Patrão da Ryanair quer despedir 900 pessoas

Quebra de 21% nos lucros do primeiro trimestre, o “Brexit” e atraso com novos aviões justificam corte de pessoal. Em Portugal, está marcada uma greve de cinco dias na Ryanair.

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O presidente-executivo da Ryanair, Michael O'Leary, recebeu 3,3 milhões de euros no último ano fiscal Yves Herman/Reuters

Quinhentos pilotos e 400 tripulantes de cabine estão a mais na Ryanair, diz o dono desta companhia aérea de baixo custo, numa mensagem em vídeo enviado aos trabalhadores. Michael O’Leary justifica a necessidade de fazer cortes com a queda de 21% nos lucros do primeiro trimestre de 2019. Os despedimentos deverão começar no fim do Verão e prolongar-se até depois do Natal.

Isto deve-se “fundamentalmente a tarifas mais baixas, especialmente no Reino Unido e na Alemanha, preços mais elevados do petróleo e mais custos com pessoal”, alega o gestor, citando o “grande aumento no salário de pilotos e pessoal de cabine negociado no ano passado”. A empresa contratou 2200 pessoas no último ano, contabilizando 16.840 trabalhadores. O relatório e contas da empresa refere que os custos unitários (custo por passageiro) são os mais baixos do mercado, mas mostram um aumento de 16% no custo total, com a factura de combustível a subir 28% para 500 milhões de euros e a factura salarial a subir 28% para 200 milhões.

O patrão da Ryanair mostra-se preocupado com o impacto de um “Brexit” sem acordo, “em particular sobre o negócio no Reino Unido e na Irlanda”, e revela também que irá prescindir da contratação de 600 pessoas, entre pilotos e tripulantes devido ao atraso na entrega dos Boeing 787 Max 8. Estes aviões seriam “críticos” para a eficiência financeira dos próximos cinco anos, porque permitiriam mais 4% de assentos com 16% menos de consumo de combustível, diz a empresa, no relatório anual.

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A companhia de voos low cost irlandesa esperava receber 58 aparelhos destes para o Verão de 2020, mas a interdição desse modelo após dois acidentes mortíferos, no final de 2018 e princípio de 2019, forçou a a Ryanair a baixar as expectativas. Na melhor das hipóteses, teremos 30” aparelhos, afirma O’Leary.

Gestor embolsou mais 46% em 2018

O dono da Ryanair sublinha que a quebra nos lucros no primeiro trimestre deste ano imitou a quebra de 20% registada no período homólogo de 20%. Porém, o gestor não tocou no facto de as receitas da empresa terem crescido 6% nos 12 meses até Março de 2019, facto que justificou a atribuição de um bónus de 768 mil euros.

Ao todo, segundo os números do relatório e contas, O’Leary embolsou 3,3 milhões de euros nesses 12 meses, entre nove mil e dez mil euros por dia. Essa remuneração dividiu-se da seguinte forma: 1,06 milhões de salário-base, 1,55 milhões em acções e 768 mil euros de bónus – o que traduz um aumento de 46% face aos 2,3 milhões de euros que lhe foram pagos no ano precedente, ano em que não recebeu bónus.

O gestor começou em Abril mais um mandato de cinco anos, tendo aceitado cortar o salário base para meio milhão de euros e um corte de 50% no bónus anual máximo, que passará a rondar os 500 mil euros.

Mas, o contrato estipula que O’Leary poderá receber dez milhões de acções, ao preço de 11,12 euros, se o resultado líquido da companhia exceder os 2000 milhões de euros em qualquer um dos próximos cinco anos. O direito sobre as acções também é válido se a cotação unitária atingir os 21 euros e se mantiver assim por um período de 28 dias entre 1 de Abril de 2021 e 31 de Março de 2024. No exercício fiscal até Março de 2019, o lucro foi de 885 milhões de euros (uma quebra de 39% em termos homólogos, face aos 1450 milhões de lucros de 2017/18).

Greve em Portugal e novas rotas desde Lisboa

Em Portugal, a empresa anunciou a abertura de uma nova rota com Espanha, ligando Lisboa a Saragoça, duas vezes por semana. Essa ligação começará no Outono, época para a qual já se esperava voos regulares para Málaga, Sevilha e Valência a partir da capital portuguesa.

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Os tripulantes da Ryanair em Portugal agendaram uma greve de pelo menos cinco dias para o mês de Agosto, cujas datas ainda não foram anunciadas. Em causa está o facto de a empresa não ter cumprido o protocolo celebrado com o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, alegam os representantes dos trabalhadores.

Esse protocolo estabelecia a obrigatoriedade do cumprimento da legislação laboral portuguesa, no que toca a subsídios de férias e de Natal, integração no quadro de quem tem mais de dois anos de serviço através de empresas de trabalho temporário, “sem perda de retribuição, antiguidade e com as mesmas condições fundamentais de trabalho e emprego dos restantes colegas do quadro”, bem como a atribuição dos 22 dias de férias mínimos e o cumprimento integral da lei portuguesa da parentalidade.

O protocolo foi assinado no fim de Novembro de 2018 e previa a execução de medidas até Fevereiro de 2019, o que não aconteceu, alega o sindicato.

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