O capital humano é o mais importante

Esta é a “filosofia” defendida pela Altran, uma empresa francesa que actua em Portugal há mais de 20 anos e que conta com cerca de 2300 colaboradores distribuídos por Lisboa, Gaia e Fundão. A CEO, Célia Reis, explica-nos de que forma é que esta valorização se traduz.

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Escritório de Gaia da Altran D.R.

Presente em mais de trinta e cinco países, a Altran trabalha em consultoria de engenharia em vários sectores de actividade. A multinacional francesa acompanha projectos de pesquisa e desenvolvimento (R&D) desde o planeamento à fase de produção em áreas como a Aeronáutica, Energia, sector Automóvel ou Telecomunicações. Em Portugal, a Altran conta com cerca de 2.300 colaboradores e um Global Engineering Center (GEC Portugal) distribuído por três centros, em Lisboa, em Gaia e no Fundão.

Das apps à cibersegurança, a empresa desenvolve software à medida dos clientes. O problema? Muita procura para uma oferta desproporcional de recursos humanos qualificados: muitos jovens portugueses saíram do país à procura de melhores oportunidades de trabalho e nem sempre é fácil convencê-los a ficar ou a voltar. Para os atrair e manter, a multinacional tem uma estratégia de Responsabilidade Social Corporativa cujos objectivos foram definidos com base na premissa de que - os colaboradores são o recurso mais valioso. Além disso, tendo em conta a necessidade constante de recrutar colaboradores, a Altran para além de uma equipa de recrutamento, tem uma equipa dedicada ao acompanhamento dos colaboradores estrangeiros na mudança para Portugal.

Para Célia Reis, CEO da Altran Portugal, o processo de integração de novos colaboradores é essencial: “O novo elemento tem de se rever na organização, para que se sinta parte dela.” As equipas de acolhimento têm, por isso, “um papel fundamental na criação deste elo e esta ligação é particularmente delicada quando se tratam de colaboradores oriundos do estrangeiro.”

Um regresso adiado

Jonathan Filho veio de Minas Gerais, no Brasil, em Setembro de 2017. Mudou-se temporariamente para Portugal para frequentar um mestrado em Empreendedorismo e Inovação Tecnológica mas a Altran antecipou-se ao seu regresso ao país natal e desafiou-o a integrar a equipa de Gaia. “Eu tinha uma impressão errada das empresas grandes, morria de medo de empresas grandes. Por sorte, ou por erro meu, quando entrei no processo de recrutamento nem pesquisei a empresa… só depois, quando passei a primeira fase, é que fui saber mais sobre a Altran”, conta o jovem brasileiro. Para facilitar o processo burocrático de mudança de país e tudo o que consequentemente envolve, desde procurar casa a abrir uma conta num banco, a Altran tem um departamento dedicado a acompanhar e assegurar a integração dos novos colaboradores.

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O escritório de Gaia da Altran tem um ambiente descontraído. D.R.

Para um estrangeiro, como o brasileiro Jonathan Filho, conseguir um contrato que não seja precário pode demorar algum tempo e condicionar o acesso a créditos e contratos de arrendamento, por exemplo. No caso de Jonathan correu bem e permitiu-lhe comprar a casa que tanto queria.

Sobre o processo de integração, Célia Reis acrescenta ainda que: “Quando escolhem a Altran Portugal para trabalhar, os colaboradores estrangeiros escolhem também o país para ser o seu novo lar, assim como o das suas famílias” - e, por isso, - “frequentemente este apoio estende-se também aos familiares, facilitando a ponte com as diferentes instituições”.

Altran de olhos postos no futuro

Virado para o Douro, no escritório da Altran em Vila Nova de Gaia aposta-se em criar condições para que os colaboradores consigam conciliar trabalho e lazer. Para a CEO da Altran Portugal: “Os métodos e os processos são fundamentais, mas o debate de ideias, a prototipagem, e até o próprio erro, são instrumentos de aprendizagem e evolução. Esta dinâmica só sobrevive num ecossistema amigável, com um ambiente positivo e de entreajuda, onde há muita liberdade, mas também muita responsabilidade”, defende a CEO da Altran Portugal.

Apesar de terem projectos grandes e com um certo grau de confidencialidade, as equipas vão trocando ideias e esclarecendo dúvidas entre si, mesmo as que estão em diferentes localizações geográficas - como as equipas que trabalham a partir da Altran no Fundão. Além da promoção de iniciativas entre equipas, num contexto profissional, “são vários os elementos que dinamizam o desporto, a solidariedade ou simplesmente uma boa conversa num fim de tarde. Arriscaria dizer que o que nos une, para além dos contratos, é em muitos casos uma relação de amizade e sobretudo um forte sentimento de equipa”, conta Célia Reis.

“Os nossos jovens têm muito contacto com a tecnologia enquanto utilizadores”

Boas condições de trabalho, integração, criação de laços entre equipas: além dos projectos em si, são questões fundamentais para assegurar a realização pessoal e profissional dos colaboradores de qualquer empresa. Nas áreas tecnológicas, pela comum escassez de mão-de-obra qualificada, é importante desenvolver um trabalho paralelo de sensibilização para as possibilidades que um percurso nesta área poderá proporcionar. “Ao nível do ensino secundário, é necessário possibilitar aos jovens a vivência do ecossistema que uma empresa na área de engenharia pode oferecer em Portugal. Os nossos jovens têm muito contacto com a tecnologia enquanto utilizadores, mas é necessário envolvê-los também no desafio da construção dos novos paradigmas, e estimular a sua curiosidade para participar, abrindo assim uma janela para o que pode ser o seu futuro profissional”, explica a CEO da Altran Portugal.

Especificamente em Gaia, a Altran promove um programa com jovens desempregados, em parceria com o IEFP, que depois de sete meses de formação específica os qualifica para que sejam integrados em projectos da multinacional. A mesma dinâmica é aplicada em programas de formação que visam “complementar lacunas de competências e incorporar nos nossos projectos jovens provenientes de domínios não TIC”, explica Célia Reis.

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Célia Reis, CEO da Altran Portugal. D.R.

No futuro, está previsto um investimento acordado entre a Altran e o Governo português na ordem dos 12 milhões de euros. De acordo com Célia Reis, a Altran espera continuar a colaborar com diferentes instituições e com o Governo no desenvolvimento do ecossistema tecnológico em Portugal.

Em relação aos maiores desafios, a responsável defende que será fulcral promover a colaboração entre as empresas do sector: “Os desafios que temos são claramente semelhantes, e é vantajoso para todos se colaborarmos ainda mais no sentido de aumentar as competências disponíveis no mercado” - e ainda - “reduziremos os efeitos nefastos da descapitalização das empresas decorrentes de recrutamentos ‘selvagens’ e práticas salariais não sustentadas em reais ganhos de produtividade ou de valor tecnológico.”