Rio considera que não houve “saneamentos selvagens” nas listas do PSD

Líder do PSD diz que já viu processos “muito mais turbulentos” na constituição de listas, dando como exemplos os anos do bloco central.

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Rui Rio diz que o processo foi "razoavelmente pacífico", mas há quem fale em "limpeza"

O presidente do PSD, Rui Rio, saudou na madrugada desta quarta-feira a aprovação das listas de candidatos a deputados do partido, considerando que o processo até foi “razoavelmente pacífico” e “não houve saneamentos selvagens”. 

Em declarações aos jornalistas no final do Conselho Nacional do PSD, que decorreu entre as 22h de terça-feira e as 3h desta quarta-feira, o presidente do PSD disse já ter visto processos de aprovação de listas “muito mais turbulentos” dentro do partido.

“É um bom resultado, já vi muitos processos destes ao longo da minha vida política: em 1983, em 1985, foram processos muito mais turbulentos que este. Os únicos que não foram é quando o PSD está no poder e o presidente do PSD é primeiro-ministro”, defendeu. “Para quando o PSD está na oposição, até foi razoavelmente pacífico”, disse.

Os exemplos dados por Rio referem-se a uma das épocas mais conturbadas do PSD, devido à constituição do governo do bloco central (1983-85), liderado por Mário Soares e tendo como vice-primeiro-ministro Carlos Mota Pinto, que se demitiu do cargo e da liderança do partido em Fevereiro de 1985, sendo substituído por Rui Machete até à eleição, em Junho, de Cavaco Silva como presidente do PSD. Mal foi eleito, Cavaco Silva deu ordem de saída de todos os ministros social-democratas do Governo e começou a fazer oposição a Soares, acabando por ganhar as primeiras eleições legislativas em Novembro desse ano.

O Conselho Nacional do PSD aprovou esta madrugada com 80 votos a favor, 18 contra e dez abstenções as listas de candidatos de deputados à Assembleia da República. Do total dos votos expressos (108), 74% dos conselheiros votaram favoravelmente, de braço no ar, numa votação feita globalmente das listas para os 22 círculos eleitorais. A direcção contabilizou a aprovação das listas na casa dos 82%, invocando que, segundo os estatutos do partido, as abstenções não contam para a contagem da maioria dos votos.

“É uma vitória para o PSD termos conseguido fazer um equilíbrio onde as pessoas se revêem: não há saneamentos selvagens, não são privilegiados os amigos. Há o equilíbrio possível e esse equilíbrio é sempre muito difícil quando se trata de pessoas”, afirmou.

Rui Rio recusou responder à intervenção feita na reunião pelo ex-líder parlamentar Hugo Soares, que o acusou de não gostar do PSD. “Não tive reacção nenhuma, só falei no ponto do programa, quando foi das listas não falei, se não respondi lá dentro, não ia responder cá fora”, disse.

Questionado sobre uma sondagem da TVI que dá 20% ao PSD e 35% ao PS, o líder social-democrata voltou a desvalorizar estes estudos de opinião. “Saiu uma sondagem a dois meses e tal das eleições em 2015 em que PSD e CDS tinham os piores resultados de sempre e depois ganharam as eleições”, apontou.

Mais de metade dos actuais deputados de fora

Nas listas aprovadas esta madrugada, dos 89 deputados eleitos pelo PSD em 2015, 49 estão fora das listas para as legislativas, o que corresponde a 55% do total. O nome retirado das listas que mais polémica gerou foi o do ex-líder parlamentar Hugo Soares, o “único nome vetado” pela direcção nacional, decisão confirmada pelo secretário-geral do partido, José Silvano, antes do início do Conselho Nacional.

É uma medalha que carrego com orgulho e de futuro”, afirmou, à saída o ainda deputado, que abandonou a reunião antes do final dos trabalhos por não ter direito de voto.

Além de Hugo Soares, o histórico social-democrata e ex-deputado Jorge Neto criticou a forma como as referidas listas foram elaboradas, considerando que houve “uma limpeza” e não uma “verdadeira renovação” de candidatos a deputados.

Jorge Neto pôs mesmo em causa “a qualidade” do grupo parlamentar que resultar das eleições de 6 de Outubro, temendo que a forma como foram elaboradas as listas, com recurso “a amiguismos e fidelidade a certas pessoas” em vez de guiadas pela meritocracia, venha a ter reflexos nos resultados eleitorais.

Além das listas, o Conselho Nacional do PSD aprovou, com 17 abstenções, o programa eleitoral do partido às legislativas de 6 de Outubro. Da ordem de trabalho contava ainda a eleição do vice-presidente do partido, tendo sido rectificada a eleição de José Manuel Bolieiro como novo “vice” do partido. 

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