Como é bom ter avós!

Não é demais exigir uma boa vida e não apenas uma vida longa. Almejemos por avós felizes, que gostam de viver e brincam com os netos. Todos ficamos a ganhar!

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Nikoline Arns/Unsplash

Ter avós dá-nos o conforto de que podemos ser duráveis, com a possibilidade de guardar memórias vivas na família e acreditar na projeção dum futuro distante. Chegar a velho é uma bênção para quem o consegue e para quem o rodeia. A experiência de vida é um valor seguro e, quem a tem, não pode ser considerado descartável.

O aumento da longevidade em Portugal é um bem. A nossa esperança média de vida, segundo dados da Pordata de 2017, é de 81,6 anos de idade, o que nos coloca como o quinto país da Europa com vida mais longa. Mas é preocupante saber que apenas temos 7,9 anos de vida saudável após os 65 anos, quando a média da Europa é de 9,6 e na Suécia de 15,4 anos.

A velhice é uma fase da vida que pode ser muito feliz e tranquila, desde que saibamos aceitá-la, descobrindo-lhe as vantagens de saber o real valor das coisas, em que a pressa raramente se justifica. É claro que há perdas, como a capacidade física e a resistência, mas conseguiremos ver alguns ganhos, se não dermos azo à melancolia do desejo da juventude perdida.

Quanto a mim, há dois males maiores associados à idade: a multimorbilidade e a solidão.

Com mais de 65 anos, a probabilidade de ser portador de uma doença crónica é muito grande. Nos muito idosos com mais de 80 anos, é comum padecerem de várias doenças crónicas, com necessidade de múltiplas terapêuticas. As demências, as doenças oncológicas, pulmonares ou cardíacas, e outras situações de insuficiência de órgão, aumentam a sua incidência com a idade e os avanços na medicina vão conseguindo preservar a vida, apesar das doenças assumirem graus de complexidade crescentes.

O espectro da solidão na velhice é um problema de sempre, mas com proporções descomunais nos nossos tempos. A idade avançada não dá garantia de bondade na juventude e muitos não criaram os laços de amizade que depois são tão necessários. Depois, as casas são pequenas e acanhadas, sem espaço para o avô. Todos andam com demasiada pressa, a perderem tempo nos transportes e sabe-se lá mais em quê. Grassa entre nós um egoísmo crescente, em que ninguém quer perder tempo com os outros, embora se entregue horas a fio ao lixo informático.

É muito importante ter uma vida longa, mas com qualidade e saúde! Os 40 anos do Serviço Nacional de Saúde trouxeram a diminuição da mortalidade infantil e o aumento da esperança de vida. Sejamos exigentes e não nos contentemos com essas vitórias. Não é demais exigir uma boa vida e não apenas uma vida longa. Almejemos por avós felizes, que gostam de viver e brincam com os netos. Mais ativos na sua casa e com o calor da família, a demência e a dependência chegam mais tarde. Todos ficamos a ganhar!

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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