Gaia Acredita no empreendedorismo

A Acredita Portugal inaugurou um novo espaço, em Vila Nova de Gaia, para apoiar projectos de empreendedorismo tecnológico, social e para incubação de indústrias criativas.

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Fernando Fraga, head of Innovation da Acredita Portugal D.R.

Desde Abril que Gaia conta com um novo projecto da Acredita Portugal, a organização sem fins lucrativos cuja missão é apoiar projectos de empreendedorismo, independentemente da formação ou cultura dos candidatos. Contribuir para a igualdade de oportunidades e permitir que qualquer cidadão consiga implementar um projecto que gere valor é o principal objectivo da Acredita Portugal. E assim faz, há quase 11 anos. 

Foi em 2008 que Miguel Queimado, depois de passar por experiências profissionais no Reino Unido, na China e no Brasil, se apercebeu que mais do que uma crise económica, Portugal passava também por uma crise de confiança. Porque não criar o próprio emprego? Ser empreendedor é só para alguns? Não necessariamente. Foi assim que Miguel juntou um grupo de amigos com a mesma visão, dar apoio à criação de novas oportunidades, e nasceu a Acredita Portugal, para “permitir que qualquer português tenha uma verdadeira oportunidade para perseguir o seu sonho empreendedor”, como se pode ler no site da Associação.

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Inauguração do espaço Acredita Portugal em Gaia. D.R.

Na altura, “o empreendedorismo não era visto como uma forma alternativa de criar o próprio emprego”, recorda Fernando Fraga, actual head of innovation da Associação. “Não eram muitas as iniciativas e as que existiam sempre foram muito focadas na ‘próxima grande empresa’ e em áreas de actuação muito particulares, nunca foram coisas de massa, nunca foram para qualquer pessoa, com qualquer idade e independentemente da escolaridade. Nunca foi esta a perspectiva”, afirma.

Simbolicamente, para marcar o arranque do projecto e perceber as reais necessidades dos portugueses, Miguel Queimado fez uma maratona de norte a sul do país para ouvir as pessoas e perceber que projectos tinham, que sonhos guardavam, passando uma mensagem de optimismo. Depois de formalmente fundada, a Acredita Portugal lançou o primeiro concurso de empreendedorismo da sua história, contando com mais de 700 ideias. O crescimento nos anos seguintes foi brutal: quatro anos depois, o concurso teve 18.000 candidaturas.

11 anos, centenas de projectos apoiados

Fernando Fraga, Sara Bernardino e Filipe Cordeiro mudaram-se todos para norte e receberam-nos num dos dois espaços inaugurados em Abril, em Gaia. Sara Bernardino faz parte da equipa de Marketing e Comunicação e Filipe Cordeiro está à frente do departamento das startups. 

Questionado sobre em que acredita, afinal, a Acredita Portugal, Fernando Fraga não hesita: “Nós acreditamos nos empreendedores portugueses. Nós acreditamos que qualquer pessoa que tenha uma ideia de negócio deve ter pelo menos a oportunidade de conseguir perceber se ela é viável ou não e se faz ou não sentido avançar com ela. Não quer dizer que todos vão avançar nem quer dizer que todas as ideias são válidas ou que toda a gente tenha que ser empreendedor. Achamos é que toda a gente deve ter pelo menos a oportunidade de testar e perceber se faz ou não sentido.” Sara Bernardino esclarece: “E não quer dizer que toda a gente tenha que ter uma startup unicórnio ou mega tecnológica. Também podem ser ideias simples.”

O concurso de empreendedorismo da Acredita Portugal tem o apoio do Banco Montepio, patrocinador principal desde 2016. “O maior concurso de empreendedorismo do país” tem o apoio de outros parceiros, como a Brisa, a KCS IT Fundação PT, a Universidade Autónoma de Lisboa e a Águas de Gaia. É importante referir também que os projectos são submetidos através da Dreamshaper, uma plataforma pedagógica co-fundada por Miguel Queimado, que funciona como apoio passo-a-passo à definição de todas as etapas necessárias para o plano de negócios. 

O futuro passa pela Economia Social?

O novo espaço, criado com o apoio do Município de Gaia, servirá de apoio a iniciativas locais mas também aos empreendedores do norte do país. Neste novo pólo de incubação, a Acredita Portugal terá condições para apoiar 30 projectos ligados às indústrias criativas e a mais 45 nas áreas das novas tecnologias e economia social. Para Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal: “O ponto de partida da inovação é a inovação social, na qual Vila Nova de Gaia quer ser um exemplo”, atribuindo, assim, uma relevância significativa ao projecto. Vila Nova de Gaia tem sido apontada como o município que mais investe em economia social no nosso país. 

“Os projectos de Economia Social triplicaram ao longo dos últimos 3 anos. Este ano foram 2.050 candidaturas”, conta Sara Bernardino. Até há pouco tempo, dizia-se que o Empreendedorismo Social era só para associações, com um certo estigma de “subsídio-dependência.” 

“A Economia Social é a categoria que mais aumentou ao longo dos últimos anos. E é engraçado porque está em contraciclo: todas as outras candidaturas, o número geral de projectos de ‘empreendedorismo por necessidade’, está a diminuir. É normal, afastamo-nos da crise económica e as pessoas não têm tanta necessidade de mudar de vida forçadamente porque estão numa situação mais desesperada”, explica Fernando Fraga.

Filipe Cordeiro, considera que: “São muitos os projectos que não se candidataram à área de Economia Social mas que têm uma componente social, como é o caso de um dos finalistas deste ano, o iRcycle.” A marca apresentou alguns modelos de sapatilhas feitas a partir de plástico recolhido nas praias. Outro bom exemplo é o Micro Catch, outro projecto finalista da edição de 2019 e que propõe a aplicação de um filtro de microplásticos na máquina de lavar, evitando todo o percurso que, potencialmente, as partículas fariam até ao oceano, contaminando as espécies marinhas. Ambos os projectos, iRcycle e Micro Catch, apresentam soluções com impacto social - muito embora tenham objectivos comerciais em primeiro plano. O futuro do empreendedorismo passa por aí, e o Município de Gaia está especialmente receptivo a projectos que, independentemente de terem ou não como objectivo a obtenção de lucros, criem valor social, contribuindo para o desenvolvimento da comunidade.