Protestos em Hong Kong paralisam metro em hora de ponta

Manifestantes não desarmam e continuam a exigir o fim da proposta de lei sobre extradição e a libertação de mais de 200 pessoas detidas nos protestos dos últimos dois meses.

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O protesto afectou a circulação do metro durante três horas, num dos horários mais movimentados do dia LUSA/RITCHIE B. TONGO

Os protestos quase diários contra o governo e a polícia de Hong Kong chegaram esta terça-feira às estações de metropolitano, com centenas de manifestantes a impedirem a saída de comboios durante a hora de ponta na megacidade de 7,5 milhões de habitantes.

Grupos de manifestantes mascarados começaram a ocupar a estação de Tiu Keng Leng, uma das mais usadas no território, pouco antes das 8h00 locais (mais sete horas que em Portugal continental). Alguns dos manifestantes colocaram-se no espaço que existe entre a barreira de protecção na plataforma e as portas do comboio, impedindo a entrada de utentes e a partida da composição.

Os vídeos partilhados nas redes sociais mostram momentos de tensão entre manifestantes e utentes revoltados por não conseguirem ir trabalhar, mas também alguns episódios de compreensão e entreajuda – num desses momentos, um grupo de manifestantes juntou dinheiro para pagar a viagem de uma mulher por outro meio de transporte.

“Acho que o meu trabalho pode esperar”, disse um dos utentes na estação de Tiu Keng Leng, ouvido pela BBC. “Mas estão a tirar-nos a nossa liberdade, a nossa segurança e os direitos humanos, e isso não pode esperar.” Outro utente, de 64 anos, disse à agência Reuters que o protesto causou “transtornos e aborrecimento”. “Estou com pressa para chegar ao trabalho, para ganhar o meu sustento”, disse.

A mais recente onda de protestos em Hong Kong começou há quase dois meses, contra uma proposta de lei que previa a extradição de cidadãos de Hong Kong para serem julgados nos tribunais de vários países, incluindo na China continental. Apesar de ter passado da soberania britânica para a soberania chinesa em 1997, Hong Kong mantém um sistema judicial independente do poder político, ao contrário do que acontece na China continental.

A discussão sobre essa proposta de lei foi suspensa pelo governo da chefe do Executivo do território, Carrie Lam, mas os manifestantes continuam nas ruas a exigir que o documento seja definitivamente posto de lado. E exigem também a libertação imediata dos mais de 200 manifestantes que foram detidos nos protestos dos últimos dois meses, alguns deles violentos, e que sejam retiradas as acusações de instigação à desordem pública – um crime punível com um máximo de dez anos de prisão.

Para além disso, pedem a criação de uma comissão independente para investigar a resposta da polícia às manifestações, e a mudança do sistema de eleição do chefe do Executivo do território – de uma escolha limitada a candidatos aprovados por Pequim, como acontece agora, para o sufrágio universal e directo.

Apesar de os protestos dos últimos meses terem começado com a discussão de uma proposta de lei sobre extradição, o ambiente de desconfiança e medo no território não é de agora, nem se limita a iniciativas concretas do governo local. Em causa está o receio, entre a população mais jovem, de que o Governo chinês queira reforçar o seu domínio sobre o território mais depressa e de uma forma mais abrangente do que aquilo que foi acordado entre Pequim e Londres há 22 anos – em particular, pondo em causa a independência dos tribunais e travando um possível caminho para o sufrágio universal e directo.

O Governo chinês reagiu publicamente no domingo, pela primeira vez, ao actual ambiente político e social no território, através do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau. Numa rara conferência de imprensa, o porta-voz Yang Guang reafirmou o apoio de Pequim a Carrie Lam e à polícia de Hong Kong, e lançou acusações de ingerência contra “países ocidentais” – uma referência indirecta à crítica que o Governo do Reino Unido fez à repressão policial no antigo território britânico.

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