Formações curtas voltam a crescer e levam ensino superior onde este não chegava

Vagas nos cursos técnicos superiores profissionais aumentam 14% no próximo ano lectivo. Concelhos do interior que nunca tinham tido oferta deste nível de ensino estão a receber pólos dos politécnicos.

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O Politécnico de Bragança oferece cursos superiores profissionais numa dezena de concelhos Adriano Miranda (arquivo)

O número de vagas em cursos técnicos superiores profissionais (Ctesp) volta a bater recordes. Há 11.352 lugares para novos estudantes no próximo ano lectivo, o valor mais alto desde o lançamento destas formações de dois anos, que são ministradas exclusivamente no ensino politécnico. O crescimento está a acontecer sobretudo em concelhos onde antes não existia oferta de ensino superior.

De acordo com dados recolhidos pelo PÚBLICO junto do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), para o próximo ano lectivo há mais 1446 vagas na rede pública face ao ano passado. O aumento é de 14%. Pela primeira vez, podem entrar mais de dez mil alunos no sector estatal.

O número de vagas a que o PÚBLICO teve acesso diz apenas respeito às instituições estatais, que correspondem a cerca de 65% do total. Ou seja, a estes 11.352 lugares é preciso ainda acrescentar os que forem criados em instituições privadas – e que ainda não são conhecidos. Por isso, o total de vagas disponíveis em Ctesp poderá chegar perto dos 18 mil. No ano passado, foram abertos um pouco mais de 15 mil. Entre instituições públicas e privadas, estiveram inscritos em cursos superiores profissionais, em 2018/19, 15.062 estudantes.

Os Ctesp têm permitido aos institutos politécnicos alargar o número de estudantes, mas também o seu âmbito geográfico, um fenómeno que ajuda a explicar o contínuo crescimento da oferta destes cursos. “A maior parte das vagas que agora aumentam são resultado de abertura de pólos noutros concelhos”, explica ao PÚBLICO o presidente do CCISP, Pedro Dominguinhos.

Os politécnicos criam estes núcleos em parceria com câmaras municipais, associações empresariais ou empresas, respondendo muitas vezes a necessidades locais específicas. A tendência começou a ser explorada aquando do lançamento dos cursos técnicos profissionais, mas tem vindo a ganhar cada vez mais força. No próximo ano, há Ctesp em 73 concelhos do país.

Por exemplo, o Politécnico de Leiria – que é o que oferece mais vagas, acima de 1400 – tem um núcleo em Torres Vedras exclusivamente para estes cursos. O Politécnico de Setúbal tem cursos curtos no Barreiro e em Ponte de Sor, estando a preparar a abertura de duas novas respostas em Grândola.

O exemplo mais paradigmático é talvez o do Politécnico de Bragança – que oferece um total de 1372 vagas – e que tem Ctesp numa dezena de concelhos, como Mogadouro, Valpaços ou Torre de Moncorvo. “Não somos só um politécnico de Bragança, somos um politécnico da região e devemos atender à procura e necessidades que aqui existem”, justifica o presidente da instituição, Orlando Rodrigues.

Os cursos do Politécnico de Bragança chegam também a territórios mais próximos do litoral como Marco de Canaveses, Guimarães ou Santo Tirso. Nesses casos há “razões históricas”, colaborações já existentes com empresas e escolas profissionais e parcerias com outros politécnicos a justificar a aposta. Orlando Rodrigues não esconde, porém, que o objectivo das instituições é sempre “captar alunos” e, por isso, é benéfico estar presente em regiões onde há “mais jovens”.

Para o presidente do CCISP, Pedro Dominguinhos, este aumento do número de vagas é também reflexo de uma “aposta mais sustentada” nestes cursos. Depois de um arranque frouxo e de alguma desconfiança inicial dos politécnicos, neste momento praticamente todas as instituições têm formações deste tipo. A excepção é o Instituto Politécnico de Lisboa e quatro outras instituições, com um perfil mais especializado (a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e as escolas de enfermagem de Lisboa, Porto e Coimbra).

Pelo contrário, o Politécnico do Porto, que nos primeiros anos não teve Ctesp, terá no próximo ano lectivo o terceiro maior número de vagas: 867. Um aumento de mais de 20% face ao ano anterior.

Ao contrário do que acontece no acesso às licenciaturas, as candidaturas ao Ctesp são feitas directamente junto de cada uma das instituições em que os estudantes pretendam ingressar. As regras e prazos podem, por isso, divergir. Na maior parte dos casos, o período de acesso a estes cursos começou na última semana e prolonga-se até ao final de Agosto.

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