O adversário de Rio não é Costa, é o PSD

Rui Rio ameaça fazer ao PSD o que fez ao Porto: transformar o partido num apeadeiro do qual todos querem partir e aonde ninguém quer descer.

Rui Rio alimenta-se da crispação e do confronto para se agigantar politicamente. Nos três mandatos como presidente da Câmara do Porto, o actual líder do PSD levou a táctica a preceito e incompatibilizou-se com tudo e com todos que discordassem das suas opiniões. Enquanto líder do PSD, Rio ameaça levar a obstinação até ao limite, a ponto de se transformar numa espécie de activo tóxico. Nem a sua presença na tradicional festa do Chão da Lagoa, no feudo social-democrata da Madeira, é consensual entre os militantes. Na véspera de umas eleições regionais nas quais Miguel Albuquerque irá enfrentar Paulo Cafôfo, e com as sondagens a separá-los por dois pontos percentuais, a sua viagem este domingo ao Funchal pode ter efeitos secundários.

Ao contrário do que aconteceu enquanto autarca, a crispação e confronto de que Rio se alimenta não está fora do PSD, mas bem no seu âmago. Aquilo a que o líder do PSD chama renovação é um ajuste de contas encapotado com os seus adversários internos. Escolher jovens valores desconhecidos para cabeças de listas em distritos como Lisboa e Porto tem muito mais a ver com purga do que com qualquer intuito de rejuvenescer o partido. O sossego que obteve depois da sua vitória interna sobre Luís Montenegro não lhe deu o crédito suficiente para se preparar tranquilamente para eleições, porque Rio não o quis, como se constata pela atribulada selecção de candidatos.

O adversário de Rio não é António Costa, mas sim todos aqueles que lhe fazem oposição no partido que lidera. Há quem o acuse de transformar o “PSD numa comissão liquidatária”, quem considere que o partido não irá além dos 20% ou quem se arrependa de o ter apoiado, como é o caso de José Eduardo Martins. Mas o mais sintomático desta fragmentação foi a forma como Manuel Castro Almeida, homem da sua confiança e o melhor quadro da sua direcção, divergiu de Rio após um percurso paralelo construído quando ambos eram autarcas na Área Metropolitana do Porto. Sem a sensatez de Castro Almeida, Rio fica ainda mais livre para a sua obstinação contra a Justiça, a imprensa e a maçonaria e para as tergiversações em que tem sido pródigo.

Com o PSD sem ideias e sem um líder consensual, Poiares Maduro tem motivos para temer a mexicanização do regime e o prolongamento do PS no poder. Rui Rio ameaça fazer ao PSD o que fez então ao Porto: transformar o partido num apeadeiro do qual todos querem partir e aonde ninguém quer descer.

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