Daily Bandcamp, o nosso tempo é agora

O Daily Bandcamp salvou-me da condenação, mais do que certa, de ouvir Queen para o resto dos meus dias. Não porque os Queen não sejam bons, mas há mais vida para além dos Queen. Literalmente.

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Mark Solarski/Unsplash

Volta não volta, e graças a esse fenómeno chamado redes sociais, sou assediado por amigos e familiares mais as suas fotografias e vídeos de concertos ao vivo. Eu digo assediado pela persistência na publicação de tais momentos pois, na maior parte dos casos, já assisti a concertos desses mesmos nomes da música há 20 ou mais anos. As músicas são as mesmas, há mais cabelos brancos — ou já não há cabelos, tanto no palco como no público —, invariavelmente está tudo mais gordo (ou então é um problema da lente; não, está mesmo tudo mais gordo) e os bocejos desta boca dizem ao polegar para passar ao próximo post. Entretanto, adormeço.

Adormeço porque a maior parte destas bandas já não está na ribalta, vivendo de tocar os mesmos temas anos, décadas, a fio, desde os Smashing Pumpkins aos Pearl Jam, dos Guns N’ Roses aos Skunk Anansie, dos Metallica aos Iron Maiden, só para citar alguns exemplos de quem, ingenuamente, procura deixar os seus amigos virtuais com uma valente dor de cotovelo.

Mas o cotovelo não me dói, antes pelo contrário, e fico muito contente por tais momentos de euforia e felicidade profusamente partilhados. No entanto, não consigo deixar de me interrogar sobre o porquê deste saudosismo de quem procura viver noutro tempo, “no nosso tempo”. “No nosso tempo é que era”, ouvindo ontem, hoje e sempre as mesmas músicas, os mesmos intérpretes, como se o mundo tivesse parado.

Mas o mundo não parou. E talvez há 20 anos as nossas vidas fossem, de facto, melhores. A minha não era. Mas, para muitos, os paizinhos providenciavam carro e gasolina, dinheiro, saídas à noite, a comida sempre na mesa, a roupa lavada e passada a ferro, uma boa casa, o Algarve no Verão e viagens ao estrangeiro o resto do ano. Enfim, uma vida regalada. Como de entretanto para cá é preciso trabalhar 80 horas por semana, pagar contas, providenciar um tecto e, por sua vez, fazer de empregados domésticos e motoristas dos filhos, não consigo deixar de compreender o porquê de tanto saudosismo. Diante de tais factos, qualquer um quer voltar para trás. Eu quereria.

E por isso insistem em ouvir as mesmas músicas de sempre, poupando dinheiro o ano inteiro para ir ao tal concerto, vestir a t-shirt, já ruça, daquele festival de 2001, e durante duas horas viajar no tempo, mas desta vez sozinhos, cada um à sua vez, já não estamos todos juntos a não ser nas redes sociais, agora entupidas com as 72 fotos e vídeos deste concerto dos Pixies.

Felizmente, o mundo não parou e se hoje em dia o tempo não é muito para saber o quanto há de novo no mundo da música, não posso deixar de agradecer ao meu amigo André a recomendação do seguinte site: https://daily.bandcamp.com/

O Daily Bandcamp dedica-se à promoção de artistas e grupos, já conhecidos ou ainda por descobrir, do jazz ao metal, da fusão ao experimental, do hip-hop ao industrial, do punk ao contemporâneo, das músicas do mundo à musica portuguesa, dando a ouvir as faixas de cada intérprete, seleccionando o melhor álbum do dia e da semana e, no fim de cada ano, dando a conhecer os 100 melhores do ano a nível geral, mas também em cada categoria. Há música para todos os géneros e gostos mas, mais importante ainda, há música nova por ouvir. 

O Daily Bandcamp salvou-me a vida num mundo onde todos correm a 100 à hora e ninguém tem tempo para se pôr a par das novidades. O Daily Bandcamp salvou-me da condenação, mais do que certa, de ouvir Queen para o resto dos meus dias. Não porque os Queen não sejam bons, mas há mais vida para além dos Queen. Literalmente.

Basta um pouco de tempo, selecciono a lista com o melhor álbum de cada dia e, afinal, o nosso tempo é agora. 

E porque gostos não se discutem, não deixo recomendações, apenas esta simples dica de um amante de música para todos os amantes de música e o mundo não pára de girar. Bem-vindos ao futuro.

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