Avós: no coração e na vida

Hoje é o Dia Mundial dos Avós e é importante relembrar a importância das relações intergeracionais. Os avós são seres incríveis que nos mostram que a vida se alimenta de factores essenciais: amor, partilha, experiência e, por vezes, uma pitada de falta de paciência (a vida real).

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Vidar Nordli-Mathisen/Unsplash

Hoje é o Dia Mundial dos Avós. Aqueles seres iluminados que ora estão do nosso lado até ao limite das forças, ora se recusam a parar nas passadeiras porque “tenho idade para fazer o que quero”. Em qualquer das versões, os avós são seres incríveis que nos mostram que a vida se alimenta de factores essenciais: amor, partilha, experiência e, por vezes, uma pitada de falta de paciência (a vida real).

Deixando agora um pouco o humor de lado porque — já gritavam os meus familiares, “No meu tempo não era nada disto” —, os avós, ou as pessoas que assumem papéis familiares equiparados, são essenciais ao desenvolvimento de famílias conscientes e atentas ao mundo.

Penso que temos vindo a negligenciar o potencial das relações intergeracionais. Tentamos organizar as pessoas por “etapas de vida”: se criança ou jovem, estuda; jovem adulto, ingressa no mercado de trabalho; adulto, encontra estabilidade e forma nova família; adulto próximo da reforma, deixa legado para que outra pessoa substitua em funções; idoso, alguma “ocupação” para contrariar a solidão.  

Se repararem, nenhum destes “perfis” é justo porque atribui uma impermeabilidade terrível, reforçando a ideia de trajectórias estanques e muito castradoras. Antes de mais, é importante clarificar que nenhum destes elementos é passivo na trajectória de vida dos outros. As gerações, reciprocamente e com mais ou menos conflito, participam e agilizam o potencial do grupo para que se possa pensar um futuro conjunto com um sentido de crescimento. A isto chamamos solidariedade intergeracional.

E o que é isto da solidariedade intergeracional? É as gerações entre si, sejam avós/pais/filhos, tios/sobrinhos, pessoas mais jovens/pessoas menos jovens, disporem dos recursos que têm em prol do desenvolvimento e bem-estar do outro que pertence a uma geração diferente. É o amor e partilha de quem já viveu mais e conhece melhor o mundo, em interacção com a energia e a garra dos mais jovens.

A solidariedade, que parece um tema muito mecânico, no sentido de dar/receber apoio financeiro, não o é. Receber uma chamada a incentivar, dar conselhos, passear e ver o horizonte em conjunto é solidariedade intergeracional. Tudo o que seja intercâmbio de histórias de vida, de formas de superar problemas, de celebrar vitórias, de (re)pensar e (re)inventar o percurso de vida é, sem dúvida, um processo de ajuda e aprendizagem incrível a nível pessoal e social.

Podemos e devemos fazer intercâmbio de ideias e valores com pessoas da mesma geração que nós, mas devemos (MESMO) estar atentos à participação das gerações mais velhas.

Muito provavelmente têm um olhar menos sufocado que o nosso perante as dificuldades específicas da nossa geração. Também há a possibilidade de não verem “as coisas” no mesmo ponto que nós, mas essa é a nossa parte do processo: interagir e mostrar como vemos e vivemos a vida. Tudo isto é interactivo, não há fórmulas. É a aprendizagem ao longo da vida no seu melhor.

Os nossos avós não são os maiores experts em solidariedade intergeracional que conhecemos? Nós também não o podemos ser?

In memoriam, Avó Bonifácia.

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