Em Idlib foram mortos 103 civis em dez dias

Riham, de cinco anos, tentou salvar a irmã bebé, mas não conseguiu. A criança caiu de uma altura de cinco andares, num prédio bombardeado pelas forças de Assad.

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Khalil Ashaw/REUTERS

Entre os escombros, a chorar e com a cara cheia de pó, Riham, criança síria de cinco anos, tentou evitar que a irmã bebé caísse de uma altura de cinco andares agarrando-a pela T-shirt. Não conseguiu e, ao longe, o pai, assistiu a tudo com horror. Foi um dos mais de 100 civis a morrer nos intensos bombardeamentos dos últimos dez dias que, segundo as Nações Unidas, têm como alvo a população civil.

A morte da criança no prédio bombardeado na tarde de quinta-feira expõe o drama dos civis apanhados no fogo cruzado em Idlib, província no nordeste da Síria devastada por oito anos de guerra e último bastião dos jihadistas que se opõem ao Presidente Bashar al-Assad.

“Quando cheguei ao local, o pai estava a tentar salvar as crianças, encurraladas nos escombros, a gritar e a chorar de dores”, explicou Bashar al-Sheikh, fotógrafo do site sírio SY24, à Al-Jazira. A história sublinha o drama dos civis que ainda se encontram em Idlib, quando os combates se intensificam de dia para dia.

Os aviões que bombardearam a casa de Riham são os mesmos que nos últimos dez dias têm bombardeado hospitais, escolas, mercados e padarias na síria, causando a morte a 103 civis, entre os quais 26 crianças, segundo as Nações Unidas.

Há semanas que a ofensiva das forças russas e sírias vive um impasse em Idlib e os intensos bombardeamentos aéreos, dizem responsáveis das Nações Unidas, fazem parte de uma estratégia intencional para obrigar os civis a fugir da província, para depois a bombardearem ainda mais intensamente e pressionarem as linhas rebeldes com forças terrestres – Moscovo já enviou para a linha da frente as suas forças especiais.

“[Os bombardeamentos] têm como alvos bairros e infra-estruturas civis para obrigar os rebeldes a renderem-se. Mas estes não se estão a render. De facto, o que estão a fazer é a dar ainda mais luta e a manter território”, disse a correspondente da Al-Jazira.

Porém, a vitória de Assad é vista como garantida. Os jihadistas têm conseguido manter e conquistar território para além de Idlib, como é o caso de algumas bolsas de resistência em Alepo e uma pequena parte da província de Hama, causando pesadas baixas às fileiras de Damasco. Os 20 mil a 50 mil combatentes que resistem em toda a Síria estão em desvantagem militar: apenas conseguem arrastar o conflito.

Mas enquanto o conflito prossegue, as mortes de civis vão aumentando. Desde o final de Abril morreram em Idlib mais de 400, entre eles 90 crianças, segundo as Nações Unidas. Por exemplo, 44 escolas já foram bombardeadas e nem quatro centros médicos escaparam aos caças. E mais de 300 mil pessoas, numa população de quase três milhões, já fugiram da província para zonas mais seguras na fronteira com a Turquia.

“A maioria das crianças morreu nas suas casas ou nas escolas, em lugares que deveriam ser seguros e que não o são, e nenhuma das partes do conflito está a proteger os seus civis”, explicou Joelle Bassoul, porta-voz da Save The Children no Médio Oriente e Europa Oriental, à agência EFE.

Uma realidade que, para a directora da Save The Children, Sonia Khush, é um “pesadelo”. “Está claro que uma vez mais as crianças morreram e foram feridas em ataques indiscriminados”, disse a responsável num comunicado publicado no site da organização que revela que esta semana morreram 66 pessoas e centenas ficaram feridas em Idlib.

Na terça-feira, o Departamento de Estado dos EUA acusou Moscovo e Damasco de terem civis como alvos: os ataques “estão a ter como alvo deliberado estruturas civis” e são um “acto de desespero” por a ofensiva não ter conseguido furar as linhas jihadistas.

Ainda que Assad conquiste a província, e controle já quase todo o território sírio, ainda há bolsas de resistência. No Norte do país, rebeldes sírios, apoiados pelos turcos, detêm a zona de fronteira com a Turquia e os curdos, aliados dos EUA, controlam uma bolsa de resistência a norte de Aleppo e governam uma parte do leste do país.

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