policiais.

Com a descoberta do corpo, as autoridades anunciaram a abertura de uma investigação por suspeitas de “homicídio involuntário”, enquanto decorrem várias outras diligências para tentar esclarecer as circunstâncias da acção das forças de segurança.

Cécile de Oliveira, advogada da família do luso-descendente, considera que o caso ganhou contornos de “assunto de Estado”, adiantando que, neste momento, não é “possível descartar responsabilidades de quem quer que seja” na morte do jovem.

Sustentou, por outro lado, que é preciso continuar a “investigar em condições de serenidade, independência e confidencialidade”. Entretanto, nas redes sociais estão a ser difundidos vários apelos à participação numa homenagem a Steve Maia Caniço, no sábado, em Nantes, apesar de o prefeito de Loire-Atlantique, Claude d"Harcourt, ter proibido manifestações no centro da cidade.

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